Que bom seria ter uma praia todinha só para você, não? Seria bem mais fácil fluir nas ondas, fazer suas manobras e tomar a direção que desejasse. Poderia até se dar ao luxo de escolher a onda que quisesse.
O problema é que a sua praia nunca está deserta. Aliás, ela mais se parece com Copacabana em um domingo de sol, com gente disputando cada palmo da arrebentação. Como surfar em meio a adolescentes que pegam jacaré, nadadores de fim de semana e, principalmente, uma penca de outros surfistas?
Pois a vida é assim, como uma Copacabana lotada, e às vezes surgem pessoas que parecem impedir você de fluir. Você se empenha em fazer um projeto dar certo, mas seu chefe não lhe dá apoio – corta sua onda. Quer passar o fim de semana à toa, sem fazer absolutamente nada, mas a família inventa mil atividades que incluem você – e corta sua onda. Encanta-se com um imóvel que é justamente o que você procurava, mas quando leva sua proposta ao proprietário fica sabendo que alguém apareceu antes e fechou negócio – cortou sua onda. Então você se pergunta: a minha vida pode fluir assim?
Pode, simplesmente porque quem está surfando é você. Se alguém aparece no caminho, você pode desviar sem perder a onda. Pode também sair daquela onda e pegar outra. Na verdade, ninguém pode cortar sua onda a não ser você mesmo. Tudo depende da maneira como lida com as vontades dos outros e as suas próprias.
Não é porque você determinou que as coisas têm de acontecer desse ou daquele jeito que o restante do mundo seguirá exatamente seu script. Você pergunta então: “Mas e o plano de ação que você me mandou fazer, não serve para nada?”. Claro que sim: sem ele você nem daria o primeiro passo em direção à sua meta. Porém, quando fazemos planos para qualquer coisa – de mudar de vida a tomar um sorvete na esquina –, precisamos ter em mente que o que esperamos pode não acontecer, o que não esperamos pode acontecer e nem sempre é possível contar com a concordância de todas as pessoas. Ainda assim, as coisas poderão fluir para você – tudo depende de como você lida com essas situações.
Veja como é fácil dar aos outros o “poder” de transtornar nossa vida. Mas quem realmente causa transtornos somos nós, não o outro. Acreditar nisso nos torna poderosos, porque permite encontrar a solução para os problemas. Se uma pessoa se coloca em seu caminho, converse com ela, peça licença, negocie. Se não for possível negociar, tente ir por outro caminho, mude de onda. Mas não fique parado nem arrume conflitos desgastantes e inúteis para sua vida.
Reconheço não ser tão simples lidar com pessoas que colidem conosco, são mal-humoradas, negativas, teimosas ou antipáticas. O segredo é não entrar na sintonia delas. Ao relacionar-se com uma pessoa difícil, mantenha a consciência de quem você é, o que quer e o que não quer. Sinta seus pés no chão, fique atento à sua respiração e converse com calma. Pense antes de falar, evitando disparar reações automáticas. Muitas vezes, só o fato de não se deixar contaminar pela negatividade do outro acaba atenuando essa negatividade. De qualquer forma, o importante é você não entrar na dele, mas manter o controle emocional e o discernimento.
Caso você não consiga manter o equilíbrio e acabe ficando alterado, tenso até a raiz dos cabelos ou com vontade de esganar alguém, o jeito será apelar para a risada. Não me canso de exaltar a importância do riso, pois ele provoca a liberação de endorfinas (substâncias que promovem o bem-estar), libera tensões e combate o estresse, entre outros benefícios. Cabe dizer aqui, aliás, que cultivar o bom humor é fundamental na vida. Repare: quem é bem-humorado tem mais facilidade de relacionamento, envolve mais facilmente as pessoas porque não leva as coisas tão a sério e consegue ver o lado positivo das situações. Quem tem humor flui melhor.
Um ótimo recurso para amenizar situações de tensão e de raiva é rir por dentro. Ou seja, rir de boca fechada, deixando o som da risada ecoar por todo o corpo. Se quando ficamos irritados contraímos o corpo, rir por dentro abre o que a raiva fecha e relaxa o que o nervosismo tensiona. Está louco da vida com o chefe? Então exercite a risada interna sempre, todos os dias. Se lhe falta um estímulo para rir, use um livro de piadas, lembre-se de alguma coisa engraçada, de uma cena de filme ou situação hilária que já aconteceu em sua vida. Cultive o exercício de rir voluntariamente e você produzirá endorfina. Rir é como comer pipoca: é só começar e dá vontade de não parar mais.
Você pode achar difícil rir quando alguém o tira do sério, mas é isso mesmo que tem de fazer. Se não quiser ficar enfezado, tenso, contraído, carrancudo, enrugado e empacado, ria. É uma coisa ou outra. Ao rir, você se desarma, relaxa, esvazia. No dia seguinte, você tenta não perder o equilíbrio com aquela pessoa difícil, mas novamente não consegue evitar bater de frente com ela. Então fica nervoso de novo e tem de relaxar mais uma vez. A situação se repete dias a fio, semanas, meses. No decorrer do tempo, porém, algo pode mudar. Se você verdadeiramente persistir na ideia de que ninguém pode impedir o fluir da sua vida e tentar manter o equilíbrio, sem perder de vista o que realmente quer e o que não quer, perceberá que a outra pessoa o afeta cada vez menos. A energia que você perdia nos conflitos com ela pode ser dirigida para outras coisas, para outras maneiras de fluir.
Na verdade, o relacionamento com pessoas que parecem atrapalhar nossa vida nos traz grande oportunidade de aperfeiçoamento, pois o que nos incomoda nos outros é justamente o que não apreciamos em nós. Dizendo a mesma coisa de outro jeito: os defeitos que vemos no outro são os mesmos que nós temos. Compreende? Suponhamos que você tenha dificuldades para se relacionar com uma pessoa extremamente competitiva, que deseja mostrar que é a melhor em tudo o que faz. No fundo, no fundo, você fica incomodado com ela porque também é competitivo e não quer se sentir inferior a ninguém. Faz sentido, não faz? Se você não fosse competitivo, não daria a menor bola para a mania de “aparecer” dos outros.
Quer saber de mais uma coisa? Às vezes, temos mesmo é que agradecer às pessoas que cortam a nossa onda e nos fazem perceber nossos próprios defeitos. Ou nos deixam tão indignados a ponto de mover céus e terras para nos modificar. Já não lhe aconteceu de se sentir prejudicado por alguém e dar a volta por cima só para mostrar àquela pessoa do que você era capaz? Há situações em que só o sentimento de indignação é capaz de nos dar força para nos superar e crescer.
Espero que você esteja percebendo que nada é absolutamente bom ou ruim. É o modo como interpretamos as situações da vida que faz toda a diferença no nosso fluir. Uma pessoa difícil pode paralisá-lo ou não, dependendo da forma como você a vê e lida com ela. O prejuízo causado por alguém pode arruinar sua vida – ou despertá-lo para outra possibilidade de vida. Se você quer fluir, não pode mais culpar os outros pelo que acontece ou deixa de acontecer, mas tem de assumir que o único responsável pela sua felicidade é você. Ninguém pode cortar sua onda.
Você se lembra de uma pessoa que cortou a sua onda e o obrigou a mudar para uma onda que, mais tarde, você percebeu que era melhor? Reflita e siga em frente!
Participe da Conversa