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A busca do ponto de equilíbrio no processo de Coaching

Encontramos equilíbrio ao compreendermos a arquitetura da mente e a biologia da tranquilidade. O ponto de equilíbrio é aquele lugar onde temos, ao mesmo tempo, grande força e muita tranquilidade.

“Todos nós temos um ponto de equilíbrio, um ponto certo em que tudo parece fluir, onde nos sentimos felizes, competentes, em sintonia com tudo ao nosso redor e especialmente talentosos e bem-sucedidos. Parece mágica, mas não é.”
(Peter Bregman)

Um dos exercícios mais comuns aplicados em Coaching é a chamada Roda da Vida ou Mandala da Vida. A Roda da Vida trata-se de um círculo dividido em oito, dez ou doze partes, no qual cada parte representa uma dimensão que compõe a nossa vida como por exemplo, carreira, família, saúde, recursos financeiros e por aí vai.

Esse exercício permite que o Coachee visualize em uma imagem como está o equilíbrio da sua vida e sua satisfação dentro de cada esfera. Obviamente, não existe uma roda da vida ideal e única, pois depende dos valores do cliente e de como ele busca a plenitude ao longo do caminho. O ponto é que esse exercício permite que o cliente tome consciência dessa visão geral da vida. Todavia, o mais desafiador é o próximo passo, que consiste em buscar ações para caminhar da roda da vida atual para a roda da vida desejada.

Recentemente li o livro “O ponto de Equilíbrio” da Christine Carter, socióloga e pesquisadora do tema felicidade, resiliência e inteligência emocional. Carter desenvolveu uma “fórmula para o equilíbrio”. É claro que cada um deve buscar sua própria fórmula, mas podemos aprender diversas coisas com esse livro. A socióloga diz que encontramos equilíbrio ao compreendermos a arquitetura da nossa mente e a biologia da tranquilidade. O segredo é usarmos táticas que fluam em harmonia com nosso cérebro e nossa fisiologia. O ponto de equilíbrio é aquele lugar onde temos, ao mesmo tempo, grande força e muita tranquilidade.

A fórmula desenvolvida por Carter é a seguinte:

PONTO DE EQUILÍBRIO =
FAÇA UM INTERVALO + LIGUE O PILOTO AUTOMÁTICO +
LIVRE-SE DAS AMARRAS + CULTIVE RELACIONAMENTOS +
TOLERE ALGUM DESCONFORTO

Vamos entender um pouco melhor cada componente dessa equação. Fazer um intervalo está ligado a nos permitirmos uma pausa do estado de estafa. Vivemos numa cultura na qual ficar ocupado o tempo todo tornou-se símbolo de realização. Existe uma crença de quanto mais ocupados estamos, mais importante somos. E essa crença tem efeitos colaterais. Nos dedicamos, na maior parte do tempo, a tarefas instrumentais (produtivas, mas não divertidas). E assim, eliminamos da nossa vida as coisas divertidas como brincar e descansar. Nesse cenário, nosso humor se deteriora, nosso nível de cortisol aumenta e ficamos estressados. Precisamos resgatar e respeitar os ritmos naturais da nossa vida. E abandonar o pressuposto de que a vida precisa ser sempre difícil e estressante.

Ligar o piloto automático consiste em usar a capacidade natural de nosso cérebro de funcionar no piloto automático, deixando que o inconsciente faça tarefas que, de outra maneira, teríamos que realizar à custa de muita força de vontade. Imagine que se toda vez que você fosse escovar os dentes, precisasse lembrar e se esforçar para cada movimento. Assim, quando criamos hábitos saudáveis facilitamos a nossa vida. De nada adianta sabermos o que é nosso ponto de equilíbrio, precisamos efetivamente fazer coisas no dia a dia que nos levem a esse equilíbrio. Os hábitos ocupam a região do nosso cérebro chamada gânglios basais. Depois que programamos um hábito, precisamos fazer pouco esforço consciente para realizar coisas importantes. A formação de um hábito envolve três esferas: um gatilho, a rotina e a recompensa. Na busca pelo equilíbrio podemos escolher conscientemente e cultivar costumes que sejam interessantes para nós como, por exemplo, meditar todos os dias pela manhã. Pequenos hábitos consistem em construir habilidades e dar pequenos passos na direção da tranquilidade e rotinas vitalícias.

