Na vida da maioria dos adolescentes – e eu me incluo aqui – o vestibular acaba sendo a primeira grande barreira a ser superada. Principalmente para os vestibulandos que almejam um curso em uma faculdade federal, a preparação deve ser contínua e intensa. Em fato, em algumas escolas, todo o Ensino Médio é voltado APENAS para se passar no vestibular.
É difícil discordar que grande parte do conteúdo passado em sala de aula não nos ajude na criatividade ou mesmo seja aprazível. Sendo sincero, o currículo cobrado pelos vestibulares é extremamente academicista e, para a grande maioria dos vestibulandos, não possuirá utilidade prática alguma. O aluno dedicado, muitas vezes, pode acabar alienado do mundo ao seu redor e, pior ainda, sem nenhuma criatividade (quem não conhece aquele cara com notas altíssimas e que não sabe se comunicar?)
Mudanças nesse triste cenário da ingressão no ensino superior são possíveis, mas no momento, talvez seja mais sensato, ao invés de reclamar, tentar se adaptar à situação: isto é, não deixar o vestibular consumir nosso caráter intelectual ou mesmo nossas outras virtudes. Para isso, faz-se necessário repensar o modo que lidamos com dois fatores: os hobbies e como relaxamos.
Começando pelo primeiro, entendo como ”hobbie” aquilo realizado de forma paralela ao ”trabalho”. O trabalho, penso eu, é comumente focado no futuro e não necessariamente nos dá prazer no presente. É o dever. É o vestibular. O hobbie, por outro lado, tem a grande característica de nos permitir, de forma imediata, o jubilo e a alegria. É o jogar futebol com os colegas. É o se reunir com amigos e passar a noite no videogame. É a escrita. É a natação. É aquilo que, simultaneamente e indissociadamente ao cansaço, dá-nos alegria.
Além da óbvia virtude disto tudo, há outros dois atributos muito positivos no hobbie:
- Ele é o nosso combustível diário. Empurradas pela alegria concedida por sua prática, podemos vislumbrar nossos objetivos futuros e continuar a persegui-los, por mais ingratos que pareçam. São os pequenos prazeres cotidianos, e não a grande alegria da conquista longínqua, que nos impulsionam;
- Ele nos diversifica. Cultivando um hobbie, faz-se possível, para além do conhecimento específico do vestibular, angariar visões distintas, mais cotidianas e prática sobre o mundo. Saber falar sobre esporte, videogame e música não é inútil: longe disso, permite-lhe mais interações sociais, que são essenciais para a boa vida.
O vestibulando, sempre confrontado com a possibilidade do fracasso, deve, ao contrário de abandonar seus hobbies em prol do estudo, intensificá-los. Ao realizar isto, ele consegue o foco e a motivação necessários para aproveitar de forma mais produtiva seu tempo de preparação para as provas no final do ano, além de não se tornar limitado em suas referências e, por conseguinte, uma pessoa chata de se conversar.
Prosseguindo para o relaxar, a sua definição é mais intuitiva – um foco passivo em nossas atividades – embora, atualmente, quase ninguém saiba como fazê-lo. Você dúvida? Tudo bem, vamos a um exemplo: um exemplo inequívoco de relaxamento é a divagação da mente. Qual a última vez que você esteve sozinho com seus pensamentos, permitindo-se livres associações e reflexões? Não se lembra, né? Sempre havia um celular do lado, com certeza.
Vivendo-se sem um verdadeiro relaxamento, acaba-se por não se colher seu principal benefício, este que é complementar aos do hobbie.
O aumento da criatividade. Você já parou para pensar por que suas boas ideias vêm durante o banho? É porque você está relaxado, cara! Sem desafogar a mente, nossa psique não consegue obter novos insights e, assim, tornamo-nos estéreis criativamente. Só repetimos, nunca pensamos.
Visando relaxar, talvez seja sensato se afastar, durante algumas horas, das contínuas informações dadas pela tecnologia digital e investir mais tempo em situações como caminhadas ao ar livre e conversas despropositadas com bons amigos.
Para além de qualquer prova, ser uma pessoa criativa é essencial para qualquer profissão e mesmo para toda a vida. O vestibulando que se afasta dela em prol do foco acadêmico está, sem dúvida, sepultando mais de uma centena de oportunidades e dificultando a própria felicidade.
Sendo assim, vemos que se dedicar integralmente a passar na faculdade é, sob o sistema atual, extremamente nocivo para o indivíduo. Cultivando as dicas aqui dadas, talvez nós consigamos, além de passar no vestibular, ter uma vida mais saudável e agradável.
Afinal, o vestibular é APENAS a primeira barreira a ser superada. Não é a única e nem a mais importante.
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