Dar a volta ao mundo sozinho em um veleiro é tarefa quase impossível para a maioria das pessoas, porém dar a volta ao mundo sem tocar em terra firme, sozinho em um veleiro, é um desafio para pouquíssimas pessoas.
O primeiro brasileiro a completar esta façanha foi André M. Homem de Mello que conseguiu este feito da forma mais difícil: Pelo Oceano Austral; uma rota mais próxima do Polo Sul. É uma área de navegação muito difícil por ser uma região sujeita a tempestades frequentes e ventos ao redor de 100 Km/h, sem contar a grande possibilidade de colisões com icebergs. O que para um velejador solitário significa períodos de sono muito curtos.
Em seu livro Diário de Bordo, André M. Homem de Mello narra os problemas ocorridos durante a viagem: As ondas, as grandes tempestades, os ventos e principalmente o medo.
Manobrar sozinho um pequeno veleiro em uma região com ondas maiores que edifícios de 3 andares não é uma tarefa confortável, mas certamente é muito desafiadora.
O livro prende a nossa atenção, pois André parece colocar o leitor dentro do “Déjà vu”, o seu barco. Ao sentir-me na cabine do veleiro várias dúvidas vieram à minha cabeça: Muita irresponsabilidade na escolha desta rota ou foi fruto de uma firme confiança no planejamento feito? Foi uma aventura ou um desafio bem planejado? Quanto tempo de planejamento e preparo para ficar mais de um ano no mar, em condições adversas, com tempestades quase todos os dias?
Em vários encontros com o autor, fiz estas perguntas pessoalmente e concluí que o sucesso desta quase impossível empreitada deveu-se a um planejamento meticuloso e ao programa de preparação estabelecido, que contemplou desde um curso de primeiros socorros até cursos de mecânico diesel, passando por treinamentos em eletricidade e odontologia emergencial.
Em um dos encontros, fizemos a comparação do planejamento feito para a viagem em solitário naquelas condições com os problemas encontrados pelas organizações no desenvolvimento de suas atividades em tempos difíceis. Criamos até um workshop que apresentamos com bastante sucesso.
Uma das grandes lições que tiramos dessa façanha foi da necessidade do planejamento a longo, médio e curto prazo, juntamente com o estabelecimento de planos estratégicos e levantamento de todos os riscos possíveis. Analisamos também a obrigatoriedade de capacitação de todos os envolvidos nas atividades e a perfeita integração de toda a equipe.
Grande parte do sucesso das organizações está na qualidade da preparação e capacitação da equipe, calcada em um planejamento estratégico consistente.
André M. Homem de Mello tinha o seu pessoal de suporte em terra, que lhe motivava e passava dados meteorológicos. A integração dele com a equipe exigia eficiência, pois a comunicação esporádica via telefonia por satélite ou rádio num ambiente inóspito não permitia o alongamento dos comunicados que deveriam ser rápidos, ter assertividade e objetividade.
Em períodos de turbulências o pessoal envolvido em uma empreitada não pode ser constituído de amadores com boa vontade, mas sim de profissionais eficientes e conhecedores das metas e estratégias estabelecidas, o que requer treinamento constante, gerenciamento eficiente e comprometimento de todos.
Hoje encontramos departamentos e até mesmo empresas que deixam para as circunstancias do dia as atitudes a serem tomadas, sem nenhum planejamento estratégico ou operacional o que é sinal de fracasso eminente, sem contar a falta de preparo de seu pessoal para trabalhar em equipe ou sob condições adversas.
O mercado exige ações planejadas, com pessoal capacitado e comprometido com as normas traçadas pela empresa.
Quanto maior o tempo despendido no planejamento e na análise de riscos, calcados em uma sólida capacitação da equipe, tanto maior será a garantia de sucesso em toda e qualquer empreitada.
Participe da Conversa