Cá entre nós, você já pensou em ser palestrante? Se ainda não, fica a pergunta: Por que não?
Não me refiro aqui àquelas falas informais, sem maiores comprometimentos, improvisadas, apenas com o intuito de dar informações, propondo, na sua simplicidade esclarecer algum ponto obscuro ou alguma justificativa sobre um fato ocorrido. Penso aqui em uma palestra profissional, com profundidade de conhecimentos e sabedoria, utilizando estratégias e técnicas de oratória, com a intenção de propor reflexões e gerar avanços significativos nos pensamentos, sentimentos e nas atitudes das pessoas da audiência.
Uma palestra bem estruturada, organizada e apresentada, pode ser comparada à uma obra de arte, por exemplo, na música.
Para explicar isso, cito um vídeo que questiona se você percebe a diferença de uma música tocada em um instrumento comum e em outros mais refinados, gerando sons afinados, maviosos e impactantes, acelerando o coração; as mãos suam e os pelos se arrepiam.
Um bom artista pode tocar uma música em um instrumento simples, mas ao mostrar a sua arte em um instrumento sofisticado, cria um momento de êxtase, liberando-nos a ocitocina – que é um hormônio neurotransmissor – produzindo uma sensação de prazer e bem-estar conhecido por todos nós em várias situações da vida. Uma boa analogia é ouvirmos o som de um violino Stradivarius, fabricado manualmente pelo italiano Antonio Stradivari, nos séculos XVII e XVIII, observando à emissão espetacular da sonoridade desse instrumento.
Na música, quantas emoções foram sentidas, quantos momentos de puro prazer nos foram proporcionados e tem, ao longo dos séculos criado esse momento delicado de euforia e sensibilidade espiritual. Por exemplo, com a habilidade artística maiores gênios musicais da história, como Franz Shubert, Igor Stravinski, Robert Schumann, Johannes Brahms, Antonio Vivaldi, Franz Lizt, Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig Van Beethoven e Johann Sebastian Bach; na escultura, destacamos Michelangelo, na arte da interpretação, conhecemos centenas de nomes de artistas extraordinários do teatro e do cinema, tais como Anthony Hopkins, Al Pacino, Robert de Niro, Dustin Hoffman, Tom Hanks, Morgan Freeman e atrizes fantásticas como Maryl Sreep, Jane Fonda, Angeline Jolie, Jennifer Lopez e a lista é longa, quer seja na dança, na pintura e nas mais variadas expressões artísticas.
“A música seria a mais bela das artes, se não fosse a Oratória.”
Esta frase, atribuída a Johan Wolfang Goethe, sintetizo com esse pensamento atribuindo o poder impactante que um ser humano pode produzir por meio da oratória.
Quando uma pessoa preparada assume o palco para proferir uma palestra, além do seu talento, teve a preocupação de se preparar, ensaiar, utilizando a sua acuidade sensorial perceptiva para calibrar-se à frequência vibratória dos seus ouvintes… é como um artista na sua maior expressão de gerar o impacto na razão e nas emoções, transformando mentes, inspirando atitudes e ações para algo novo e positivo.
Grandes oradores transformaram e transformam a história da humanidade. Quer seja por seu conteúdo, por sua impetuosidade ou sua crença ferrenha em um propósito, conseguindo seguidores e apoiadores para suas causas; e não estou julgando quem foi melhor ou pior, mas destacando o poder que um ser humano tem: de conduzir e mobilizar pessoas.
Alguns desses oradores mais famosos e recentes da história humana, como por exemplo: Martin Luther King Jr, Emma Watson, Nelson Mandela, Michele Obama, Steve Jobs, Barak Obama, entre outros. No Brasil, na política, alguns destaques como por exemplo: Rui Barbosa, Paulo Brossard, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Roberto Jefferson, Eduardo Campos, Fernando Collor de Melo. No mundo dos negócios, os mais famosos são Mario Sergio Cortella, Leandro Karnal, Ricardo Bellino, Prof. Gretz, e tantos outros.
O que difere um palestrante extraordinário de um comum é, essencialmente, a bagagem cultural desenvolvida ao longo dos anos e o aprimoramento da sua técnica; e não há mídia digital suficiente, por melhor que seja, para convencer as pessoas de que aquele orador ou palestrante é bom de verdade, se assim não o for.
A forja para transformar um orador medíocre (no contexto de um orador médio) em um orador bom de verdade vem com a paixão; ter a consciência da sua missão ou do seu propósito em servir, em ser congruente com aquilo que fala e faz. E não fabricados artificialmente para movimentar as pessoas, muitas vezes simples ou carentes ou facilmente influenciáveis para a venda de um produto.
Um palestrante deve ter seu objetivo claro: seus valores evidenciados em cada palavra, em cada postura respeitosa e gentil para com seus ouvintes. Falar com educação e consideração, assertividade, com histórias apropriadas para embelezar e melhor impactar as pessoas com analogias, metáforas ou imagens adequadas ao público e ao contexto.
Tecnicamente, um palestrante deve dominar a arte da conexão e do encantamento, tal como um artista com sua manifestação. Isso acontece por meio de um caminho que perpassa pelo autoconhecimento, percepção das pessoas, englobando aspectos psicológicos, físicos e técnicos. Mais detalhadamente, essa jornada é subdividida em sete dimensões, cada qual com suas nuances e conhecimentos, que são:
Dimensão Intrapessoal
Focada no processo de se observar com profundidade e amorosidade, reconhecendo, com humildade suas virtudes e seus limites, pensamentos, emoções e paradigmas. Além disso, a necessidade de adotar certos valores para a transformação pessoal, tais como por exemplo: flexibilidade, coragem, autoconfiança, alicerçadas em autoestima e crenças positivas.
