Para o caso de você ter feito dezesseis anos no ano passado, a Eleição de 2014 foi sua primeira oportunidade de voto. Além de exercício de cidadania e democracia, foi o momento em que sua crença política deixou de ser meramente privada. Agora, moço, as consequências do seu pensamento não afetam apenas sua vida, mas a de toda a comunidade de cidadãos. O ato de votar é equivalente a afirmar que sua ideologia política é uma boa forma de lidar com os problemas atuais, enquanto as outras são inferiores. Mais do que isso, caso tal ideologia seja divulgada (e, em tempos de Facebook, tudo é), é dizer que as pessoas deveriam concordar politicamente com você. Troca-se, assim, a fria neutralidade, em que nada se fala e pouco se pensa, pelo vivo posicionamento, no qual tudo é contestado, debatido e disputado.
Para nós adolescentes, esta transição de algo integralmente privado para outro completamente público tende a ser tumultuado. Não estamos acostumados com a responsabilidade necessária para exercemos a cidadania de forma saudável, muito menos com as condições para um debate produtivo, podendo pender para extremismos pouco profícuos ou mesmo nocivos. Basta olhar seu feed do Facebook e notar o mar de estereótipos:
A fim de evitar situações desagradáveis como esta, enumero três atitudes básicas que todo adolescente interessado em política – e eu me incluo nisso – deveria ter, quando posto em debate político:
Não ver política como jogo de futebol: nada é mais parcial que torcedores de futebol. Não importa se o time deles está na iminência do rebaixamento ou foi claramente ajudado pelo árbitro: ele sempre é o melhor e o mais prejudicado. Transpor esta visão para a política, mantendo o mesmo posicionamento independente da validade dos argumentos e fatos contrários, dá origem à chamada ”desonestidade intelectual”, um câncer em qualquer debate.
O intelectual honesto sempre entra em um embate aceitando a possibilidade de alterar sua opinião: basta que lhe apresentem fatos. O desonesto, por outro lado, polariza a discussão, já que vê de antemão seu lado como totalmente certo e o outro como totalmente errado, não estando aberto a qualquer argumento do outro lado. Com isto, o debate deixa de ser uma busca por soluções públicas e passar a ser um mero embate de egos privados. Não quero resolver o problema, quero provar que você está errado. Igualzinho um debate entre torcedores fanáticos.
Não se achar inteligente demais: a política é uma constante na sociedade humana desde os primórdios. Os primeiros livros famosos registrados, de Platão e Aristóteles, datam de 2500 a.C e a produção de conteúdo, passando pelos medievais Agostinho e Tomás de Aquino, a tonelada de modernos como Montesquieu, Hobbes, Locke, Maquiavel, etc e os contemporâneos como Marx e Adam Smith, não cessou desde então. É MUITA coisa escrita por gente MUITO boa.
É importante manter isto em mente para criarmos um senso de humildade. Todas as opiniões que julgamos serem revolucionárias e independentes muito provavelmente já foram expostas de forma mais aprofundada e melhor por algum economista morto. Na real, apenas repetimos os clichês de dois mil anos atrás. Se não há real criação de conteúdo, não devemos nos apressar para julgar todos aqueles que discordam de nós como ”alienados” ou ”burros”, uma vez que, perante a miríade de conhecimento político, estamos exatamente no mesmo barco: o da ignorância e da ilusão de grandeza. Imagine-se sempre debatendo sob a tutela de um experiente e culto professor, que sempre apontasse suas simplicidades e arrogâncias de discursos: sob o olhar dele, você ainda manteria uma postura agressiva e intolerante com seu interlocutor? Imaginei que não.
Devemos, ao contrário, seguir o conceito de Sócrates e aplicar o ”Só sei que nada sei”, o jovem deve buscar as fontes mais amplas e diversificadas possíveis (desde a Veja até o site do PCO), além de nunca denegrir a opinião de um adversário (ou mesmo ele próprio!) por achar a própria visão evidentemente melhor. Afinal, citando o economista John Stuart Mill, ”quem conhece só o próprio lado conhece pouco” e, ademais, quem perde amizades também enterra oportunidades de crescimento intelectual.
Há hora, lugar e pessoa para debater: seguindo os dois conselhos anteriores, vimos que se deve, a fim de se crescer intelectualmente, sempre entrar em um debate político com uma postura honesta, aberta e humilde. No entanto, apenas estas virtudes não são suficientes: essencialmente, o debate é uma relação entre, pelo menos, dois interlocutores e, pois, não é dependente apenas de nós, mas também do outro e do ambiente em que se insere a discussão. Para haver o equilíbrio, o interno e o externo devem estar em comunhão, portanto…
Sendo assim, ainda que suas intenções sejam as melhores possíveis, não faz sentido entrar em um embate político em, por exemplo, um churrasco de família voltado para confraternização. Sentindo o cheiro de carne e o odor de álcool no ar, não é necessário ser um gênio para notar que as discussões serão pouco profundas ou mesmo ofensivas.
O mesmo vale para a escolha do debatedor: sua avó cresceu em uma época – a ditadura militar – marcada por opressão à liberdade de expressão e censura às informações, de modo que não criou um senso crítico apurado e nem capacidade de pesquisa. Com isso, você realmente acha que ela tem as ideias embasadas ou mesmo vontade de mudá-las? Acha que vale a pena xingá-la de ”velha conservadora” ou tentar explicar para elas os conceitos progressistas da Revolução Francesa? O que crê tirar disto?
Seguindo estas três diretrizes básicas e criando mais algumas a partir do bom senso, o jovem pode entrar em discussões produtivas, as quais, ao invés de criar inimizades e fanatismos, gera conhecimento, laços intelectuais e fortalece, dada cidadania, da própria democracia. Caso os ignore, sempre se envolverá no que Dale Carnegie, autor americano, chamou de ”embates imbecis”, de onde o único ganho é o aumento da ignorância dos envolvidos e o empobrecimento da sociedade em que nos envolvemos. O futuro da política é nosso. Saibamos cultivá-lo com inteligência.
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