Certa ocasião eu estive em Lisboa para uma palestra e, antes da minha apresentação, o presidente da Cisco Portugal fez uma provocação interessante: “Se você estiver em uma reunião com quatro pessoas e elas concordarem com você todo o tempo, isso é sinal de que dois integrantes estão sobrando”. Você já pensou sob essa perspectiva? Já refletiu sobre o poder das diferenças de personalidades em uma equipe de trabalho? Como se a primeira afirmação já não bastasse, outra questão foi ainda mais impactante: “Você tem que contratar profissionais que pensam diferente de você e até pessoas que, sem nenhum motivo, o incomoda e o irrita”.
As “provocações” do presidente da Cisco são extremamente importantes para que possamos rever paradigmas, ampliar horizontes e analisar de forma muito mais apurada o nosso próprio Universo. Imagino que os profissionais de RH devem ficar de orelhas em pé com essas proposições. E não é para menos, já que são os responsáveis por selecionar pessoas qualificadas para cargos específicos, administrar e monitorar comportamentos e procedimentos internos, prover incentivos, alinhar seus colaboradores, além de promover treinamentos e tantas outras responsabilidades. O diferente assusta. Personalidades diferentes em uma equipe, para alguns, assusta ainda mais. Por isso, eu escrevi um livro com o título “Obrigado Equipe” no qual enfatizo a importância de valorizarmos as diferenças. Mas, com os comentários do presidente eu aprendi que nós podemos (e até devemos) “provocar” que o diferente esteja em nossas equipes de trabalho. Nós não precisamos apenas descobrir e administrar as diferenças, temos que investir nelas. É importante que profissionais “do contra” estejam sempre presentes para uma sugestão diferente, mesmo que isso gere irritação e desconforto na equipe.
Eu mesma tenho um profissional na minha equipe que discorda de tudo! Quando penso que discutimos todas as possibilidades ele surge com um contra e, às vezes, cria um clima hostil para ele mesmo. Em geral, a minha equipe funciona de uma maneira bastante harmônica. Tenho profissionais de diferentes perfis e observo que predomina entre nós uma posição de continuidade e não de concordância. Supondo que uma invente de fazer feijão, a outra já se prontifica para buscar a melhor marca, a outra vai providenciar a panela de pressão, a outra sugere que sejam acrescentadas costelinhas de porco, mas, nessa euforia uma defende que está vegetariana, então, logo surge a ideia de fazer couve e arroz integral e que seja cozida a costela à parte. Quando tudo já está decidido e as responsabilidades bem distribuídas, surge o único homem que, até então, parecia alheio a todas as considerações e pergunta: por que não fazemos um bacalhau? Aí eu penso: “mas bacalhau não combina com feijão, o que esse cara está falando?”
Numa situação dessa temos apenas duas alternativas: não levar em consideração a sugestão dessa pessoa, já que tudo já estava bem alinhavado e satisfazendo o interesse de todos ou questionar o porquê de uma ideia aparentemente tão fora de propósito e consenso. Perguntar e refletir sobre novas possibilidades são sempre as melhores saídas e nessas condições o melhor é questionar: mas por que só agora você sugere bacalhau? Qual é o sentido e a vantagem dessa nova ideia? O que você está vendo que não conseguimos enxergar? Observo que muitos profissionais têm dificuldade para exercitar a diversidade e passam a encarar o diferente como um elemento provocador, um obstáculo e não como uma oportunidade de abertura para novos horizontes e perspectivas.
A pessoa “do contra” tem que ser muito corajosa para contrariar a opinião da maioria e, um profissional de RH, nessas circunstâncias precisa encontrar o ponto positivo, mesmo que isso gere irritação e sua vontade seja a de mandar que o contra cale a boca. Mas, o que existe de importante em circunstâncias assim é a quebra de estado, a qual faz com que todos os membros de uma equipe revejam rapidamente suas relevâncias e desafie sua consistência. Apesar de aparentemente difícil, esse exercício nos leva a resultados interessantes e inovadores. E, invariavelmente surge o pensamento: por que ele não se posicionou antes?
Aí está outra questão importante! O “contra” da minha equipe é diferente, pensa diferente e precisa de um tempo diferente para analisar e se posicionar. Mas, ele nunca fala por falar e, por isso, damos crédito, paramos para ouvi-lo e aproveitamos para respirar. Hoje, em uma equipe de trabalho é importante levar em consideração que as pessoas são diferentes por questões de geração, educação, cultura, personalidade, experiências, etc. Independentemente dos motivos, quanto mais exercitamos o autoconhecimento mais aprendemos a respeitar, a aceitar as diferenças e a fazermos o mesmo com os outros.
É importante ressaltar que uma equipe com ideias heterogêneas é mais difícil de coordenar, porém, muito mais produtiva se soubermos legitimar cada membro como um legítimo outro. Se por um lado uma equipe homogênea pode ser rápida, harmoniosa e tranquila, também corre o sério risco de ser pouco inovadora, pouco ousada e pouco produtiva. Neste contexto é importante não confundir diferenças pessoais com simpatia ou antipatia. Temos a forte tendência de gostar dos semelhantes e rejeitar os diferentes e, por isso, é importante ficarmos atentos porque escolher um comportamento em detrimento do outro pode gerar perdas, entre elas, a perda da oportunidade de se conhecer e se desenvolver como ser humano. Contratar quem você não gosta pode parecer uma afirmação sem propósito, mas certamente é uma grande oportunidade para alargar a visão e os negócios. No livro “Obrigado, equipe” eu pontuo muito bem a importância das diferenças em uma equipe e, se você analisar com cuidado essa questão, chegará à conclusão que pensamentos e atitudes iguais conduzem para os mesmos caminhos, porém, pensamentos e atitudes divergentes abrem os leques das oportunidades. Reflita sobre isso!
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