Caminhos para uma sociedade mais justa e inclusiva
A palavra Diversidade, no seu conceito mais amplo, remete à pluralidade, múltiplos aspectos. Em termos sociais pode ser aplicada de várias formas: Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa, Gênero, Orientação sexual, Racial, Geracional, Social etc.
Percebemos o quanto o ser humano é diverso em sua essência. A mera compreensão deste contexto deveria fazer com que a sociedade lidasse melhor com as diferenças, inclusive usufruindo os benefícios de tamanha riqueza, mas na prática não é o que acontece.
A sociedade foi construída através de uma cultura de privilégios onde alguns grupos foram priorizados em detrimento de outros e gradativamente a “balança” foi pendendo mais para um lado do que para outros, tornando-a desigual. Os números oficiais retratam estas desigualdades.
De acordo com o estudo divulgado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Instituto Ethos, os negros correspondem a apenas 5,3% dos cargos executivos das 500 maiores companhias brasileiras, apesar de pretos e pardos representarem 54% da população do país, segundo o IBGE. Em termos de remuneração também há desvantagens: Em relação aos homens brancos, homens negros recebem 30% menos e mulheres negras 40% menos.
As mulheres representam 45% dos cargos de liderança e recebem 25% menos, apesar de terem nível de escolaridade maior na média.
Pessoas com deficiência ainda sofrem resistências de contratação mesmo com a garantia da Lei de Cotas que após 29 anos tem apenas 35% de cumprimento.
Em se tratando da diversidade geracional, uma pesquisa da Great Place to Work, mostra que a quantidade de trabalhadores com mais de 50 anos nas 150 melhores empresas para trabalhar no País não chega a 3%, situação que se mostra mais preocupante quando identificamos que são 20 milhões de pessoas 60+ com projeção de triplicar até 2050.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE do 1º trimestre de 2020[1], o percentual do nível de ocupação de jovens de 14 a 17 anos e pessoas com mais de 60 anos é menor do que as faixas etárias intermediárias.
No mercado de trabalho, 35% dos profissionais LGBTQIA+ contam que já sofreram algum tipo de discriminação no trabalho. No grupo trans, o número sobe para 40%. Os dados são da Pesquisa Demitindo Preconceitos (Consultoria Santo Caos, 2015). Além disso o Brasil é o País que mais mata LGBTQIA+ por motivo de sua orientação e /ou identidade.
Estes números mostram que, apesar da própria constituição no seu artigo 5º, que trata do princípio da igualdade, garantir que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” ainda há muito que se caminhar. O que fazer então para equalizar as oportunidades?
Há várias opiniões a respeito. Uma delas é o modelo meritocratico, princípio que defende que a ascensão social deve ser resultado exclusivo dos esforços individuais através da qualificação e do trabalho.
Respeitando opiniões contrárias, eu entendo que num grupo pequeno, como numa empresa, por exemplo, a meritocracia pode ser aplicada com sucesso, pois normalmente haverá a ação da empresa num eventual plano de desenvolvimento individual, capacitação, acompanhamento ou geração de recursos, a fim de nivelar e aprimorar as competências, porém, quando o espectro é ampliado para a sociedade com diferenças tão discrepantes de formação, alimentação, educação, saúde a meritocracia não é tão efetiva.
Não há como colocar no mesmo ponto de partida alguém que estudou nos melhores colégios, tem uma rede de relacionamento, teve alimentos de qualidade à mesa, acompanhamento de saúde, com pessoas que não têm nem o básico ou sofrem preconceitos e têm barreiras relacionados às suas características. O desenvolvimento será outro. É a mesma coisa que colocar um carro popular para competir com um carro de Fórmula 1 saindo do mesmo ponto de partida.
É muito comum, pessoas que são contrárias às ações afirmativas para grupos minorizados defenderem conceitos como “somos todos seres humanos” ou “a melhor forma de combater o racismo e a homofobia é não falar a respeito” ou ainda dizer que é “mi mi mi”.
Concordo que “somos todos seres humanos”, uma fala que num primeiro momento pode parecer defesa da igualdade, mas temos as mesmas oportunidades? Os indicadores citados acima comprovam que não.
É importante dizer que ações afirmativas estão longe de serem classificadas como privilégios. Na realidade, o que elas buscam é diminuir os privilégios e a falta de equidade já existentes como forma de tornar a sociedade mais justa e inclusiva.
Quanto ao argumento que a melhor forma de combater racismo e homofobia é não falar a respeito, é mais irreal. O primeiro passo para algo mudar é a tomada de consciência e para que ela ocorra é preciso ter a coragem de enfrentamento: analisando o problema, encontrando soluções, debatendo caminhos, disseminando informações, buscando apoio de toda sociedade, implementando ações efetivas para correção destas injustiças.
E por fim, o famoso “mi mi mi” ninguém conhece a dor do outro senão a própria pessoa, então esta é uma fala com total falta de empatia. Algo que atinge uma pessoa profundamente pode não ter o mesmo efeito para outra. Então a única atitude a ter é respeito em vez de querer diminuir o outro.
É notório que quem age desta forma, está incomodado com as mudanças e de perder seu lugar de privilégio e tentam abafar qualquer ação em prol de uma sociedade com mais equidade por sentirem-se ameaçados.
Esquecem que uma sociedade com mais equidade beneficia além dos grupos minorizados, a sociedade como um todo. É preciso sair do seu quadrado, ir até a fonte e ouvir quem realmente é atingido pelo preconceito e diferenças sociais, pensar e construir uma sociedade de maneira mais ampla onde a equidade prevaleça, onde os muros deem lugar às pontes.
E então vamos construir esta ponte juntos?
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre como construir uma sociedade mais justa e inclusiva? Então entre em contato comigo. Terei o maior prazer em responder.
Luciano Amato
http://www.trainingpeople.com.br/
[1] https://sidra.ibge.gov.br/tabela/4094#resultado
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