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A Crise do Amor: Um Redescobrimento Necessário

A crise do amor é um fenômeno atual que afeta a sociedade. Descubra o seu impacto e a importância de redescobrir o amor próprio e amar o próximo.

A Crise do Amor: Um Redescobrimento Necessário

A Crise do Amor: Um Redescobrimento Necessário

“O amor é o caminho, o nexo de união com isso que a humanidade chama “perfeito e divino”. “Ele serve como conexão e comunicação que enchem o vazio que existe entre o visível e o invisível”. (Platão e Sócrates)

“Amar ao próximo como a si mesmo” – e não conseguir reconhecer-se, amar-se, perdoar-se – é impossível. Vivemos, neste momento, a necessidade do ser aceito e respeitado, a qualquer preço – em número cada vez maior – ao preço da própria vida.

As cartas filosóficas sobre o amadurecimento não foram escritas em redes sociais e muito menos para o julgamento em praça pública – são escritas todos os dias nas rotinas sem nenhuma pretensão e vão mudando as coletividades em “silêncio”.

A questão é que os jovens, principal alvo da cultura do Cancelamento, ainda não estão preparados para entender que o ordinário escreve e muda a história enquanto o extraordinário do seu tempo, muitas vezes serão apenas um verbete, quando muito, no futuro próximo.

O que fazemos de extraordinário, em um mundo materialista ao extremo não tem importância. Desenvolvemos máquinas fabulosas, imediatamente substituídas. Os eventos de lançamentos revolucionários a cada mês, ao redor do planeta, trazem novas soluções e tendências. Vivemos a maior série de novidades da história do homem, até aqui.

Fabulosas novidades que ascendem seus criadores, esquecidas e substituídas em no máximo meses. Tudo é superlativo, descartável e substituível. Tudo o que encanta são coisas que, como sombras, deixam de existir rapidamente. Dessa forma, encaramos nossos dias como utilidades para obter “sombras”.

Ao sairmos dos objetos Sombra de nossos desejos – Encontramos o vazio e a desesperança. Falta amor.

O Amor encerra um grau de maturidade e reconhecimento do valor humano que talvez não estejamos prontos para entender. Não está a venda e não tem sombra. “Amar ao próximo como a si mesmo” – foi esquecido. O “amor” tornou-se desgastado pela banalização. O trabalho a se realizar é de redescobrimento: “um redescobrimento do amor”.1

“A maioria das pessoas veem o amor, antes de tudo, como o de ser amado, em lugar do amar, da capacidade de alguém para amar. Para essas pessoas o problema é como serem amadas, como serem amáveis”.

Em outras palavras, a compreensão do amor está numa visão egocêntrica: a questão não é o que deve fazer ou não para amar as outras pessoas, mas sim o que deve ou não fazer para que o indivíduo sja amado. Na busca por ser amado surgem vários caminhos:

Os homens, pensam que é ter sucesso, poder e riqueza. As mulheres, serem atraentes, estarem bem vestidas e serem amáveis. Ambos buscam likes e mais likes para suas publicações que exaltam a materialidade em corpos perfeitos e histórias perfeitas – mostrando ao mundo o quanto são melhores e bons.

Amar o próximo como a si mesmo significa reconhecer em outros a dignidade que há em sua própria vida. Significa, de fato, oferecer ao outro o mesmo cuidado e consideração que você dedica a si mesmo e deseja receber do próximo.

Outro erro é tratar a questão do amor como a um objeto e não o de um sentimento. No senso comum, o difícil não é o ato de amar, em si, mas sim encontrar um objeto de amor correto.

Na sociedade capitalista, igualdade significa a perda de individualidade, a padronização do homem no processo social. Então, seria mais fácil encontrar e viver o amor, nos seus semelhantes. Ou não?

A união do homem por esta igualdade deturpada, por esta conformidade ditada pela rotina, pelo corriqueiro da vida; é sutil e discreta, porém, ainda insuficiente de acalmar a ansiedade.

“A incidência do alcoolismo, do vício de drogas, do sexualismo forçado e do suicídio na sociedade ocidental contemporânea é sintoma dessa falência relativa da conformidade de rebanho”.

Bem mais discreta, outra forma de alcançar a união está na atividade criadora.

“Em qualquer espécie de trabalho criador, a pessoa que cria une-se a seu material, que representa o mundo que lhe é exterior”.

Porém, este tipo de união estabelece-se apenas entre um indivíduo e sua obra.

Ora, se não é por meio da obra, que não é interpessoal, se não é por meio da fusão dos corpos, que é transitória, e se não é pelo conformismo, que é apenas falsa-unidade, como realizar a unidade e solucionar o problema da solidão do homem? A resposta que completa e soluciona a existência está no amor

O amor é uma necessidade do homem: o faz sair do estado de ansiedade, o liberta da prisão de estar só e o une com a natureza, com o mundo e com o outro.

