“Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.”
(Thomas Fuller)
Um dia você depara com a logomarca da empresa em que trabalha estampada numa página de revista, numa folha de jornal ou num outdoor. E seu rosto ganha contornos de um breve sorriso.
Passando em frente à companhia, você admira a imponência das instalações. A grade que delimita sua divisa, as amplas janelas envidraçadas, o uniforme do segurança que guarda a entrada.
Caminhando pelos corredores, você cruza com seus colegas, cumprimentando-os efusivamente. O cafezinho servido na copa tem aroma e sabor agradáveis. Você avista sua área de trabalho, contemplando desde o grampeador até o monitor que descansa sobre a mesa, passando pela cadeira com rodízios.
Todas estas imagens o remetem a bons momentos e a uma sensação de orgulho e prazer. Mas também de tristeza, porque você não mais trabalha lá…
Numa manhã ensolarada de domingo, você resolve organizar seus pertences. Malas, bolsas e armários são o alvo principal. Entre o abrir e fechar de gavetas, o remexer em caixas e envelopes amarelados pela ação do tempo, você encontra cartas e fotos da pessoa amada. Você relê estas cartas, observa as fotos e um filme de sua vida passa diante de seus olhos. Tomado pela emoção, seus olhos podem marejar.
Como se não bastasse, você pode ouvir uma canção. Música ao longe que não passa de mais uma composição entre tantas outras para a maioria das pessoas, mas que para você representa a ancoragem de um momento único, especial. Pode simbolizar o primeiro beijo, a primeira declaração de amor, a primeira noite juntos.
Todos estes objetos e sons fazem você viajar para dentro de si e sentir a graça da alegria e da felicidade. Uma sensação que somente o amor pleno pode nos proporcionar. Porém, emoções vividas outrora, porque você não mais está ao lado daquela pessoa amada.
Temos o hábito de praticar o que se poderia definir como “elogio à ingratidão”. Lutamos com tenacidade para alcançar nossas metas. Aceitamos privações, enfrentamos discórdias, declinamos de nossas mais fortes convicções, tudo para satisfazer a um desejo.
Agimos assim, seja para adentrar uma organização, seja para conquistar um coração. E vibramos muito com nosso êxito. No início, a empresa em que trabalhamos é a melhor dentre todas as demais. O ambiente é o mais favorável, as atividades são as mais adequadas, as oportunidades são as mais promissoras.
Analogamente, os amores que principiam são perfeitos. A atração é permanente e acolhedora, o diálogo é constante e engrandecedor.
Porém, a rotina fermenta o açúcar das relações. E transforma iniciativa em apatia, companheirismo em desprezo, generosidade em mesquinhez. Tanto fazemos que conseguimos o objetivo oposto ao que antes nos movia. Perdemos o emprego. Somos deixados pela pessoa amada.
Henri Becque dizia: “A liberdade e a saúde se assemelham: o verdadeiro valor só é dado quando as perdemos”. Acredito que este princípio seja ainda mais amplo…
Por isso, quero fazer-lhe um convite para praticar um novo tipo de exercício. Eu o chamo de “exercício da perda”. Trata-se de uma ginástica mental através da qual você passa a vislumbrar cenários, como quem estivesse numa partida de xadrez, imaginando o impacto de seus próximos movimentos em decorrência de suas escolhas, de suas decisões pessoais.
Não pretendo, com isso, incentivar a manutenção de relações medíocres. Há empresas nas quais não cabemos mais. Tornam-se pequenas para nossos propósitos, pé direito baixo fazendo-nos bater com a cabeça no teto. Há amores que se esgotam. Tornam-se protocolares, habituais, dispensáveis. Em ambos os casos, o melhor é um resoluto adeus.
Mas não se permita concluir deliberadamente que o fim chegou apenas porque o estímulo e o entusiasmo do início foram ofuscados pelas adversidades. Lembre-se sempre de que uma alegria destrói cem tristezas e de que a gratidão assegura a felicidade.
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