“Transportai um punhado de terra todos os dias
e farás uma montanha.”
(Confúcio)
Muitas foram as profissões que desejei exercer. Do sonho pueril de me tornar jogador de futebol à pretensão de, como astrônomo, colocar a cabeça onde não raro ela costumava estar, ou seja, no mundo da lua.
Acabei por seguir caminhos mais triviais, estudando Economia e Comunicação Social. Mas um recôndito desejo recorrentemente me abraça: o de ser um cientista, daqueles estereotipados com avental branco, trancafiado em um laboratório, cercado não por tubos de ensaio, mas por computadores e máquinas de aceleração de partículas de toda espécie.
Explico-me. Quando contabilizo ao final do dia o tempo desperdiçado com deslocamento, seja no trânsito, ônibus ou metrô, fico imaginando a revolução que seria para a humanidade a viabilização do teletransporte quântico, tal como preconizado por George Langelaan e reproduzido no filme “A Mosca”, refilmado em 1986 pelo cineasta canadense David Cronemberg.
Então, percebo que minha busca é pelo tempo – sua otimização, seu melhor aproveitamento.
Queremos o tempo por inteiro, utilizado ao limite. E nos tornamos ansiosos. Passamos a incentivar a cultura do “fast”. O fast food das refeições, o fast track das decisões, o fast love dos relacionamentos.
Esta ansiedade se manifesta em nossas ações cotidianas. Tornamo-nos impacientes, queremos resultados imediatos. Praticamos duas horas de exercícios físicos e pretendemos estar em forma logo em seguida. E para toda a vida. Começamos a ler um livro e já gostaríamos de saber qual o seu desfecho. Elaboramos uma proposta comercial e desejamos que o cliente nos responda com brevidade. E de forma positiva.
Nesta toada, migramos para a angústia, convidando inconscientemente a frustração, a tristeza e a melancolia a nos visitar. Iniciativas admiráveis perdem-se por falta de empenho. Começamos, mas não terminamos. Falta-nos a acabativa.
Aprendendo também com as mulheres
Bebês nada sabem sobre ansiedade e angústia. Ainda não tiveram a oportunidade de aprender estes conceitos, perdendo parcialmente sua autenticidade. Hedonistas por natureza, vivem o momento presente. Quando descobrem que é possível equilibrar-se apenas com as pernas, enxergando o mundo sob outra perspectiva, alcançando objetos antes inatingíveis pelo engatinhar, colocam-se com teimosia a praticar. Insistem, persistem, não desistem. Entre uma queda e outra, a obstinação pelo objetivo traçado. E a certeza da meta a ser cumprida: andar.
Passos de bebê. Está é a lição que devemos aprender. Com eles e com suas mães. Porque as mulheres sabem como dosar a ponderação. Talvez os nove meses de espera as tenham ensinado a virtude da paciência. Talvez as dores do parto as tenham ensinado o poder da resignação. Talvez a responsabilidade da amamentação na calada da noite as tenha ensinado o significado da tolerância.
Os relacionamentos mais estáveis e os sentimentos mais verdadeiros são cultivados e conquistados. São como uma semente que necessita de água para florescer e frutificar. Assim são o respeito, a admiração e a confiança.
Passos de bebê para cuidar da saúde e paulatinamente reduzir o fumo, melhorar a alimentação e praticar atividades físicas.
Passos de bebê para o autodesenvolvimento, aprendendo uma nova palavra em um novo idioma a cada dia, lendo um capítulo de um livro a cada noite, instruindo-se para instruir. Como diria Sêneca: “Goste de aprender porque lhe capacitará a ensinar”.
Passos de bebê na vida profissional, executando as tarefas rotineiras, mas implementando gradualmente novos projetos, compartilhando decisões, promovendo pequenas mudanças reais que contemplem um planejamento maior e de longo prazo.
Passos de bebê para a vida pessoal e espiritual, porque o amor e a fé são ainda mais apreciáveis quando desenvolvidos em vez de apenas impostos, quando construídos em vez de meramente herdados e quando sentidos em vez de simplesmente compreendidos.
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