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Os estereótipos e os adolescentes

Durante todas as relações do nosso dia, julgamos pessoas com base nos estereótipos delas. Estereótipo é uma palavra difícil. Muitas sílabas. Mas é um daqueles conceitos que, no fundo, todo mundo sabe o que é. Duvida?

Estereótipo é uma palavra difícil. Muitas sílabas. Mas é um daqueles conceitos pomposos que, no fundo, todo mundo sabe o que quer dizer. Duvida? Veja esta foto e pense, na comodidade da sua mente, qual foi sua primeira impressão.

Não precisa falar para mim. Eu sei que você pensou em um homem de negócios, que provavelmente, trabalha em um escritório e tem uma vida financeira disciplinada. E tudo isso sem saber, a rigor, NADA sobre esse tal homem. Como isso funciona? Simples: estereótipo. A imagem associada ao terno e à gravata é justamente a do homem de negócios. Entendeu? “Estereótipo”, na definição técnica, nada mais é do que a imagem percebida a partir de determinada situação ou característica. É a capa do livro, em suma.

Durante todas as relações do nosso dia, estamos julgando pessoas com base nos estereótipos delas. Uma moça com cabelo preso e saia longa é “crente”. Um guri com tatuagens é “rebelde”. E assim por diante. Contudo, a parte mais interessante é pensar que nós TAMBÉM estamos sendo julgados por nossos estereótipos, quer estejamos conscientes ou não. Vestir uma camisa é um ato que não se encerra em si mesmo. Pelo contrário, tem consequências durante todo nosso dia, definindo como nos olharão e nos julgarão, o tipo de tratamento inicial que receberemos e as oportunidades que conseguiremos. Se você, por exemplo, usar uma camisa de desenhos infantis, provavelmente será levado menos a sério do que se usar um terno.

Uma ilustração muita sã do poder de um estereótipo é o filme “Prenda-me se for capaz”, com Leonardo DiCaprio. Nele, o ator norte-americano interpreta o falsário Frank Abagnale Jr., que consegue rios de dinheiro e influência com suas falcatruas. Abagnale é um mestre em usar o poder do estereótipo: em uma cena antológica, veste-se de piloto de avião comercial e, acompanhado de aeromoças vultosas, passa despercebido pela legião de policiais que queriam pegá-lo. Sacou? Roupa de piloto + moças bonitas = pessoa admirável, nunca um falsário desonesto. Está tudo no estereótipo.

Visto o poder imenso demonstrado pelo estereótipo, é de se esperar que muitas pessoas tentem controlar os seus. E, de fato, é o caso: uma pesquisa no Google para “Manual de Etiqueta”, um clássico estereótipo social, retorna nada menos que seis milhões de resultados. Coisa séria, portanto. E por que o adolescente, tão inserido no mundo como é atualmente, ficaria de fora dessa busca por controlar a própria imagem? Ele não fica, ora!

Contudo, há um grande problema que o jovem deve enfrentar: pelas leis mais básicas da óptica, toda imagem pressupõe a existência de um objeto. Ou seja, para se passar algo por meio do estereótipo, é necessário primeiro que tenhamos uma essência consolidada e objetivos definidos. Algo a passar, enfim. Por exemplo: se parte da minha essência é “empreendedor” e o meu objetivo é “angariar sócios”, o estereótipo passado pelo meu terno nada mais é do que um reflexo dessas duas características. É a parte de mim que revelei para alcançar o que eu desejo. Portanto, o bom uso do estereótipo é usar a aparência para demonstrar ao mundo a nossa essência.

Mas, ora, por excelência, nós adolescentes somos seres confusos. Qual nossa essência? Como você é com sua mãe? E com seus tios? E amigos? Talvez, com uns, seja mais respeitoso e fale menos palavrões, além de iniciar assuntos sobre novela. Cidadão-modelo. Já com outros, é despojado, boca-suja e gosta de falar de UFC. Cidadão rebelde. Assim, quem realmente é você? Se, ao depender da pessoa com quem está se relacionando, toma condutas e preferências distintas, quais são suas reais características? Modelo ou rebelde? Eis perguntas significativas. Sem respostas para elas, não sabemos quem somos. Não temos nenhum objeto para passar uma imagem. Com isso, fica impossível ter uma relação saudável com os estereótipos. Eles deixam de nos refletir e de nos auxiliar.

