Cansaço: Símbolo de Status ou Necessidade de Descanso?
A Coragem para descansar numa sociedade onde a exaustão é vista como símbolo de status.
“Requer coragem dizer sim para o descanso em uma sociedade onde a exaustão é vista como símbolo de status”.
Confesso que essa frase como muitas de Brené Brown mexeu muito comigo. Pensei ainda mais sobre a exaustão da mulher contemporânea que leva o status ainda mais ao pé da letra.
Mulheres que também estão exaustas porque se cobram uma perfeição extremamente extenuante de ter a barriga invertida, a reposição constante de colágeno, a aplicação de Botox para esconder as rugas, o corpitcho sempre de 20, os cabelos volumosos mas jamais rebeldes, o marido e filhos lindos e bem sucedidos, a bolsa da marca caríssima, o celular trocado todo ano para não ficar de fora do trend, as joias que não pode usar em qualquer lugar com medo do assalto e por aí vai…
Eu tenho para mim, que a sociedade do cansaço está na busca desenfreada do ter e do nosso distanciamento do ser. Será que estamos perdendo de vista a nossa verdadeira essência?
Sabe por que essa frase me pegou? Porque fui exatamente essa mulher exausta que buscava uma perfeição descontrolada; trabalhava 14/16 horas por dia para ter o apartamento luxuoso, o carro do ano, a viagem para Disney para os filhos, o closet lotado de sapatos e roupas que muitas vezes não tirava nem etiqueta, jamais usava… Ter a falsa ilusão de que as pessoas me admiravam e gostavam de mim por isso.
Adoeci! E não foi da noite para o dia. Foi um processo de alguns anos no qual crescia como uma árvore que só tem copa, mas as raízes estavam apodrecendo. O que estava me nutrindo na verdade não era saudável e não me fazia bem. Aos poucos, as folhas (minha vida) foram perdendo o viço e começaram a cair. O que restava eram alguns galhos secos.
Essa fui eu quando me vi na cama de hospital me perguntando o que tinha feito com minhas raízes, minha essência. Como iria recuperar os nutrientes que manteriam de pé e mais frondosa do que nunca?
Foi só aí que entendi que não era sobre TER. Era sobre ser. Ser menos perfeccionista, mais generosa e compassiva comigo mesma. Ser mais seletiva na escolha fosse da minha alimentação ou das minhas amizades. E ser menos consumista e mais essencialista. Não ser controladora e mais empática, tolerante e amorosa com o outro. Ser menos impulsiva e ansiosa. Ser mais uma realista esperançosa como dizia Ariano Suassuna. E ser menos rigorosa comigo e com quem me cerca.
Deixei de gastar com roupas, sapatos, futilidades e excessos que não me preenchiam e apenas ocupam espaços. Passei a investir em mim e a preencher a minha mente, alma e corpo com o que me fazia realmente bem por mais egoísta que pudesse parecer aos olhos dos outros.
E essa foi a grande e libertadora virada na minha vida e no meu processo de cura.
Liguei o “foda-se” para o que o outro julgava ser egoísmo. Deixei de querer ser aceita ou ter aprovação de X pessoa ou grupo. Passei a viver o prazer de me dar prazer.
Investi em mim, em processos de autoconhecimento, em alimentos saudáveis e o mais naturais possíveis, em relações não tóxicas, em retiros e espaços onde pudesse, de fato, me reencontrar comigo mesma, com a minha verdadeira essência, com a natureza e com outras mulheres que me ajudaram e me ajudam a construir a minha egrégora com pessoas que me fortalecem espiritual, mental e energeticamente.
Eu aprendi a extrair das outras mulheres a seiva que dá vida nova às minhas raízes e que leva os nutrientes necessários para que minhas folhas formem uma árvore frondosa que acolha outras mulheres também.
Deixo aqui uma de minhas poesias que fiz há alguns anos quando me sentia fraca e que estava perdendo as minhas “folhas”, a minha “copa” e a vontade de SER. (leia ao final)
A Sociedade do Cansaço
O termo sociedade do cansaço é o título de um ensaio do filósofo sul-coreano, Byung-Chul Han.
Como o nome sugere, o filósofo trata o cansaço como um fenômeno social e não apenas algo que acomete indivíduos isoladamente. Não se trata de uma abordagem psicológica ou fisiológica apenas e vai além.
Para o filósofo, o cansaço é produzido por uma sociedade que hipervaloriza o desempenho e o “sucesso” no trabalho. Han fala sobre a violência da positividade exagerada que produz pessoas mecanizadas que servem aos interesses do sistema capitalista e altamente competitivo.
O filósofo foi também quem cunhou o termo sociedade do desempenho para tratar dos efeitos nocivos à saúde do indivíduo numa realidade que, de fato, cobra constantemente produtividade e resultados, muitas vezes irreais. Num círculo vicioso de busca por desempenho, o indivíduo entra num processo contínuo de frustrações, medos, angústias, estresse… numa roda viva de produção de bens que precisam ser incessantemente consumidos.
Para piorar todo esse cansaço, entram em cena as redes sociais que promovem cada vez mais a sociedade dos iguais e reforça assim a intolerância ao diferente e à diversidade. Um espaço para o uso de filtros onde, sem dúvida, têm mais likes e seguidores aqueles que se apresentam bem-sucedidos, ricos, nos seus carrões com corpos perfeitamente sarados.
Do outro lado, estão pessoas adoecidas, exaustas, com transtornos que vão desde ansiedade à falta de atenção, foco, distorção da própria imagem, sedentarismo, depressão, burnout
Nessa sociedade do cansaço onde o que há é o adoecimento, é urgente que busquemos o descanso, o afastamento das redes em momentos de conexão com o outro, com a natureza, com o lazer, com atividades físicas, terapias, sono de qualidade.
Gostou do artigo?
Quer saber mais por que que a sociedade do cansaço está na busca desenfreada do ter e do nosso distanciamento do ser? Entre em contato comigo. Terei o maior prazer em conversar a respeito.
Cris Ferreira
https://soucrisferreira.com.br/
Confira também: Autoestima: A Liberdade de Ser Quem Você É e Deseja Ser!
Palavras-chave: cansaço, exaustão, coragem para descansar, descanso, a importância do descanso, saúde, saúde mental, bem-estar
Participe da Conversa