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A crise como oportunidade para encontrar sentido e seguir sua vocação!

O trabalho tem um papel fundamental na busca por uma vida com sentido, principalmente se fazemos dele um fim e não um meio. Mas é importante reflitr se este é o único meio de exercer nosso propósito no mundo.

Nos últimos meses, uma palavra invadiu os noticiários, sites, revistas e mídias sociais. Essa palavra é a crise. A maioria das pessoas já ouviu aquela velha história do ideograma chinês para a palavra crise. O “weiji” formado pela junção de “perigo” (wei) e “oportunidade, ocasião propícia” (ji). A questão é: por que a crise assusta tanto as pessoas?

Atuando como coach posso dizer que grande parte dos atendimentos traz a inquietação da busca por uma carreira com mais sentido e propósito. Contudo, quando estão trabalhando, as pessoas vivem com essa inquietação, mas sempre que pensam em agir, em dar um primeiro passo em relação ao que realmente querem, surge o sabotador que diz: “Você irá largar seu emprego, seguro e estável para buscar algo incerto?” Freud e Bauman já traziam essa luta humana pelo binômio: segurança x liberdade. Toda vez que o homem busca mais liberdade, terá que abrir mão da sua segurança e vice-versa.

O ponto é que a crise veio desmistificar certas ilusões. Uma delas, por exemplo, é a de que quem é empregado tem mais segurança do que quem é empreendedor. Podemos dizer que o empregado tem mais estabilidade, sabe quanto ganha no final do mês, tem seus benefícios e participações no lucro. Quem é empreendedor vive numa montanha russa, tem mais que ganha muito, outro que ganha quase nada e vive assim. Mas quando falamos em segurança, ambos estão no mesmo barco. Nesses últimos meses, vimos pessoas com mais de 15 anos em grandes empresas serem demitidas, professores que passaram por cortes e etc… Quem não conhece aquela pessoa que você tinha quase certeza que “morreria” na empresa em que estava e no susto foi demitida? A sabedoria budista já falava sobre a impermanência há muito tempo. O ensinamento básico do budismo é a impermanência ou a mudança. A verdade básica é que tudo muda. Quando percebemos a perene verdade de que “tudo muda” e encontramos serenidade nisso, descobrimo-nos no nirvana (estado de perfeita paz).

Um outro aspecto que a crise veio nos ensinar é o medo das pessoas ficarem desempregadas. É óbvio, que a possibilidade de ficar sem um rendimento mensal e com muitas contas para pagar gera um medo enorme. Isso é natural! Todavia, o ponto que quero trazer aqui é o medo de ficar só consigo mesmo que a situação de desemprego pode trazer. É a chamada “neurose do desemprego” retratada pelo psiquiatra Viktor Frankl. Para Frankl, com o desemprego, o que torna o homem apático é a falsa visão de que o único sentido da vida reside no trabalho profissional. Esse comportamento ocorre quando o homem tem a falsa identificação da profissão com a missão a que é designado na vida. Para o psiquiatra, “a profissão em si, não é ainda suficiente para tornar o homem insubstituível; o que a profissão faz é simplesmente dar-lhe a oportunidade para vir a sê-lo.” Vale ressaltar, que para Frankl, o trabalho tem um papel fundamental na busca por uma vida com sentido, principalmente quando fazemos dele um fim e não apenas um meio. O alerta é apenas para que as pessoas reflitam se realmente ele é o único meio de exercer nosso propósito no mundo.

