A palestra “O poder da verdade” será dada pela renomada Yaël Farber, uma das artistas mais importantes no cenário mundial e premiada diretora de obras teatrais controversas e de alto padrão artístico. Por exemplo, a peça Miss Julie ganhou vários prêmios internacionais e foi apontada como Top Ten, pelo The New York Times, e Top 5, pelo The Guardian, em 2012. Yaël é autora de textos que exploram o poder de mostrar “a verdade” em sociedades modernas, principalmente aquelas em que valores antigos passam por mudanças (caso da África do Sul, por exemplo). A palestra deverá mostrar como lideranças constroem organizações sólidas ao estimularem “verdade” como resultante do poder.
O tema é bem atual e fica minha sugestão para que os leitores explorem o assunto, principalmente aqueles profissionais envolvidos com a capacitação de talentos em suas empresas. Um dos mais importantes filósofos do século XX, Michel Foucault (1926-1984), trabalhou a temática, incluindo como essa relação Poder-Verdade é de fundamental importância na construção do conhecimento. Para ele, é o poder que tem a capacidade de construir a “verdade”, não o contrário.
Simplificando essa linha de pensamento de Foucault, que nos interessa explorar para o ambiente organizacional, no mundo em que se vivia no passado, a “verdade” e o conhecimento eram dados pelas figuras religiosas e políticas. Muitos já leram ou viram em filmes que, como justificativa para fazer valer determinada “verdade”, a expressão poderia ser “isso sempre foi assim”, ou então, “é como os Deuses querem que seja”. Nos tempos mais presentes, quanto mais educada e preparada for uma coletividade (social ou mesmo parte de uma organização), as lideranças não conseguem mais se estabelecer apenas pelo poder circunstancialmente delegado, mas devem exercer esse poder para que a “verdade” e o conhecimento sejam disponíveis e acessíveis a todos.
Ao escrever isso, não se assume ser esse um assunto totalmente novo, pois o poder é algo que gera lutas e conflitos desde o mais remoto dos tempos. O interesse é trazer a construção da “verdade” e do conhecimento como possibilidade para uma liderança aprender no exercício do poder. E todos juntos na equipe construírem os caminhos desejados para a coletividade. O paradigma atual é de que a legitimidade do poder está na competência de fazer aflorar “verdade”, levando a coletividade à ação.
Nas organizações modernas, cada vez fica mais difícil o poder ser exercido com base na submissão, intimidação ou assédio. Hoje, para exercer esse poder, o líder deve entender o significado do que cada pessoa ao seu lado está construindo como ser humano, deve inferir quais as intenções e desejos que essa pessoa carrega, precisa entender que cada indivíduo reagirá de acordo com a forma como o poder estiver sendo exercido e, mais do que isso, deve ter a capacidade de fazer o poder circular através de delegação e processos participativos. De forma simplória, essa é uma receita que leva o grupo a melhores e mais consistentes resultados, inclusive ao saber superar dificuldades também em conjunto.
Autores modernos têm se inspirado em filósofos antigos para tratar de poder e “verdade” (entre aspas, pois se questiona a existência da verdade única e universal), bem como da geração de conhecimento. Pois então, que o poder seja exercido de forma a construir a “verdade” aceita pelo grupo e que, eticamente, esteja em plena harmonia com valores sociais praticados pela sociedade, como um todo.
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