Dimensão Interpessoal
É a percepção de que cada ser humano é distinto na sua maneira de ser, de sentir e pensar. Tornando o colorido da diversidade o mundo fascinante do aprendizado e da troca. Exercita-se aí a arte da empatia, do amor ao próximo, da alteridade, do respeito e da consideração. Aceitando as pessoas como são e não do jeito que gostaríamos que elas fossem.
Dimensão Vocal
É o conhecimento e a valorização desse valiosíssimo instrumento da fala, que se inicia com um processo de respiração e na expiração o ar passa pelas cordas vocais, produzindo um som básico que será moldado pela abertura da boca, pelos músculos, língua, lábios, gerando os sons das vogais e das sílabas, que juntas formam as palavras que tem um significado e que, aliadas a outras, formam as frases e os períodos, que carregam no seu bojo uma informação, um pensamento, uma emoção. A arte da fala é tão sutil que nos mostra a importância não só do significado das palavras, mas a maneira como falamos, gerando, muitas vezes, informações diametralmente opostas.
Dimensão Corporal
É nosso corpo em ação por meio dos gestos, olhar, expressão facial, postura, aparência, estilo, charme, firmeza nos movimentos, suavidade e malemolência no jeito de envolver e encantar as pessoas. Especialistas e estudiosos apontam que nosso corpo carrega a maior carga de informações no processo da comunicação, superando até o conteúdo e a própria voz.
Dimensão Técnica
Considerando toda a parafernália técnica e eletrônica, recursos audiovisuais, ambiente, disposição da sala ou auditório. Além disso, equipamentos audiovisuais, iluminação, administração de ruídos, gerando conforto para quem fala e para quem ouve.
Dimensão Intelectual
Para muitos é o ponto mais importante, pois relaciona-se ao conteúdo da informação, para conduzir a linha de raciocínio e dos pensamentos. Os geradores dos estímulos à mente consciente, das histórias a serem contadas, do uso correto da gramática e do rico vocabulário. Envolve o planejamento e roteirização do que será apresentado na exposição oral, no nosso caso, na palestra a ser proferida.
Dimensão Espiritual
Relacionada a valores, à ética, à responsabilidade social e ao posicionamento espiritual. Contém a essência da alma de uma pessoa, seu modo de pensar, sentir e reagir. Os valores funcionam como a seta de uma bússola que aponta sempre na mesma direção, sinalizando o caminho certo, norteador das escolhas e decisões.
Um palestrante, creio, é alguém predestinado a tornar o mundo ficar melhor por meio do desenvolvimento das pessoas. Quer seja instigando, provocando, emocionando, inspirando, motivando, divertindo, instruindo, orientando, não importa como. Mas a sensação das pessoas quando terminado o estímulo gerado pela palestra tem a certeza de que sua vida não será mais a mesma.
Há vários tipos de palestras, por exemplo:
- Religiosas, nas quais padres, pastores, rabinos e outros profissionais e religiosos conduzirão sermões, homilias, pregações, cada qual com seu estilo e amoldados dentro de certos princípios, que regem aquela instituição.
- Motivacionais, nas quais o palestrante irá estimular a audiência a adotar certos comportamentos e ter novas atitudes em função da palestra, quer seja para aumentar as vendas ou criar um ambiente organizacional mais harmonioso, entre tantas possibilidades.
- Técnicas, de cujo teor é dar informações sobre procedimentos, cuidados, como fazer e como não fazer diante de desafios de tecnologias, equipamentos, procedimentos e cuidados a serem tomados.
- Liderança, voltada a associações, entidades, empresas, nas quais o líder, cuja responsabilidade é orientar seus liderados a uma determinada atividade ou trabalho, com o nível de qualidade esperado, no tempo previsto.
As palestras são o meio pelo qual empresas, entidades, eventos utilizam para o compartilhamento de conhecimentos. Dessa maneira, gerando a evolução de um determinado grupo, alinhando-o às tendências do nosso tempo.
Nascemos prontos como palestrantes? Claro que não! Apesar de algumas pessoas terem um jeito apropriado e cativante para lidar com as outras, mas precisam, mesmo tendo um dom ou alguma facilidade, aprimorar seu talento com técnica e recursos. Precisam estudar, conhecer a fundo a razão do seu propósito, conhecer histórias, saber motivar e inspirar, influenciar e gerar a vontade de transformações pessoais.
Ser palestrante, hoje, é uma atividade extremamente rentável.
De fato, palestrantes renomados conseguem ganhos em uma palestra de uma ou duas horas equivalentes ao que recebiam em um mês inteiro de trabalho. Isso não significa dizer que o palestrante trabalhe apenas uma ou duas horas. Mas, certamente muito mais para pesquisa do assunto, venda do trabalho, divulgação da capacidade e, com o tempo, construindo uma carreira sólida, próspera e fascinante.
Concluo com a pergunta inicial, que gerou essa reflexão: você já pensou em ser palestrante? Se sim, ótimo. Se não, por que não? E ao concluir que sim, estaremos sempre à sua disposição para orientá-lo para a melhor alternativa dessa promissora carreira.
Reinaldo Passadori
https://www.passadori.com.br/
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