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Carta à Rita Lee: Obrigado por ter sido uma referência de mulher!

Um relato muito sincero sobre o privilégio de ter a Rita Lee e minha mãe como referência de mulheres. Tão diferentes, mas ambas crias de uma sociedade extremamente patriarcal e machista.

Carta à Rita Lee: Uma referência de mulher na minha história de vida!

Carta à Rita Lee: Obrigado por ter sido uma referência de mulher!

Rita, neste Dia das Mães, eu quero te contar que minha mãe nasceu em junho de 1946 e você, em dezembro de 1947, e acho isso um p*ta de um privilégio. Vocês são da mesma geração e eu, que nasci 20 anos depois, tive a sorte de tê-las como referência de mulheres. Tão diferentes, mas ambas crias de uma sociedade extremamente patriarcal e machista.

Viveram o golpe de 64 quando estavam no auge de suas juventudes e, mesmo em tempos de tanta repressão, se divertiram nos salões de carnaval impregnado do cheiro do lança perfume que “desbaratina e não dá pra ficar imune”.

Você, Rita, foi a rebelde, a “ovelha negra” da família (termo que hoje temos a consciência da carga racista que carrega, mas era como chamavam as mulheres que queriam ser livres, serem donas do seu nariz). E “um dia, você resolveu mudar e fazer tudo que queria fazer”, ouviu do seu pai: “filha, agora é hora de você assumir e sumir”.

Acho que foi por causa da sua música, cresci ouvindo que eu também era a “ovelha negra” na família porque questionava meus pais, não aceitava respostas incompletas, tinha enorme dificuldade de lidar com nãos sem porquês, namorei o cara que a sociedade escorraçava, fiz a faculdade que a “elite” dizia ser “pega marido”, estudei por teimosia e me formei, mesmo que sem testemunhas do meu feito, na colação de grau da reitoria da UFMG.

O dia que quis ser livre sem aceitar as regras da casa de meu pai, ele me disse: “filha, a porta da rua é serventia da casa”. Se um dia achei que ser “ovelha negra” da família era ruim, um dia entendi que era ato de coragem.

Ah, como nossos pais, o meu e de tantas Ritas, eram sábios ao não passarem as mãos nas nossas cabeças. Hoje, do alto dos meus 56 anos, posso dizer que “tem lugares que me lembram minha vida, por onde andei. As histórias, os caminhos, o destino que eu mudei. Cenas de um filme em branco e preto que o vento levou e o tempo traz.” Afinal, ao viver podemos escrever nosso livro de memórias, cheio de personagens “que um dia rasguei do meu cartaz”.

Rita, você escreveu sua história em letras de músicas, nas entrevistas que destilava toda a sua sinceridade, verdade honesta, irreverência, questionamentos… Roqueira quando o rock era dos “meninos”. Você segurou muita barra numa época em que “o palhaço ri dali, o povo chora daqui e o show não podia parar.” O palhaço a que se referia era o General Ernesto Geisel, presidente de um Brasil que viu você lutar pelas diretas já.

Em 1993, numa entrevista para Jô Soares, você disse: “sempre gostei de rock pesado, mas só era convidada para tocar pandeiro. Machismo puro. Roqueiro radical tem que ter culhão, né ‘meo’?”. Ah, você sempre foi feminista, mesmo sem dizer que era. E marcou mais de uma geração quando abriu alas para todas nós passarmos porque você “ligava o f*da-se e entrava decidida no mundinho considerado masculino, cantando sobre o que lhe desse na telha.”

Rita Lee, você nos deixa órfãs neste mês das mães, mas com a deliciosa certeza de que “nosso amor vale tanto e por você vamos roubar os anéis de Saturno”. Eu, aqui neste planeta, ainda tenho o privilégio de ter minha mãe e quero te contar que ela também se tornou a “ovelha negra” da família e “um dia resolveu sair de casa e fazer tudo que queria fazer”.

Aos 66 anos, fez aquela faculdade que nos anos 80 me diziam servia para pegar marido. E ela também “quer mais saúde e se cansou de escutar opiniões de como ter um mundo melhor.”

Obrigada, Rita, por um dia ter sonhado ser imortal, sem luxo nem lixo. Afinal, nós também queremos “saúde para gozar no final” ao som das suas músicas.

Feliz Dia das Mães!

Gostou da minha carta à Rita Lee? Quer conversar mais sobre essa referência na minha vida? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em falar sobre como ser dona do próprio nariz.

Cris Ferreira
https://soucrisferreira.com.br/

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Cristiane Ferreira é Coach formada pelo IBC – Instituto Brasileiro de Coaching, Professora da Fundação Getúlio Vargas com cadeiras em Liderança, Coaching, Inteligência Emocional, Técnicas de Comunicação e Empreendedorismo, Palestrante, Empresária do setor de Educação desde 1991, Graduada em Letras pela UFMG e Pós-graduada em Linguística Aplicada pela UFMG, MBA em Gestão de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Formada em Inglês pela University of New Mexico, EUA, Apresentadora do Programa Sou Múltipla, Fundadora da Associação das Mulheres Empreendedoras de Betim, Ex-Presidente da Câmara Estadual da Mulher Empreendedora da Federaminas (2014/2016), Destaque no Empreendedorismo feminino, recebeu vários prêmios entre eles o “Mulheres Notáveis – Troféu Maria Elvira Salles Ferreira” da ACMinas, troféu Mulher Líder, “Medalha Josefina Bento” da Câmara Municipal de Betim, “Mulher Influente” do MG Turismo e o “Mérito Legislativo do Estado de Minas Gerais”, Comenda Amiga da Cultura da Prefeitura Municipal de Betim.
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