Muitos dos leitores deste espaço são profissionais de áreas afins ao treinamento e capacitação de pessoas, tanto na esfera pessoal como na corporativa. E o que terá de especial lembrar de Rubem Alves e do seu pensamento como educador, quando o Brasil tem outros educadores tão ou mais famosos como Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira ou Paulo Freire? O que isso tem a ver com o Coaching?
Para respondermos a essas duas perguntas, quero fazer referência a uma entrevista que Rubem Alves deu à Revista Nova Escola (edição de maio de 2002), quando usou a expressão “nosso sistema de educação dá a faca e o queijo, mas não desperta a fome nas crianças”. Essa metáfora servia para apontar a necessidade de o jovem partir da experiência individual, do sentimento experimentado, da vontade de comer, para uma nova experiência, para um novo olhar, para outras possibilidades de ser.
E o educador se perguntava então: “estamos formando educadores com competência para lidar com situações não previstas”? Para ele, conhecer ementas e grades curriculares é fácil; complicado é conhecer a vida. Um exemplo é o caso de quem leciona Matemática dizer que sua cabeça só sabe pensar números, dando assim a declaração de incompetência humana para viver. Depois, Rubem Alves afirmava que a ciência não se faz dentro de um quartinho; mas sim em todas as situações da vida, com cérebro e olho. Um monte de instrumentos e frascos tem a função de melhorar o olho, mais nada! É preciso que o aprendizado esteja ligado às situações vividas, do contrário tudo é esquecido.
Na visão do educador, muitos pais querem que os filhos passem no vestibular porque, segundo generalizada crença, receberão um diploma ao se formarem e assim terão garantida a sobrevivência econômica futura. Só que a luta pela colocação profissional nem será fácil e nem o diploma dá a garantia de um trabalho digno. Rubem Alves citava Nietzsche, para quem todos nós temos desejo de poder e isso não significa querer ser general ou presidente da República. A questão do poder está ligada a conquistar habilidades para controlar a vida e, quanto mais se domina esse poder, mais e melhor se conseguirá viver. Essa perspectiva cria uma fonte de alegria no ser humano, mas é preciso desejar fazer algo pois, se for apenas por obrigação, não haverá prazer e nem a aplicação adequada.
Quando o repórter da Revista Nova Escola perguntou ao educador como deve ser “a boa aula”, uma resposta objetiva ficou registrada: “Antes de mais nada é preciso seduzir. Eu posso iniciar uma aula mostrando a casca vazia de um caramujo. Normalmente ninguém presta atenção nela, mas é um assombro de engenharia. A função é a de fazer com que os alunos notem isso. Os gregos diziam que o pensamento começa quando a gente fica meio abobalhado diante de um objeto. Eles tinham até uma palavra para isso – thaumazein”, sentimento que nos conduz e nos obriga a tomar uma postura acerca de nossas crenças e convicções”.
Uma metáfora conhecida do educador Rubem Alves é a de que há pessoas que prestam mais atenção ao prato lascado do que no alimento que estão comendo. A grande preocupação de quem educa deve ser o aluno, não a disciplina. E o bom educador deve estar atento não às palavras, mas ao movimento do pensamento do jovem. O educador é parte de uma tarefa capaz de encantar crianças e adolescentes, o que é bem diferente de simplesmente dar uma aula ou ensinar.
Se ministrar aula é dar alguma coisa e ensinar é mais fascinante, bem cabe aqui adaptar ao processo de Coaching pois, afinal, o que se busca é exatamente “formar consciência e capacidade própria de reflexão”. Como podemos perceber, Rubem Alves tinha a verdadeira alma de um competente Coach, pois para ele o princípio da vida está em ajudar a esclarecer os enigmas com que nos defrontamos, sempre curiosos para entender a geometria de um ovo ou como a aranha tece a sua teia. Interessados em descobrir, por nós mesmos, como são e de que forma podemos caminhar com “as coisas da vida”.
Participe da Conversa