A Terra parou e alguns começaram a andar
Temos vivido um momento de nossas vidas que pode nos fazer lembrar do filme de apelo pacifista “O dia em que a Terra parou”, de 1951 (refilmado em 2008), com Klaatu, o alienígena, e Gnut, o robô, como protagonistas. O filme inspirou Raul Seixas e Claudio Roberto a escrever em 1977 uma letra de música que levou o mesmo nome do filme.
Voltando ao momento presente, vamos conectar o filme e a letra da música com a pandemia em que o mundo ainda está imerso, com o vírus da covid-19 como o personagem principal. No Brasil, o primeiro caso confirmado foi em 26 de fevereiro de 2020 e a primeira morte no dia 17 de março, quando então começaram as medidas de quarentena por aqui.
E, assim, o mundo começa a parar e deu-se início a um processo acelerado de reconexão de muitas pessoas com elas mesmas.
Deixamos de sair de casa para trabalhar, comprar, rezar, estudar, encontrar com amigos e familiares. Assim, conforme profetizaram Raul Seixas e Claudio Roberto, a Terra, em muitas situações, parou.
A Terra precisou parar para que muitas pessoas tivessem a oportunidade de se encontrar e se escutar. Para na presença de si mesmas pensarem e obterem maior clareza quanto ao futuro desejado, entendendo o que realmente querem e não querem nesta vida. Estes últimos quase dois anos têm sido um intenso período de reencontros muito significativos. Das pessoas com seus sentimentos, medos, desconfortos e desejos.
Igualmente tem sido uma fase de descontinuações de relacionamentos pessoais, profissionais ou conjugais. No Brasil, o número de divórcios aumentou 24% no ano de 2021, em relação a 2020. Também estamos vivendo os efeitos da Grande Renúncia, termo criado pelo professor Anthony Klotz, para explicar a grande quantidade de pedidos de demissão nas empresas. Muitas das quais ocasionadas pela busca de atividades em que haja um propósito mais elevado e, de fato, alinhado à natureza de cada um.
Crises sempre existiram e sempre existirão, por isso é tão importante refletir a respeito de como cada um de nós está lidando com a adversidade do momento.
Algumas pessoas paralisam na crise, ficam apáticas, sem rumo e se deixam abater. Outras olham as dificuldades como oportunidades para deixarem a poeira assentar, organizarem a “casa”, reavaliarem prioridades e relacionamentos, se fortalecerem, pensarem o que realmente desejam e, o mais importante, avançarem.
Um dia essa pandemia estará registrada nos livros de história, através de um texto que irá refletir a perspectiva de quem o escreveu. Mas a pandemia não é a mesma para todas as pessoas, cada um está passando pela sua própria prova, uma vez que, mesmo que os eventos externos sejam similares para todos, cada um possui uma história e um contexto de vida distintos, com personalidades singulares. Se você pedir às pessoas à sua volta para escreverem a respeito da pandemia de covid-19, não haverá versões iguais. Cada uma terá seu próprio ponto de vista, podendo ir da pior coisa que poderia ter acontecido até versões de quem conseguiu tirar benefícios e interpretou o momento de maneira positiva, vendo essa fase como uma poderosa alavanca para um futuro melhor.
Uma mesma crise pode ter várias cores, as quais irão variar de acordo com os olhos de quem a vê, provavelmente intensificando a cor que a pessoa já possui.
Com relação a como cada um lida com períodos turbulentos, podemos observar ao menos três tipos de atitudes e resultados:
- VULNERÁVEIS – Algumas pessoas não fazem nada, ficam em compasso de espera. Outras literalmente desabam na crise, ficam confusas, são relutantes às mudanças necessárias, se entregam e não raro se veem como vítimas.
- RESILIENTES – Outras se abalam e podem até cair, porém conseguem se recuperar e voltar ao estágio anterior à crise.
- ANTIFRÁGEIS – Um outro grupo de pessoas sente o impacto da crise, mas encontra maneiras de não só se recuperarem, mas saírem ainda mais fortes!
(essas pessoas são descritas no livro “Antifrágil”, de Nassim Nicholas Taleb)
Retornando ao filme de 1951, Klaatu e Gnut vieram à Terra para alertar a humanidade a respeito do risco que corríamos em razão das guerras e da corrida armamentista. Eles trouxeram um ultimato: ou mudávamos nossa atitude com relação a esses temas ou correríamos o risco de sermos eliminados. Assim como no filme, a pandemia também pode ser vista como um ultimato para muitas pessoas, para que parassem para dar atenção aos sinais do próprio corpo e escutar os próprios pensamentos, e assim voltarem a se conectar com suas respectivas essências e propósitos.
O filme trouxe o robô Gnut e a pandemia trouxe o vírus da covid-19, ambos com poder de dizimar as pessoas, ou acordá-las para uma outra maneira de viver a vida, mais pacífica e harmoniosa com elas mesmas e com os outros à volta. Tanto o filme como a pandemia trouxeram uma mensagem de que muitas pessoas não estão vivendo como deveriam. Também vieram realçar como as pessoas lidam com as crises, seja como vulneráveis, resilientes ou antifrágeis.
A pandemia escancarou a desconexão de muitas pessoas com elas mesmas e com o mundo à volta, bem como no que concerne a relacionamentos incompatíveis com seus respectivos princípios e propósitos. Também há situações onde vemos pessoas se fortalecendo e aumentando a conexão com aquilo que é importante para elas.
A Terra parou, e algumas pessoas sentaram e ficaram vendo o tempo passar. Talvez por não entenderem a mensagem do filme em que são os atores e atrizes principais. Por outro lado, outras entenderam o aviso da pandemia e acordaram, como cantou o visionário Raul Seixas. Sempre é possível acordar e começar a viver a vida certa. Crises são poderosos catalisadores para importantes mudanças. São portas de oportunidade que se abrem para um futuro melhor, porém apenas para as pessoas que se levantam e passam por ela. Querendo ou não, conscientes ou não, somos sempre os profetas de nosso destino.
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Alexandre Ribas
http://www.ttisi.com.br
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