Você acredita que seu modo de falar é claro e sem rodeios, que demonstra de forma concisa suas percepções, mas fica indignado quando as pessoas não o entendem e dizem que você fala de maneira bruta, quando sua intenção era apenas ser honesto.
Aí você diz: “Que droga! As pessoas não gostam de ouvir verdades!”
Aí eu pergunto: Você já parou para pensar que a maneira como se comunica pode ser agressiva, por mais que sua intenção seja boa?
Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi, aprendeu com seu avô que nós somos violentos e precisamos mudar nossas atitudes de forma qualitativa. Acreditamos que não somos violentos, porque entendemos que violência é brigar, sair no tapa, matar, espancar e guerrear; e como julgamos essas atitudes a todo instante, dizemos que não somos violentos.
Arun Gandhi aprendeu com seu avô a refletir, todos os dias, sobre suas atitudes, tanto as que envolviam violência física quanto as passivas, ou seja, as emocionais. Gandhi pediu a Arun que desenhasse uma árvore da violência, usando os mesmos princípios usados nas árvores genealógicas das famílias. Ele entendia que seu neto compreenderia melhor a não violência se conseguisse reconhecer a violência que existe no mundo. Toda noite, ele ajudava Arun a analisar os acontecimentos do dia – tudo que ele havia experimentado, lido, visto ou feito – e a colocá-los na árvore, classificando-os como “violência física” (a violência em que se tivesse empregado força física) ou “passiva” (aquela em que o sofrimento tivesse sido mais de natureza emocional).
O que mais o espantou foi que ao longo de alguns meses, ele percebeu que havia coberto uma das paredes de seu quarto de violência passiva, que Gandhi considerava tão ruim quanto a física.
Gandhi dizia que a violência passiva alimentava a raiva a ponto de tornar-se uma violência física, e podemos perceber isso no dia a dia, nas relações interpessoais no trânsito, em que muitas pessoas acabam por agredir-se fisicamente.
Vejamos um exemplo do dia a dia: você está em seu carro e deseja entrar em uma rua, mas ninguém lhe dá passagem; às vezes agem mesmo de má-fé e acabam fechando a entrada, chegando ao ponto de haver uma batida. Outra situação é quando você liga a seta para mudar de pista e, ao invés de o carro da pista ao lado reduzir a velocidade, ele acelera, impedindo-o de entrar; muitas vezes o motorista só faz isso porque não quer deixá-lo passar, porque acredita que você seja folgado; mas quando alguém faz o mesmo com ele, sente-se irado. Essas e muitas situações do dia a dia vão gerando e acumulando raiva dentro de nós e acabamos por descontar no primeiro que deixar um espaço, seja a esposa ou marido, o gestor, os filhos etc.
Pelo fato de não compreender ou analisar o conceito de violência, nenhum esforço pela paz perdura, alcançando apenas uma paz temporária.
Gandhi sempre colocou a importância do aprimoramento da comunicação nos relacionamentos interpessoais. Uma de suas frases é: “A menos que nos tornemos a mudança que desejamos ver acontecer no mundo, nenhuma mudança jamais acontecerá”. Infelizmente, a grande maioria das pessoas espera que o outro mude, porque somente com sua mudança ela própria também mudará. E muitas vezes as pessoas nem mesmo acreditam que necessitem fazer qualquer mudança. Lembre-se: a mudança é única e exclusivamente sua. Só você pode ser responsável por sua mudança. Sinto lhe dizer, mas ficar esperando que o outro mude para você mudar não resultará em nada, porque jamais teremos o controle sobre a mudança do outro; exceto sobre nós mesmos. A decisão de mudar jamais pode depender do outro, porque sendo assim jamais haverá mudança. Talvez você não saiba, mas, quando você muda, o outro pode até resistir, mas não será por muito tempo, porque à medida que for percebendo que você mudou, ele terá apenas duas possibilidades: ou muda também ou se afasta.
Em 2014 terminei uma pós-graduação em Dinâmicas dos Grupos e com duas amigas fizemos um trabalho final, que deverá ser publicado em breve como artigo e analisamos exatamente esse contexto: Que impacto a mudança de um indivíduo tem sobre o outro? Que impacto a mudança do outro tem sobre mim? E como o entorno é impactado? Você pode assistir ao filme A fonte das mulheres, no qual baseamos nosso estudo.
A Comunicação Não Violenta (CNV) só poderá dar certo se a utilizarmos diariamente, se persistirmos, se passarmos das atitudes negativas para as positivas. Que vantagem eu levo ao deixar de fazer as coisas por motivações egoístas? Isso acontece porque vivemos em uma sociedade esmagadoramente materialista na qual o individualismo prospera.
A CNV vem para resgatar nossa essência, que é de amor e compaixão, mas que perdemos ao longo do caminho, como bem dizia Marshall Rosenberg.
Você pode fazer diferença em sua vida, na de sua família, de seus colegas, de sua comunidade, de seu grupo de amigos, na sociedade e no mundo.
“Os outros podem ser estímulo para nossos sentimentos, mas não a causa” – Marshall Rosenberg
Participe da Conversa