Estava sentado na sala dos professores digitanto um texto aos alunos que assistiriam a uma aula comigo na próxima semana. Costumo ficar concentrado e acabo por ouvir o silêncio mesmo com barulho ao redor. Era final de tarde, início da noite; entrara naquele ambiente uma garota que trabalha na secretaria de atendimento aos alunos. Ela foi ao encontro de dois professores e disse que havia um aluno com dúvida sobre uma determinada disciplina. Era sabido que um deles conhecia o conteúdo pedido e que poderia atender espontaneamente ao aluno sem maiores entraves.
Pois bem, foi então que o meu silêncio foi interrompido pelo seguinte argumento: “Eu não vou atendê-lo porque não estou no meu horário de trabalho, diga a ele voltar depois”. Parei o que estava fazendo e procurei olhar a esta pessoa – não mais um colega professor para mim – para entender as razões pelas quais ele não se permitira ir ao encontro do aluno. Não encontrei as respostas. Não consegui a interação.
Voltei ao que estava fazendo e confesso que tive vontade de ir ao encontro do aluno. Contudo, aguardei um pouco mais e pude presenciar uma cena que enriqueceu a minha tarde. Este aluno teve uma presença de espirito fantástica. Ele permitiu que a sua criança viesse com o seguinte toque de ironia: o dito professor que não o atendendera ganhou um chocolate ao leite – este entregue pela mesma garota da secretaria – com um bilhete que dizia: “Caro professor, eu e meus amigos queremos que aproveite este pequeno presente para adoçar a sua vida”.
Acredito que o professor adulto-adulto não atendeu até o momento o que ocorreu. Deixou o bilhete jogado sobre a mesa junto ao chocolate. O aluno adulto-criança certamente está sorrindo e satisfeito por enviar um recado com sua: espontaneidade, verdade e crueldade.
Você conhece o seu adulto-criança e o seu adulto-adulto?
Concordo que não é possível permanecer nos extremos. Como combiná-los?
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