No entanto, eles continuam lá. Assim, estão refletindo o que? Ora, simples: os outros. Os estereótipos nos adolescentes têm a tendência de não serem a essência deles, mas um mero meio de ser aceito socialmente por grupos de outros jovens. Comumente, na adolescência passa-se por mil estereótipos sociais, não tendo nenhum elo profundo com nenhum deles: no mês do Rock in Rio, se é Rockeiro; deixando o cabelo crescer se vestindo de preto, apenas porque todo mundo vai nos shows; no mês da visita do Papa, torna-se cristão convicto postando salmos aleatórios no Facebook, a fim de ganhar likes dos outros amigos da JMJ; em época de eleição, é o mais politizado homem do mundo (e, fora dela, acha discutir política um saco), a fim de parecer intelectual frente aos amigos que debatem na escola.

Woddy Allen, sempre ele, dá um forte exemplo de como o estereótipo se manifesta no adolescente no seu filme “Zelig”(1983). Neste, o protagonista, Zelig, é um incrível “homem camaleão” que toma os trejeitos, tiques e posturas de qualquer um que está perto. Repare diferença entre ele e Frank Abagnale: enquanto este usa conscientemente do estereótipo para alcançar objetivos, Zelig simplesmente mimetiza de forma espontânea todos ao seu redor, para se enturmar. É exatamente o que o adolescente faz.

Zelig como monge, diplomata, cantor de jazz e intelectual.

As consequências disto tendem a ser negativas. Primeiramente, o adolescente perde a noção dos seus reais gostos pessoais. Ele não sabe se gosta de rock, cristianismo ou política, se gosta dos três ou se não gosta de nenhum, pois só conhece essas três práticas superficialmente. Sem saber das próprias preferências, tende a se frustrar com muito mais facilidade. Não há figura mais comum do que o jovem entediado. O tédio advém de não retirar real prazer de nada do que pratica. A guitarra machuca muito os dedos, a reza não tranquiliza e Karl Marx não parece fazer sentido. Tudo é cinza.

Ademais, há outra consequência evidente para qualquer um que já esteve nesta situação: eventualmente, todos os grupos que tentamos agradar percebem nossa falta de essência e se afastam. Os rockeiros riem de nós por não sabermos todas as músicas, os cristãos nos rechaçam por não praticarmos a palavra e os politizados notam nosso desconhecimento e deixam de nos levar em consideração. Portanto, na ânsia de se ser tudo, finda-se sendo nada. No desejo de ser fiel a todos, trai-se a si mesmo. Eis o maior drama adolescente.

Assim sendo, é de responsabilidade de todo jovem lutar para evitar que se vire um Zelig. Ou seja, é necessário que cada adolescente descubra a própria essência e gostos pessoais, sob pena de virar um adulto imaturo, melancólico e desagradável. Então, como prosseguir? Na minha visão, o primeiro passo é respeitar a grandeza e história das ideologias e grupos que queremos implementar em nossa imagem. Isso envolve, sempre que temos um interesse mínimo por algo, fazer uma pesquisa, conhecer as origens e a filosofia de vida daquele grupo. O aspirante a rockeiro por exemplo, deve, ora, ouvir músicas de Rock, saber o que diferencia o rock de outras músicas. Com esse conhecimento em mãos, deve-se avaliar nossa relação com a tal ideologia, por meio de perguntas como “Eu realmente gosto disso?”, “Isso está de acordo com algum objetivo que tracei para a minha vida?”, “Se ninguém do meu ciclo de amigos gostasse de Rock, eu ainda me sentiria motivado a me vestir feito rockeiro?”. Caso a resposta para a maioria seja sim, use o estereótipo de rockeiro ^-^ Com certeza você estará de acordo com a própria essência e, assim, não ofenderá os outros praticantes e nem atentará contra a possibilidade.

Desta forma, é possível que o adolescente tenha, finalmente, uma relação saudável com os estereótipos – controlando-os ao invés de ser controlados por esse – e dê um passo de importância ímpar para sua maturidade. Estamos todos caminhando juntos – afinal, eu também tenho a minha carga de estereótipos nocivos, hahaha!

Bruno Sales Author
Bruno Sales é Estudante esforçado, entusiasta intelectual e conversador. Estudante de Economia, escritor amador e apreciador de Filosofia e Matemática. Sonha publicar o livro que vem trabalhando faz anos; a médio prazo, adquirir independência financeira e reconhecimento intelectual; a longo prazo, mudar o mundo.
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