A Arte de Mentir e suas consequências
Começo essa reflexão com interessante definição sobre hipótese:
“hipótese é aquilo que não é, que a gente faz com que seja para ver como é que seria se fosse”.
Curiosamente, a mentira também é aquilo que não é, que a gente faz com que seja e, certamente em algum momento as consequências virão.
Certa vez, fazendo um curso de teatro no Teatro Escola Macunaíma, o professor na época, Silvio Zilber, nos ensinava:
“quando um ator tem que representar uma cena que contém uma emoção específica, um recurso poderoso é buscar a lembrança de uma cena, de preferência, real. Na qual essa emoção estava contida e revivê-la como se fosse naquele momento a ser representada.”
Depois, aprendi que em Programação Neurolinguística há um recurso muito parecido chamado “ancoragem”, resgatando uma lembrança e evocando características visuais, auditivas e cinestésicas, conseguindo até conectar-se com aquela antiga emoção. É uma representação, uma simulação, em outras palavras, uma mentira artística, pois quanto mais convincente for, melhor será a performance do ator ou da atriz.
Há, por outro lado, os mentirosos contumazes que estão mentindo o tempo todo, pois para eles, mentir é como beber água, respirar, um hábito tão, podendo ser classificados como sociopatas e psicopatas, e por assim serem, agem sem responsabilidades em relação às outras pessoas e são considerados doentes, possuidores de transtornos de personalidade antissocial e não sentem remorsos pelos seus atos.
Há aquelas mentiras chamadas sociais e, segundo a psicóloga Érica Vendramini:
“todos mentem e a mentira não é apenas considerada normal, como necessária para a vida em sociedade. E, por isso, não se pode considerar todas elas da mesma forma, e com a mesma culpa.”
Existem certos profissionais que mentem em busca de um benefício específico e o fazem, pelo hábito, como se fosse algo normal. Há, por exemplo, um texto de Jose Maria Vasconcelos intitulado “Política, a arte de dissimular” que diz:
“há políticos que em busca e defesa de interesses partidários e pessoais, pesa o bom papo, retórica melosa, embromação, hipocrisia, dissimulação e engodo. (…) eleitor ingênuo lembra animal adestrado, mas submisso a tiquinhos de sobrevivência. Qualquer cédula de cinquentinha compra um voto”
E ainda, em outro trecho, salienta:
“Conhecido político confessa: povão não quer saber de obras públicas. Mas de abraço apertado, uma cachaça de graça, dez reais, barriga cheia de arroz e panelada na feira”
Um vendedor tem, em suas táticas, falar ao cliente aquilo que ele quer e precisa ouvir no momento de fechar uma venda; um ator tem, baseado nas características de sua personagem, a autorização moral em agir como se fossem pseudônimos: com valores, posições, ações e visões distintas; um médico, conforme a situação, lida com a informação sobre a doença, conforme cada paciente se comporta e responde a seu respectivo tratamento; um advogado tem em seus princípios os tramites legais, independente da culpa ou inocência de seu cliente, sendo a versão apresentada aquela legalmente válida, naquele momento, ainda que imoral ou inverídica.
Muito se pode dizer sobre a arte de mentir e suas consequências. Mas, e quando mentir não é uma só uma arte ou uma artimanha, mas sim um ato de subordinação e necessidade?
Quantas pessoas são induzidas a mentir por representar instituições empregatícias ou religiosas? E que, de maneira insensata e irresponsável, exigem destas que mintam para defender seus pontos de vista corporativos ou dogmáticos? Até que ponto a “recompensa compensa”?
Infelizmente temos visto jornalistas, políticos, artistas e outros profissionais, em função de uma linha editorial ou político partidária, mentindo para preservar seus empregos ou algum ganho de origem duvidosa. Duvido que, em sã consciência, alinhados a valores éticos falariam o que falam ou defenderiam pontos de vista escancaradamente falsos e tendenciosos.
Imagino esse pessoal tentando dormir à noite sabendo que sua informação, como porta-voz possa ter prejudicado ou pela desinformação ou dados incorretos tantos ouvintes ou telespectadores.
E o que dizer daquelas que simplesmente mentem por prazer?
Há uma afirmação bastante conhecida que diz que quando uma pessoa repete várias vezes uma mentira, para ela, vira verdade. E passam a acreditar em suas mentiras e falam com tanta convicção que até soam como verdades. Mentem quando defendem um político corrupto sob a alegação do “baixo potencial criminal”, ou lançam defesa a um agressor doméstico baseado em seus costumes culturais. E até mesmo afirmam veementemente que o réu é um “laranja”
A mentira é algo inerente ao ser humano. Todavia quando passa da normalidade psicofisiológica, pode ser algo prejudicial até de forma física. E refletir doenças e dificuldades mentais e morais.
Por fim, para você se acautelar, refletir a respeito e, se for o caso, orientar quem age sob essa égide, apresento algumas características comuns, típicas de mentirosos para não cair no risco de ser ludibriado ou ficar decepcionado por falta dessas informações. Estas características foram levantadas pela revista Scientific American e feita por uma equipe de pesquisadores liderados pelo psicólogo holandês Alberto Vrij, que diz que os mentirosos:
- São manipuladores;
- São bons atores;
- Conseguem se expressar bem;
- Têm boa aparência;
- São espontâneos;
- São confiantes enquanto mentem;
- Têm bastante experiência em mentir;
- Conseguem esconder facilmente suas emoções;
- São eloquentes;
- São bem preparados;
- Improvisam bem;
- Pensam rápido;
- São bons em interpretar sinais não verbais;
- Afirmam coisas que são impossíveis de se verificar;
- Falam o mínimo possível;
- Têm boa memória;
- São criativos;
- Imitam pessoas honestas.
Ressaltando que não significa que pessoas que tenham essas características sejam mentirosas, mas todo cuidado é pouco. Isso porque os mentirosos de plantão são possuidores desses atributos.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre a arte de mentir e as suas consequências? Então, fale comigo, terei o maior prazer em responder.
Reinaldo Passadori
https://www.passadori.com.br/
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