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À sombra do Medo: O Mito que Medo Gera Mudança

As mudanças, principalmente para o nosso bem-estar, precisam ser desejadas e ESCOLHIDAS. Se utilizarmos o medo como recurso para impulsionar uma mudança, tiramos o poder da escolha.

Existe um mito que medo gera mudança. Baseado nesta crença, vemos diversos tipos de comportamentos, principalmente em relacionamentos: pais que assustam seus filhos com “consequências horríveis” no caso de engajarem em comportamentos proibidos; profissionais de saúde utilizando estatísticas “assustadoras” para tentar convencer pacientes a aderirem à linha de tratamento proposta; parceiros(as) ameaçando abandonar em situações que desejam ver alteradas. O problema é que estas pressões não promovem mudança, pelo contrário, muitas vezes, aumentam a resistência.

Por definição, o medo é um sentimento que surge com a presença de uma ameaça. É um impulso de sobrevivência, que avisa o corpo e a mente a reagirem ao perigo com uma resposta de luta ou fuga. Esta emoção desencadeia uma reação em cadeia no cérebro e no corpo que tem início com um estímulo de estresse e termina com a liberação de compostos químicos que causam aumento da frequência cardíaca, aceleração na respiração e ativação dos músculos. A resposta ao medo é quase inteiramente inconsciente – não temos opção de escolha.

Quando falamos sobre mudanças, principalmente mudanças para o nosso bem-estar, estas precisam ser desejadas e ESCOLHIDAS. Se utilizarmos o medo como recurso para supostamente impulsionar uma mudança, tiramos o poder da escolha; invés, provocamos reações impulsivas sem intervenção da consciência.

Um estudo realizado nos EUA deixou claro que o medo da morte não é suficiente para promover mudança de hábitos. Em apenas algumas semanas após passarem por ataques cardíacos e tiverem que ser submetidos a cirurgias invasivas, 90% dos pacientes retomaram seus hábitos antigos, muito causadores de suas doenças de coração tais como ingestão de bebida alcoólica, consumo de alimentos fritos, sedentarismo, altos níveis de estresse entre outros (Alan Deutschman, Mude ou Morra).

Para complementar, pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, a maioria dos brasileiros não temem a morte. O maior medo é da dependência física, mental ou financeira – mais de 84% dos entrevistados apresentaram este medo.

Em harmonia com o estudo da Datafolha, a Teoria da Autodeterminação (self-determination theory – SDT) elaborada em 1981 por Richard M. Ryan e Edward L. Deci comprova que a autonomia é a principal motivação para o bem-estar e saúde. Um estudo multicultural (Coreia do Sul, Rússia, Turquia e Estados Unidos) indicou que a possibilidade de desenvolver práticas com autonomia individual teve tendências preditivas com o bem-estar (Chirkov, Ryan, Kim  amp; Kaplan, 2003). Vários estudos realizados mostraram que uma intervenção clínica suportiva à autonomia vinculou-se à maior motivação autônoma e maior aderência aos tratamentos (Curry, McBride, Grothaus, Lando  amp; Pirie, 2001; Georgiadis, Biddle e Stavrou, 2006; Williams, McGregor, Zeldman, Freedman  amp; Deci, 2004).

Logo, vemos que na realidade o medo causa estagnação. Geralmente, o medo está acompanhado com outros sentimentos negativos tais como ansiedade, baixa autoestima e culpa. Estas emoções geram o efeito oposto a motivar mudança, elas tendem a causar permanência no estado atual.

Quando estimulamos emoções positivas, aumentamos o nível de energia para realizar as mudanças. Em estudo realizado por Barbara Frederickson, a presença das emoções positivas aceleraram a recuperação das sequelas cardiovasculares (Fredrickson, BL,  amp; Levenson, RW (1998).)

Quando desejamos auxiliar um alguém no processo de desenvolvimento, devemos buscar encontrar motivadores positivos, principalmente ligados ao desejo de ser autônomo. O medo serve de reação imediata, mas a longo prazo aumenta a resistência e pode gerar bloquear todo processo. A próxima vez que começar a frase “Você deveria (incluir comportamento nocivo como parar de fumar, parar de beber, etc.), pois se não você vai morrer” lembre-se de que o medo da morte não é suficiente e nem eficiente para a realização de mudanças sustentáveis. Instigar o sonho de viver uma vida independente e plena será um melhor gatilho para promover o bem-estar.

A vida é maravilhosa se não se tem medo dela. (Charles Chaplin)

Sharon Feder Author
⚙️ Carevolution
Sharon Feder é formada em Psicologia pela Brown University nos EUA, com especialidade em Estudos Brasileiros e Portugueses pela Brown University e Coach de Saúde e Bem-Estar com Certificação Internacional pela Wellcoaches (EUA). Treinada no Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento (ProChange Behavior Systems). Atualmente, é Sócia Diretora na Carevolution Consultoria em Saúde e Bem-Estar, desenvolvendo programas de qualidade de vida e capacitações de profissionais com foco em mudança de comportamento, engajamento e autocuidado.
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