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Àquelas que foram apagadas

Mais da metade da população brasileira é negra, segundo dados do IBGE, e são as mulheres negras que protagonizam os piores indicadores sociais do país, o que as faz serem consideradas a base da nossa pirâmide social

O papel e as condições de vida da mulher negra na Sociedade Brasileira - 25 de julho é o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha

Àquelas que foram apagadas
O papel e as condições de vida da mulher negra na Sociedade Brasileira

25 de julho é o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha. A data é um símbolo de resistência e reforça a luta histórica das mulheres negras por sobrevivência em uma sociedade estruturalmente racista e machista. Mais da metade da população brasileira é negra, segundo dados do IBGE. E são as mulheres negras que protagonizam os piores indicadores sociais do país, o que as faz serem consideradas a base da nossa pirâmide social.

Chegando ao mês de julho, em que se celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latina e Caribenha, faz-se necessária uma profunda reflexão sobre o papel e as condições de vida da mulher negra na sociedade brasileira.

No Brasil, a data formalizada pela Lei nº 12.987/2014, foi sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola, viveu durante o século 18.

Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho e a população (79 negros e 30 índios), morta ou aprisionada.

O papel e as condições de vida da mulher negra na Sociedade Brasileira - 25 de julho é o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha

Tereza de Benguela é, assim como outras heroínas negras, um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional, que, nos últimos anos, devido ao engajamento do movimento de mulheres negras e à pesquisa ou ao resgate de documentos até então não devidamente estudados, na busca de recontar a história nacional e multiplicar as narrativas que revelam a formação sociopolítica brasileira, para além da branquitude.

Tereza comandou por duas décadas a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo. Um quilombo que abrigava mais de 100 pessoas que viviam do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana, e da venda dos excedentes produzidos. Ela ainda criou um sistema parlamentar em que compartilhava as decisões com a comunidade e mantinha um sistema de defesa do território.

Assim como a história da rainha Tereza foi apagada das páginas de grandes personagens da fundação do nosso país, a história de milhões de outras heroínas negras não chega se quer a ser contadas. E quando são, raramente são histórias com final feliz, como os recentes casos de denúncia de mulheres negras escravizadas no Brasil.

Em março deste ano, uma mulher negra de 84 anos foi resgatada no Rio de Janeiro após passar 72 anos trabalhando como empregada doméstica em condições análogas à escravidão. O resgate ocorreu no dia 15 de março e a idosa foi encontrada dormindo em um sofá, em espaço improvisado como dormitório em local de acesso ao quarto da empregadora. Infelizmente esse não é um caso isolado.

No imaginário da sociedade brasileira, a mulher negra ocupa o lugar de serviçal, cujos talentos e potenciais não são valorizados ou estimulados. A condição de vida das mulheres negras no Brasil deve ser compreendida considerando o histórico escravocrata do país e a abolição sem garantia de cidadania plena.

Para piorar, de acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Covid-19 tem escancarado as desigualdades sociais e raciais no país, atingindo fortemente os cidadãos negros. Essa população está concentrada em moradias precárias nas periferias e comunidades do país, onde o cumprimento de medidas de higiene e isolamento social foi dificultado. Apesar da defasagem dos dados apresentados pelo Ministério da Saúde, em março de 2021, os números já apontavam que a doença era mais letal entre os negros.

No caso das mulheres negras, a situação tornou-se ainda mais frágil já que são um grupo predominante em cargos de cuidado, como enfermeiras e cuidadoras. Mas essa posição também tem reflexo em postos de trabalho informais, que foram desassistidos no período da pandemia, e no caso das mães solo.

Por fim, apesar de serem a maioria da população brasileira, as mulheres negras são apenas 2% do Congresso Nacional e menos de 1% na Câmara dos Deputados, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. A falta de representatividade nesses espaços perpetua a condição de exclusão dessas mulheres que estão na base da nossa pirâmide social.

Graças ao racismo e machismo estrutural, que bloqueia a mobilidade social para esse grupo de cidadãs, a famosa frase da filósofa norte-americana Angela Davis, que disse “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela” se tornou para o Brasil uma maldição: enquanto não criarmos políticas públicas efetivas de inclusão para as mulheres negras, estaremos todos condenados.

Gostou do artigo? Quer saber mais sobre políticas de inclusão para as mulheres negras? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar sobre este tema.

Kaká Rodrigues
https://www.diversidadeagora.com.br

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Kaká Mandakini tem o propósito de contribuir para a construção de uma sociedade mais humana, compassiva, não-violenta e que valoriza a diversidade em todas as suas formas de expressão. Atuou durante 15 anos no mercado financeiro em áreas comerciais, estratégicas e de apoio ao negócio. Hoje, trabalha com o desenvolvimento de lideranças, com treinamentos, processos de autoconhecimento, gestão de conflitos e apoiando o desenvolvimento e as práticas de Comunicação Não-Violenta. Também atua como professora convidada e coach na Fundação Dom Cabral e no Insper, e como voluntária no Grupo Mulheres do Brasil e na Universidade do Propósito. É palestrante, coach, master practitioner em PNL, CHO – Chief Happiness Officer, treinadora comportamental, mentora, facilitadora de práticas de Comunicação Não-Violenta, Constelação Sistêmica Organizacional, Action Learning coach e mediadora de conflitos. Ela acredita que estamos entrando em uma nova era que pulsa por valores humanos mais elevados, como propósito, colaboração, criatividade, diálogo, sabedoria, felicidade, bem-estar, realização pessoal e consciência de interdependência, e que é papel de uma liderança consciente criar o ambiente favorável para a plena expressão do potencial e da autenticidade das pessoas.
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