
Moda e Saúde: É possível uma Produção Consciente e Sustentável?
Vamos falar um pouco de saúde e o mundo da moda, porque embora a indústria da moda, esteja frequentemente associada ao glamour e à sofisticação, esconde nos bastidores condições de saúde insalubres em diversas etapas da cadeia produtiva. Esses problemas afetam desde a sociedade, trabalhadores em fábricas têxteis até modelos que desfilam nas passarelas.
Esta semana, é lembrado o evento trágico ocorrido em 24 de abril de 2013, no edifício oito andares Rana Plaza, em Daca, capital de Bangladesh.
O local abrigava várias confecções das mais altas grifes, e desabou, causando a morte de 1.138 pessoas e deixando mais de 2.500 gravemente feridas. A maioria das pessoas que ocupavam o prédio, eram mulheres jovens, que produziam grandes marcas globais.
O governo de Bangladesh implementou reformas no Departamento de Inspeções de Fábricas e Estabelecimentos (DIFE), incluindo aumento no orçamento, elevação do status do departamento e contratação de mais funcionários. Essas medidas visaram fortalecer os mecanismos de planejamento e operação, resultando em um serviço de inspeção mais eficaz e responsável. Por trás da indústria têxtil, existem grandes e poderosos, que prezam mais os lucros a serem obtidos, do que os recursos a serem investidos.
Em abril de 2023, um incêndio devastador atingiu uma fábrica têxtil em Bangladesh, resultando na morte de pelo menos 9 pessoas e ferindo mais de 70. O incidente ocorreu em uma instalação de produção de roupas localizada na região industrial de Narayanganj, próxima à capital Daca. As chamas se espalharam rapidamente devido à presença de materiais inflamáveis e à falta de saídas de emergência adequadas, dificultando os esforços de resgate e evacuação.
Nesse mesmo ano, manifestantes exigiram justiça e prestaram homenagem às vítimas, lembrando a necessidade e a importância de melhorar as condições de trabalho na indústria têxtil de Bangladesh. Embora o governo tenha respondido aumentando o salário mínimo em 56%, para US$ 113 por mês, esse valor ainda está abaixo do salário mínimo necessário para tirar os trabalhadores da pobreza, estimado em US$ 210 mensais.
Com a globalização a partir dos anos 90, muitas marcas encontraram nos países asiáticos, uma forma de alavancar sua produção e lucros, através de uma produção com mão de obra barata (quem disse que a escravidão acabou no mundo, só mudou o tipo).
O fato é que países em desenvolvimento como Bangladesh, Índia, Vietnã e Camboja são polos de produção têxtil. Nessas regiões, os trabalhadores ficam expostos por longos períodos a produtos químicos, geralmente em instalações precárias. As jornadas são exaustivas chegando a 12 horas ou mais, calor extremo e superlotação. Não obstante, ocorrem diversos acidentes por falta de normas de segurança.
Da mesma forma, as condições na indústria têxtil da moda no Brasil enfrentam também condições de subemprego. Entre os fatores estão a informalidade, a contratação de imigrantes de outros países latino-americanos com baixa remuneração e falta de proteção social. As jornadas de trabalho, em muitos casos, são extenuantes e repetitivas. Acaba não sendo muito diferente.
Se considerarmos as passarelas para divulgação da moda e das marcas encontramos outros problemas. Entre as modelos, em função da pressão para manter um corpo extremamente magro, ocorrem transtornos alimentares como anorexia e bulimia. Além disso, há o lado emocional, em face de rejeições, comparações e bullying estético. Nas semanas de moda existe uma carga excessiva de trabalho, alguns países não têm regulamentação, muitas jovens, por vezes muito jovens, trabalham sem um contrato formal.
No que se refere ao meio ambiente, a cadeia pode começar na agricultura do algodão, com uma produção que necessita de uso de pesticidas em grande escala, que pode afetar a saúde dos trabalhadores. As regiões próximas aos polos industriais podem descartar resíduos tóxicos têxteis, que geram poluição dos rios, podendo afetar o abastecimento de água potável. O descarte incorreto de produtos químicos e queima de tecidos, podem causar prejuízos respiratórios.
O que observamos é um evidente contraste entre o que e como se produz e o glamour do que se vende.
As campanhas publicitárias promovem uma imagem de luxo, beleza e sucesso, sem mostrar de fato a realidade dos sacrifícios e das pessoas e do meio ambiente, associados a concepção e produção. Isso mostra um consumo baseado na estética e não na ética.
Nesta semana, que inclui o dia 24 de abril, acontece o evento global “Semana da Fashion Revolution”, com objetivo de conscientizar sobre a importância da moda sustentável e do consumo consciente. O evento realiza várias ações, e visa alertar sobre os impactos socioambientais da indústria da moda e promover mudanças de comportamento em consumidores e empresas.
A indústria têxtil sustentável está em constante crescimento, com empresas a adotarem práticas mais responsáveis e inovadoras para reduzir o seu impacto ambiental e social. A rastreabilidade, a transparência na cadeia de abastecimento e o uso de materiais reciclados e inovadores são cada vez mais comuns. No entanto, a produção de matérias-primas sustentáveis como o algodão orgânico ainda enfrenta desafios.
Para promover um consumo consciente da moda, a sociedade pode contribuir, adotando diversas práticas. Por exemplo, priorizar a durabilidade e a qualidade das peças, investir em marcas sustentáveis, optar por roupas de brechó, reparar e customizar roupas. Além disso, evitar o consumo desenfreado.
Caminhar para um futuro melhor sempre, abrir mais fronteiras com respeito e ética as práticas sustentáveis e condições de trabalho, promover práticas de maior saúde para os trabalhadores deveria ser o lema das instituições governamentais e das industriais. Este seria o ideal para o nosso futuro…
Ponderar entre o ter e o ser, nos leva a uma reflexão sobre a sedução do consumo e a nossa real necessidade:
“Não se pode escapar do consumo: faz parte do seu metabolismo! O problema não é consumir, é o desejo insaciável de continuar consumindo.” (Zygmunt Bauman)
Gostou do artigo?
Quer entender melhor sobre a importância da produção consciente e sustentável na indústria da moda? Como isso afeta a sua saúde, o meio ambiente e os direitos de milhares de pessoas? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar sobre isso!
Até lá!
Natalia Marques
Psicóloga, Coach, Mentora e Palestrante
http://www.nataliamantunes.com.br/
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