Um outro ponto que o desemprego acaba movimentando é a saída do modo “piloto automático” que muitos vivem. No geral, vivemos nossa vida nesse formato: acordamos, vamos para o trabalho, passamos a maior parte do tempo em reuniões, no celular, no computador, voltamos para casa, ligamos o rádio do carro, assistimos televisão, tomamos banho e dormimos. E repetimos esse padrão ao longo de dias seguidos. O trabalho “flexível” fez com que trabalhássemos de qualquer lugar e em qualquer horário. Ou seja, vivemos sempre conectados com algo externo a nós. E por isso, que com o desemprego, além do medo financeiro, existe um medo existencial, o de ficar só consigo mesmo. Deve ser por isso, que tantas pessoas ao se perceberem sem emprego, já buscam diversas atividades para fazer. E fica a pergunta: por que optamos por viver no piloto automático? O que nos faz temer esse “ficar só” e sem atividade? Certamente, é nesse ficar só que podemos entrar em contato com a nossa vocação e também encontrar sentido. Viver no piloto automático nos deixa cheio de atividades, mas quando estamos sozinhos surge o vazio existencial.

Então, a crise é realmente uma grande oportunidade. A crise nos tira “na marra” da zona de conforto. Ela nos leva para a zona de tensão. E nesse espaço, que nos transformamos, nos tornamos criativos, saímos da apatia. Os processos de Coaching podem apoiar as pessoas a viverem essa crise de forma mais plena e como oportunidade para construírem algo que realmente querem. A crise exige um protagonismo e ação. Já não podemos fazer algo simplesmente porque todo mundo faz ou porque nos mandaram fazer.

Outro dia conversando com um monge amigo meu, falávamos sobre alguns votos que são tomados na vida monástica. E o voto de pobreza é um deles. Depois da conversa com ele, ficou muito claro para mim o quanto esse voto está ligado a liberdade. Quando não temos nada ou muito pouco, também não temos nada ou muito pouco a perder. Bem óbvio, né? Mas, o entendimento disso com profundidade é transformador. Ter muitas coisas na maior parte das vezes só nos prende e abafa nossa liberdade. E o emprego “seguro e estável” é uma dessas coisas. Sonhamos e desejamos uma carreira diferente, mas ficamos presos à atual. Contudo, quando a crise muda o cenário e vem uma demissão, somos “forçados a agir”. Tem uma frase comum no mundo do Coaching que é a seguinte: “quando você não escolhe, a vida escolhe por você!”. Talvez, a crise seja a grande oportunidade, um “empurrãozinho” que a vida lhe deu para que você possa buscar algo que realmente quer.

A crise pode ser como o “salto na fé” de Kierkegaard, mencionado como um “salto no escuro”, pois não apresenta nenhuma garantia racional para o indivíduo, mas por isso mesmo é sua oportunidade de viver uma vida plena. Ou ainda podemos viver a clássica citação de Jung:

“Suas visões só se tornarão claras quando você puder olhar para o seu próprio coração. Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.”

A crise é a oportunidade de olhar para dentro e despertar. Então, em épocas de crise, o que posso te desejar é um bom despertar!

Boa semana e bom despertar!

Até o mês que vem…

Taynã Malaspina é graduada em Comunicação Social pela ESPM, com mestrado e doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP. No mestrado, estudou a relação entre trabalho, felicidade e sentido para jovens. Atualmente faz parte do núcleo de pesquisa do programa de doutorado em Psicologia Social (PUC-SP) e investiga o tema de projeto de vida. Autora do livro “Geração Y e busca de sentido na modernidade líquida e também do livro “O Trabalho contemporâneo no Brasil: desafios e realidades”. Dentro do mundo organizacional atuou na área de marketing de empresas como: Camargo Corrêa, Amanco e Samsung. Sócia-diretora da Oficina da Estratégia, consultoria especializada em pesquisa de mercado e planejamento estratégico. Coach formada pelo Instituto Ecossocial, com certificação ACC pela International Coach Federation (ICF). Formação em Coaching de Conflitos pelo Instituto Trigon – Entwicklungsberatung. Também participou do workshop de Comunicação Não Violenta no Instituto Ecossocial. Professora no curso de graduação em Administração e Recursos Humanos nas disciplinas de Gestão de Pessoas, Psicologia Aplicada, Ética e Qualidade de Vida. Fundadora do Movimento por um Trabalho com Sentido.
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