Livrar-se das amarras é deixar para trás coisas que nos sobrecarregam. Se não nos livrarmos das emoções negativas e sentimentos de exaustão, vivemos com a sensação de que é impossível dar conta de tudo. Carter mostra algumas estratégias para nos livramos da armadilha da exaustão. Uma delas é elencar as suas cinco maiores prioridades de vida e dizer não para todo o resto. Uma vez que não podemos fazer tudo, precisamos escolher. Precisamos dizer “não” para tudo o que se distancia dos nossos mais altos valores e prioridades. Outra tática é evitar o conceito de ser multitarefa, pois quando focamos em apenas uma tarefa por vez, acabamos sendo mais produtivos a longo prazo e ficamos menos exaustos no final do dia. Além disso, desenvolvemos a presença. E por fim, podemos também colocar limites para uso dos e-mails, Facebook, Whatsapp e todas as ferramentas que contribuem para a perda de foco e dispersão de energia.

Cultivar relacionamentos é uma das maiores fontes de felicidade e satisfação. Para melhorar nossos relacionamentos, precisamos apenas fazer duas coisas: fomentar emoções positivas em relação aos que estão ao nosso redor e aprender a lidar com o fato de que as pessoas vão nos irritar, nos decepcionar e até mesmo nos machucar. Aumentar os vínculos sociais em nossa vida é provavelmente, a forma mais fácil de aprimorar nosso bem-estar. Para Carter, nossos relacionamentos mais profundos são continuamente criados e reforçados em tempo real por instantes repetidos de amor e atenção. O amor exige tenacidade e determinação. A socióloga enumera 9 “doenças” que prejudicam nossa conexão com as pessoas: uso inadequado da tecnologia; negócios e trabalho demais; inveja; decepção; previsibilidade e tédio; incômodos e irritações; conflitos não resolvidos; guardar rancor e riqueza. Outro aspecto interessante levantado pela autora é que a prática da gratidão e da doação fortalecem nossos relacionamentos. Você lembra quando foi a última vez que demonstrou gratidão por alguém? Você lembra da última vez que fez uma doação de tempo, amor ou dinheiro para algo ou alguém?

E para fechar a equação, ser capaz de tolerar um pouco de desconforto exige a habilidade de ter coragem de seguir nossas paixões e propósito ao invés de seguir a multidão. Já comentei em outro post sobre o lado perverso do conceito “faça o que você ama.” Para alguns, foi criada a percepção errônea de que seguir nossas paixões envolve apenas prazer. O ponto é que para buscarmos propósito e sentido, muitas vezes precisamos quebrar paradigmas, sair do senso comum e tolerar desconforto. A psicóloga Angela Duckworth definiu a seguinte fórmula: Conquista = Habilidade x Esforço. Ou seja, para certa atividades podemos dedicar pouco esforço pois temos muita habilidade. Mas, pode ser que ainda não tenhamos habilidades suficientes para seguir nosso propósito e assim precisamos de um esforço significativo.

Enfim, sabemos que somos únicos e assim não acredito em “receitas de bolo” para a plenitude e equilíbrio. De qualquer forma, os conceitos elaborados por Carter permitem ampliar a nossa visão. Convido cada um de vocês a criarem a sua própria fórmula de equilíbrio.

Taynã Malaspina é graduada em Comunicação Social pela ESPM, com mestrado e doutorado em Psicologia Social pela PUC-SP. No mestrado, estudou a relação entre trabalho, felicidade e sentido para jovens. Atualmente faz parte do núcleo de pesquisa do programa de doutorado em Psicologia Social (PUC-SP) e investiga o tema de projeto de vida. Autora do livro “Geração Y e busca de sentido na modernidade líquida e também do livro “O Trabalho contemporâneo no Brasil: desafios e realidades”. Dentro do mundo organizacional atuou na área de marketing de empresas como: Camargo Corrêa, Amanco e Samsung. Sócia-diretora da Oficina da Estratégia, consultoria especializada em pesquisa de mercado e planejamento estratégico. Coach formada pelo Instituto Ecossocial, com certificação ACC pela International Coach Federation (ICF). Formação em Coaching de Conflitos pelo Instituto Trigon – Entwicklungsberatung. Também participou do workshop de Comunicação Não Violenta no Instituto Ecossocial. Professora no curso de graduação em Administração e Recursos Humanos nas disciplinas de Gestão de Pessoas, Psicologia Aplicada, Ética e Qualidade de Vida. Fundadora do Movimento por um Trabalho com Sentido.
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