Hoje vamos concluir o texto iniciado na semana passada, em que o tema central foi Investigação Apreciativa. Aliás, o assunto é tão interessante e vasto que, com certeza, teremos novas oportunidades de avançar com futuros conceitos e casos. Mas a proposta de agora é mostrar como essa ferramenta foi adotada para a prática do Coaching e de que forma funciona a sua estrutura básica.
O artigo anterior começou criando um cenário provocativo, estimulando que algum Coach poderia ser convocado pela Confederação Brasileira de Futebol para o apoio profissional orientado à escolha do novo técnico da seleção brasileira. Aparentemente, nessa minha conspiração entre ficção e realidade, o trabalho foi rápido e já contribuiu para a volta do Dunga. Então, que pelo menos a complementação do texto possa ajudar todos os demais Coaches a serem bem-sucedidos em seus futuros projetos.
Só para lembrar, a abordagem chamada de Investigação Apreciativa (AI – Appreciative Inquiry) não se volta à típica análise de problemas, mas sim aos valores e recursos positivos que podem ser adotados. Não se busca entender causas de problemas, mas sim construir o olhar daquilo que “poderá ser o melhor”. Não se busca relacionar alternativas de solução, mas sim qual o caminho inovador que faz sentido para o sucesso. Não se busca desenhar plano de ação a partir de alguma solução escolhida, mas sim incorporar as imagens de futuro que motivam e promovem as relações positivas que possam desenvolver o potencial presente.
Se esse é o princípio central, como funciona na prática? Como aplicar a Investigação Apreciativa?
Tudo começa com a postura diante do desafio. A Investigação Apreciativa remete a uma maneira de ser e de ver. É ao mesmo tempo visão de mundo e processo para facilitar a mudança positiva nos sistemas humanos, sejam eles organizações, grupos de pessoas com interesses comuns ou comunidades. Assume-se que cada sistema humano tem algo que funciona bem e tudo começa na identificação desse núcleo positivo, a partir do que se pode criar a conexão com uma tríade formada por nova energia, visão ampliada e inspiração para a mudança.
Uma forma ilustrativa de entender essa abordagem é dada pelo gráfico acima. A sequência de passos na Investigação Apreciativa é a seguinte:
Definição: O foco está em determinar o que queremos e o que se pode fazer para alcançar o objetivo, tendo como base a identificação de quando (e/ou onde) tivemos mais momentos do que chamamos de sucesso. Ao invés de se identificar a lacuna ou o problema central (o que queremos menos), daremos início com o que queremos mais.
1ª Descoberta: Vamos identificar os pontos fortes da pessoa, equipe ou organização a partir do relato de histórias marcantes. Quando funcionamos na nossa melhor condição? Ao desenvolver questões positivas é essencial estar atento à linguagem utilizada e às respostas, pois o processo mental deve fugir de analisar problemas ou dificuldades.
2ª Descoberta: Aqui não vamos escolher as melhores histórias, mas sim queremos identificar quais são elementos comuns aos momentos de maior sucesso e realização. A força que deu vida ao seu passado é algo que claramente poderá contribuir para voos mais altos e novas experiências exitosas.
O sonho: Esta etapa é fundamental, pois quer levar você a um futuro em que os pontos altos identificados apoiem a realidade cotidiana. A Investigação Apreciativa requer um exercício sério e dedicado para se projetar a visão do futuro, ou seja, criar a imagem visual que ajuda a sugerir possibilidades reais de caminho a perseguir (que representam possibilidades desejadas pelo indivíduo, equipe ou empresa). A fase do sonho, ao invés da declaração típica de missão, muitas vezes acaba resultando em algo mais simbólico ou metafórico, como uma representação gráfica.
O Projeto de sua vida: Com o sonho identificado, qual a sua proposta concreta para chegar a esse novo estágio ou posição? O mentor da Investigação Apreciativa, David Cooperrider, chamou este passo de “proposições provocativas”, em que o uso de prototipagem rápida é cada vez mais comum. A etapa exige inovação e reorganização na forma de criar o futuro pretendido, continuamente tendo em vista construir competência em Investigação Apreciativa como filosofia de pensar e, principalmente, de se comunicar com os públicos de interesse (pessoais ou corporativos).
Daí então, o salto desse processo para a criação do Coaching Apreciativo foi rápido. Especificamente na questão das organizações, uma premissa é a de não desperdiçar esforços para corrigir os problemas, limitações ou dificuldades na área de liderança, mudando o foco para a geração de resultados desejados. Isso significa explorar os pontos fortes existentes e, muitas vezes, relegados no cotidiano. A postura exigida do Coach, neste caso, é o de voltar-se para aquilo que é relevante ao negócio do cliente, tendo por objetivo fundamental os resultados que importam e que são sustentáveis.
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