O sucesso de uma equipe é diretamente proporcional ao estilo e a qualidade da liderança existente ou, em outras palavras: o Líder tem a equipe que merece.
As equipes excelentes têm uma liderança flexível, porém firme, além de democrática e com muita proximidade.
Continuando esta série de artigos sobre o estilo de liderança de Shackleton, discutiremos hoje como ele incutia o espirito de equipe em seu pessoal, uma das razões para o sucesso e para que seu nome seja ainda lembrado quase cem anos após a sua morte.
Para Shackleton o trabalho em equipe era mais do que um ingrediente de sucesso, constituía um objetivo em si.
O Endurance, o barco de Shackleton, deixou a Europa antes de seu Comandante, que somente se juntou a tripulação alguns meses depois já na América do Sul e a primeira ação após sua chegada foi desmontar todas as panelinhas que se formaram durante a travessia marítima. Marinheiros, oficiais do navio e os cientistas formavam grupos distintos tratando uns aos outros como seres inferiores.
Após a chegada a Buenos Aires, Shackleton ainda ficou vários dias em um hotel, sem embarcar, apenas observando o comportamento da tripulação. Jamais o “Chefe” tomava decisões arbitrárias apenas para mostrar o seu poder, antes observava, refletia, conversava com os envolvidos e agia.
Após embarcar fez questão de se mostrar acessível à sua tripulação, escutando as suas preocupações e sugestões e sempre fez questão de manter a equipe informada sobre os assuntos do navio, estabelecendo uma rotina de trabalho e de lazer que envolvia a todos sem distinção de função ou competências, quebrando hierarquias e níveis intermediários.
Existia rodizio entre todos nas atividades gerais a bordo. Um exemplo era a faxina no Endurance, onde todos estavam envolvidos, independente se era marinheiro ou médico, mas sempre alterando as equipes de trabalho, isto fazia com que todos trabalhassem nestas atividades com todos, aumentando o entrosamento da equipe. Para outras atividades, mais demoradas, Shackleton agrupava os homens de acordo com os tipos de personalidade e amizades verdadeiras. Shackleton era imparcial ao lidar com a tripulação.
Shackleton liderava pelo exemplo e se um membro da equipe estava doente ou machucado, ele próprio assumia as suas funções, mesmo que fossem tarefas muito modestas e sempre dosava trabalho, descanso e lazer. Ao menos uma vez por semana reunia a equipe para fazer algo fora do usual, que poderia ser ouvir música em um gramofone, uma representação artística entre eles ou simplesmente para comemorarem algo. O “Chefe” instituiu competições de xadrez, cartas, dominó enquanto embarcados e, quando no gelo, mesmo correndo sérios riscos de vida, existiam as competições de futebol e hóquei.
Em minhas atividades de Mentoria de Liderança, costumo trabalhar algumas características que julgo essenciais e que aprendi com Shackleton:
- Pessoas bem informadas são mais empenhadas. Mantenha sempre a porta aberta para os membros de sua equipe;
- Observe e reflita muito antes de agir. Não faça mudanças apenas para deixar a sua marca;
- Mantenha todos informados de sua importância e responsabilidade no trabalho final. Mantenha um jogo aberto o que é esperado de cada um;
- Quando for possível, mescle os membros da equipe nas atividades, para desenvolver sentimentos de confiança, respeito e amizade entre eles;
- Desmonte hierarquias e panelinhas. Desafie sempre;
- Lidere pelo exemplo. Quando possível faça parte do grupo no desenvolvimento de alguma atividade, assim você demonstra na prática o alto padrão de desempenho que quer para o grupo;
- Seja imparcial e justo em suas decisões. Cuidado com o desequilíbrio nas remunerações e cargas de trabalho;
- Promova reuniões regulares, fora de expediente para fortalecer o espírito de equipe. Almoços informais ou happy hours são excelentes para isto. Se possível envolva as famílias dos membros da equipe.
Nos meus treinamentos sobre este tema, sempre encontro uma resistência dos “lideres” quanto a executar atividades menos importantes ou em fomentar a proximidade entre todos. Talvez esta resistência seja resultado de um sentimento anacrônico de culto ao eu e não às ideias.
Participe da Conversa