Por muito tempo, a inteligência foi avaliada pela capacidade intelectual dos indivíduos. O Quociente de Inteligência (QI) é uma medida padronizada obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas de um individuo. Contudo, estudos longitudinais (método de pesquisa que acompanha o desenvolvimento dos indivíduos por vários anos) mostraram que o QI não é o fator determinante para a realização pessoal e profissional.
Nesse cenário dois novos conceitos surgiram ao longo dos últimos anos: a inteligência emocional (QE) e a inteligência espiritual (QS). Grandes pesquisadores contribuíram nessas novas descobertas, o psicólogo Daniel Goleman que realizou pesquisas representativas em QE e a física e filósofa Dana Zohar que trouxe a abordagem do QS.
Os parâmetros do mercado de trabalho estão mudando e novas competências tornaram-se fundamentais, tais como: iniciativa, empatia, sentido, capacidade de adaptação e persuasão. Além da formação acadêmica e especialização, hoje o que importa é a forma como lidamos com nós mesmos e com os outros.
Se observarmos o mercado de trabalho, identificamos uma série de tendências que nos mostram o quanto o trabalho da inteligência emocional e espiritual tornaram-se indispensáveis. Uma primeira tendência é a atuação das empresas de forma enxuta. E a medida que as organizações encolhem, as pessoas que ficam recebem mais e maiores responsabilidades e tornam-se mais visíveis. Assim, não é mais possível ocultar um temperamento explosivo ou uma timidez excessiva.
Outra tendência, é o cenário de instabilidade e insegurança em relação ao emprego. Não existe mais garantia de emprego em lugar algum. Esse contexto contribui para a disseminação do medo, da apreensão e da confusão. Para sobreviver torna-se necessário o desenvolvimento de qualidades interiores como resistência, inciativa, otimismo e adaptabilidade.
E ainda, com as Geração Y e Z, podemos perceber um perigoso paradoxo do QI em alta e QE em baixa. À medida que as crianças são mais espertas, em termos de QI, sua inteligência emocional vem declinando. As crianças e jovens tornaram-se mais solitários, deprimidos, indisciplinados, nervosos, ansiosos, impulsivos e agressivos. E essa geração está chegando ao mercado de trabalho.
E no meio desse cenário sombrio, surge uma luz. Ao contrário do QI que se desenvolve na infância, e pouco se modifica depois da adolescência, o QE e QI podem ser aprendidos e modificados ao longo da vida, com as experiências que acumulamos. Assim, a experiência de vida e a condução de um processo de Coaching focado no desenvolvimento dessas novas competências pode apoiar o individuo.
Para ficar mais claro, vou delinear quais são essas competências. Ao desenhar o mapa da competência emocional, Daniel Goleman divide-o em dois grandes grupos de competência: as competências pessoais que determinam como lidamos conosco e as competências sociais que determinam como lidamos com nossos relacionamentos.
Dentro das competências pessoais existe a autopercepção, capacidade do indivíduo conhecer seus estados interiores e intuições por meio da percepção emocional, autoavaliação precisa e autoconfiança. Temos também a autorregulação, que é a capacidade do individuo lidar com seus próprios estados interiores por meio do autocontrole, responsabilização, adaptabilidade e inovação. E por fim a motivação, que envolve a vontade de realização, iniciativa, otimismo e dedicação.
Dentro das competências sociais temos a empatia e aptidões sociais. A empatia envolve nossa capacidade de compreender e desenvolver os outros e a percepção do grupo. Já nas aptidões sociais encontramos a capacidade de influência, comunicação, liderança, gerenciamento de conflitos, formação de vínculos, colaboração e cooperação.
Já no caso da Inteligência Espiritual (QS), Dana diz: “A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos em uma cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual”. Para a filósofa ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor.
O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. Hoje falta-nos um sentido profundo de objetivos e valores fundamentais. Essa crise de significado é a causa principal do estresse na vida moderna e também das doenças. A busca de sentido é a principal motivação do homem.
Em 2011, numa entrevista para a revista Exame, Dana Zohar disse que as pessoas poderiam desenvolver melhor o seu QS tomando consciência das dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes e trabalhando para desenvolvê-las. Procurando mais o porquê e as conexões entre as coisas, trazendo para a superfície as suposições que fazemos sobre o sentido delas, tornando-nos mais reflexivos, assumindo responsabilidades, sendo honestos com nós mesmos e mais corajosos. Tornando-nos conscientes de onde estamos, quais são nossas motivações mais profundas. Identificando e eliminando obstáculos. Examinando as numerosas possibilidades, comprometendo-nos com um caminho e permanecendo conscientes de que são muitos os caminhos.
Enfim, fica claro que não é um trabalho fácil e que apenas o processo de Coaching não pode dar conta de tudo isso. Mas o processo reflexivo incitado por meio de sessões e ferramentas de Coaching pode ser um primeiro passo. Mas antes de se aventurar nesse mundo, o coach deve se perguntar como está sua própria QE e QS. Afinal, não podemos dar aos outros aquilo que não temos.
Participe da Conversa