O amor conduz cada indivíduo “a superar o sentimento de isolamento, permitindo-lhe, ser ele mesmo; reter sua integridade.”

“De modo mais geral, o caráter ativo do amor pode ser descrito afirmando-se que o amor, antes de tudo, consiste em dar, e não em receber”.

Amor é doação. Doação desprendida e total. Sem reservas e sem medo.

Existe uma diferença entre o amor próprio e o egoísmo. O egoísmo exclui qualquer preocupação pelos outros; o egoísta só se importa consigo mesmo. Tudo o que deseja, deseja apenas para si – não se interessa com as necessidades de outras pessoas – faz apenas por si mesmo.

“O mundo exterior é encarado apenas do ponto de vista daquilo que ela pode extrair dele; falta-lhe respeito por sua dignidade e integridade. julga tudo e todos pela utilidade que lhe possam ter; é basicamente incapaz de amar.”

A pessoa egoísta não é simplesmente incapaz de amar os outros, mas é também incapaz de amar a si própria. O egoísmo fecha os olhos do indivíduo às necessidades do mundo e dos outros, fecha-o em si mesmo. É o egoísmo que coloca barreiras entre os indivíduos; o amor, ao contrário, supera-as.

O problema da contemporaneidade que serve como chave de leitura para tantas situações confusas em que se vive – como por exemplo: guerras, corrupção exacerbada em nível nacional e internacional – está em que todas essas coisas não são excesso de amor próprio; ao contrário, são carência. Vivemos hoje realmente numa crise, mas não simplesmente econômica ou social, mas numa crise do amor. É por não amar a si que muitos não amam seu próximo.

O amor está muito presente como palavra, mas não como ação, como gesto concreto. O amor não é simplesmente um vocábulo a se usar para se conseguir o que se deseja; o amor é atitude. É por esta confusão que vivemos num contexto em que “o amor” se desgastou, em que, em boa parte, já está perdido – hoje, nos acostumamos e conviver com um mundo onde ter amor depende da “soma de likes”.

O amor é uma arte que exige de nós dedicação. É uma atitude que exige conhecimento e esforço.

O amor é uma ação do homem para suprir uma necessidade: o amor é a resposta ao problema da existência humana. É ele que supera a separação entre o homem e a natureza em sua origem, a separação entre o homem e o mundo que gera ansiedade.

É o amor que o liberta da prisão de estar só e lhe permite assim transcender a individualidade e sintoniza-o com a natureza. Porém, para que este amor seja, de fato, resposta amadurecida ao problema da existência, deve conter em si as características essências de doação, cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento do outro.

O amor é uma arte que se manifesta de diversos modos, seja na relação entre pais e filhos, na relação fraterna, numa relação consigo mesmo ou numa relação com Deus. Dentre essas manifestações do amor, o amor próprio é o que está mais relacionado com o esquecimento do amor.

O amor próprio é, na maioria dos casos, confundido e pensado como oposto ao amor pelos outros: muitos pensam que é uma virtude amar o próximo, mas é um pecado amar-se a si mesmo. Ora, quem não se ama é incapaz de amar os outros.

A situação tão conturbada e turbulenta que a sociedade vive atualmente, em especial no cenário nacional, acontece como consequência do excesso do egoísmo e do esquecimento do amor. Vive-se uma crise não simplesmente econômica ou social, mas sim uma crise do amor.

O egoísmo e o amor próprio são antagônicos. É exatamente por não amarem a si próprios que muitos são incapazes de amar o próximo. Esqueceu-se o que o amor é! Ele não é uma palavra vazia, um simples sentimento. O amor é uma faculdade. É, de fato, uma ação a ser redescoberta por cada um de nós.

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Sandra Moraes
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Referências:

1 – Este artigo foi baseado no texto de Erich Fromm – livro “Arte de Amar”.

Confira também: Reconstruir não é Reformar: O que vale ser mantido e o que não vale?

 

Sandra Moraes é Jornalista, Publicitária, Relações Públicas, frequentou por mais de 8 anos classes de estudos em Filosofia e Sociologia na USP.É professora no MBA da FIA – USP. Atuou como Executiva no mercado financeiro (Visa International (EUA); Banco Icatu; Fininvest; Unibanco; Itaú e Banco Francês e Brasileiro), por mais de 25 anos. Líder inovadora desenvolveu grandes projetos para o Varejo de moda no país (lojas Marisa – Credi 21), ampliando a sua larga experiência com equipes multidisciplinares, multiculturais, altamente competitivos, inovadores e de alta volatilidade.
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