Alta performance nos jogos, na vida, nas empresas … e na torcida
Seguindo a competição de skate nas Olimpíadas, através de um canal no YouTube, foi ótimo ver a performance de Rayssa Leal, competindo e tornando-se a atleta brasileira mais jovem a conquistar duas medalhas em dois Jogos Olímpicos diferentes.
Mas deu também para ver os comentários do público que acompanhava a exibição, torcedores que não esperavam nada menos do que uma medalha de ouro. Teve também o comentário do jornalista que, ao entrevistar Willian Lima, medalha de prata no judô, perguntou como ele se sentia com a derrota.
Quero trazer neste artigo, Aproveitando os Jogos Olímpicos de Paris, as questões de expectativas, superações, resultados e pódios.
Mas também deu para ver os comentários do público que acompanhava a exibição, torcedores que não esperavam nada menos do que uma medalha de ouro. Teve também o comentário do jornalista que, ao entrevistar Willian Lima, medalha de prata no judô, perguntou como ele se sentia com a derrota. Quero trazer neste artigo, aproveitando os Jogos Olímpicos de Paris, as questões de expectativas, superações, resultados e pódios.
Talvez, a felicidade que Rayssa demonstrou ao receber a medalha tenha deixado parte do público mais descontente ainda. Será que são torcedores de alta performance, que querem nada menos do que o ouro dos atletas para quem eles torcem, do conforto de seus sofás?
Algo parecido aconteceu também com Hugo Calderano, do tênis de mesa, que ganhava por 10 a 4 de seu adversário e, mesmo com essa vantagem, foi derrotado. Imediatamente, começaram os trends no X, com “10×4” e “Pipoqueiro”. Pipoqueiro é a gíria para um atleta ou time que falha em corresponder às expectativas e à pressão do jogo. É como se o jogador “pipocasse” diante da dificuldade, assim como um grão de milho que estoura ao ser aquecido. Tudo isso parece extremamente injusto com esses atletas.
O que você me diz sobre o resultado do Guilherme Costa, muito emocionado e triste com o quinto lugar, mesmo tendo feito o melhor resultado da sua vida e quebrado o recorde sul-americano? Ele seria medalhista em qualquer outra final de 400 metros rasos, e seria ouro em Tóquio. É assustador e triste ao mesmo tempo, quando perdemos a noção da trajetória e nos apaixonamos pelo resultado.
As reações, tanto de torcedores como de atletas, diante do pódio nem sempre refletem a jornada – nada fácil – que cada competidor percorre para chegar lá.
Rayssa Leal, com seu sorriso e seu talento indiscutível, trouxe uma nova perspectiva ao que significa ser um campeão. Enquanto alguns espectadores se prendiam à ideia de que apenas o primeiro lugar é digno de celebração, Rayssa desafiava essa noção com sua alegria genuína pelo bronze.
Esse contraste, entre a expectativa do público e a realidade do desempenho dos atletas, levanta uma questão sobre a natureza da competição e do sucesso que merece ser discutida. Para muitos, a vitória é sinônimo de superação de limites pessoais, de desfrutar o processo e de compartilhar a paixão pelo esporte com o mundo. Para outros, no entanto, a vitória é medida apenas pelo lugar mais alto do pódio. E, para esses, prata ou bronze é sinal de derrota, só o ouro importa.
Torcedores de sofá talvez sintam a pressão de um mundo onde a perfeição é constantemente exigida e qualquer coisa menos que isso é vista como falha. No entanto, o que eles podem não perceber é que cada medalha, seja ela de qual metal for, é o resultado de uma dedicação inimaginável e de sacrifícios que a maioria deles próprios não está disposta a fazer. Hugo Calderano diz treinar sete dias por semana e ter o tênis de mesa como o centro da sua vida.
Se quisermos acreditar que existe mesmo um verdadeiro espírito olímpico, ele deve ir além das medalhas. Ele está na coragem de competir, na paixão pelo esporte, no respeito e admiração pelo concorrente e na capacidade de encontrar alegria e satisfação em cada conquista, grande ou pequena. Talvez seja um bom momento para reavaliarmos nossas próprias definições de sucesso e celebrarmos as vitórias que realmente importam, onde quer que aconteçam, sejam elas pequenas ou grandes.
Os Jogos Olímpicos podem ser um espelho da vida cotidiana e do mundo empresarial. Atletas de alta performance enfrentam desafios similares aos que encontramos em nossas vidas pessoais e profissionais. A maior parte de nós, muitas vezes, espera resultados extraordinários, mas nem sempre compreende o que está além das conquistas ou medalhas.
No mundo empresarial, as derrotas são inevitáveis, especialmente em ambientes ou mercados extremamente competitivos. Mas como um atleta que falha em uma competição pode encontrar forças para se superar? Ou como um profissional ou empresa que enfrentam contratempos pode emergir mais forte e resiliente?
É aqui que entra a necessidade de uma cultura que possa dar conta de criar um ambiente onde o orgulho venha do reconhecimento de um trabalho bem-feito, não apenas de resultados, seja ele financeiro ou um pódio.
Falamos muito de superação, tanto nos Jogos quanto na vida empresarial. Na esfera corporativa, a superação está em enfrentar crises, adaptar-se a mercados voláteis, manter uma capacidade de responder e uma cultura organizacional consciente. Como dá para ver pelos comentários que esses grandes atletas receberam, a sociedade tende a julgar resultados sem ver o processo.
Esse é um dos grandes vieses e uma crença limitadora. Espera-se que competidores – e aí vale para atletas ou empresas – estejam sempre no topo, mas essa pressão geralmente joga contra, tornando-se mais um adversário. E é aqui que a saúde mental cobra seu preço. Nos jogos passados, Simone Biles deixou de competir por causa disso, enquanto burnouts são cada vez mais comuns em empresas.
Reforçando, é fundamental entender que o valor está na jornada, não apenas nos resultados finais, recorrendo àquela velha frase: o que importa é competir.
Mas isso é mais discurso do que realmente algo em que se acredita. Para mudarmos isso, precisamos encontrar formas de cultivar culturas que valorizem esforços, melhorias e aprendizados, não apenas resultados e métricas de sucesso. E isso não é fácil, porque temos que desenvolver uma mentalidade que vai contra muitas crenças sobre as quais a nossa sociedade foi construída.
Crenças têm um poder imenso sobre nosso desempenho.
Crenças ampliadoras encorajam atletas e profissionais a acreditar que podem alcançar o inimaginável, ir além e se superar. Por outro lado, crenças limitantes podem sabotar o potencial, criando barreiras onde não existem, e transformar uma vitória e uma superação inimaginável em derrota. Por exemplo, desvalorizar todo o esforço que levou a uma medalha de bronze ou prata, pode ser um sintoma muito claro do estrago que crenças assim podem fazer.
Vamos mudar isso?
Que tal olharmos mais para a jornada e menos para o resultado?
Gostou do artigo?
Quer falar mais sobre como encontrar formas de cultivar culturas que valorizem esforços, melhorias e aprendizados, não apenas resultados e métricas de sucesso? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar a respeito.
Marco Ornellas
https://www.ornellas.com.br/
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