A Empatia e as Formas de Expressão
Ao longo dos últimos dez anos lendo, estudando e praticando a Comunicação Não Violenta ainda percebo distorções a respeito do conceito do que é empatia.
A grande maioria das pessoas ainda acredita que empatia é se colocar no lugar do outro. Mas infelizmente não é possível se colocar no lugar do outro porque cada pessoa é única e diferente. Por exemplo, duas pessoas muito amigas, por mais que elas sejam próximas há muitos anos, ainda sim elas vieram de famílias diferentes, ancestralidades diferentes, experiências, estudos, convivências, crenças, valores e necessidades diferentes. Como seria possível se colocar no lugar do outro, quando eu não sou o outro?
Vários estudiosos ao longo dos anos vêm apresentando o conceito de empatia de uma forma mais ampla e complexa.
Lendo um texto esta semana sobre empatia social foi trazido um conceito de Carl Rogers em que ele coloca a importância de a pessoa se aperceber de forma precisa dentro das referências internas do outro que estejam associados aos componentes emocionais da pessoa, isso de forma respeitosa, sem julgamentos porque o referencial dela é diferente do meu.
Neste último fim de semana tive uma experiência interessante, pois estava na convivência com outras pessoas que pensam, sentem e percebem uma série de aspectos sobre a vida, educação, religião e política completamente diferente de mim. E como eram pessoas de grande importância na minha vida, foi necessário eu abrir um espaço para buscar entender a perspectiva deles, evitando o julgamento baseado nas minhas crenças e valores.
Outro fator preponderante e importante foi me observar e me perguntar a todo o momento, o quanto eu estava distorcendo os meus pensamentos e sentimentos. O quanto estava influenciada pelos meus próprios vieses cognitivos que moldam meu comportamento. Para poder abrir um espaço para escutar de forma genuína, sem misturar com os meus próprios pensamentos.
Isso é possível acontecer quando estamos conscientes das nossas próprias percepções, pensamentos e sentimentos, porém cuidando das nossas distorções cognitivas. Elas são pensamentos distorcidos que nos levam a sentimentos distorcidos, influenciados por nossos vieses cognitivos. E estão baseadas em nossas crenças e que nos conduzem a comportamentos desconectados da realidade.
Segundo Daniel Kanheman, prestar atenção a todo momento no que pensamos, sentimos e nos comportamos, nosso cérebro gasta muita energia. Assim nossa tendência é ficar no piloto automático, o que nos leva a conflitos porque não estamos conscientes.
Naquele momento para não sair para uma briga, que a meu ver parecia desnecessária, pois seria apenas para manter meu orgulho próprio inabalado, visto estarmos em uma convivência social harmoniosa e que para mim era importante, escolhi mudar o trajeto e foi ótimo que me valeu o aprendizado em aceitar o outro como ele é e não como eu gostaria que ele fosse.
Respeitar de forma genuína o pensamento, o sentimento e a fala de cada um faz parte do processo de abrirmos uma escuta empática. Sem misturar com os próprios pensamentos. Perceber o que é importante na relação, independentemente se o outro vai aceitar ou não, mas eu posso fazer a minha parte.
Segundo Chuang Tzu, a empatia requer o esvaziamento de todos os sentidos e, na medida que consegue esvaziar, é possível escutar na totalidade do ser. Ele diz que nesse momento ocorre a sintonia e a compreensão de forma direta e que não acontece com a mente e sim com o coração.
Marshall nos diz que a empatia é uma compreensão respeitosa do que o outro está vivenciando. Ele diz que as palavras que o outro utiliza não têm importância, mas sim como posso devolver o que estou escutando por trás das palavras. Porém só se consegue ser empático quando a pessoa consegue acessar a empatia dentro dela mesma. Será importante perceber se está sendo defensivo ou se o orgulho é maior e não consegue se abrir para empatizar. Sair do piloto automático é respirar, dar empatia para si mesmo, processar o que se passa consigo mesmo. Perceber o que é importante, sentindo e dar um tempo para abrir o espaço necessário para escuta.
Podemos concluir que empatia é estar 100% presente ao que está vivo no outro no momento. Ser empático não precisa de palavras, pois nossos olhos e corpo podem ser potentes em uma escuta genuína. Quando o outro percebe que você está com ele, nenhuma palavra precisa ser dita.
Nelson Rodrigues nos deixou uma frase que utilizo a todo momento em palestras, oficinas e práticas:
“As pessoas acreditam que o mais importante no diálogo sejam as palavras. Isso é um ledo engano, pois na verdade o mais importante no diálogo é o silêncio, a pausa, que e quando as pessoas entram em comunhão e se entendem”.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre a empatia e as formas de expressão? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em falar a respeito.
Um grande abraço,
Wania Moraes
http://www.waniamoraes.com.br/
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