Coaching Solidário na Pandemia
“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.” (Franz Kafka)
Antes de tudo, quero trazer aos leitores e leitoras, o que significa solidariedade para mim, pois há uma infinidade de definições, divulgadas todos os dias. Desde muito jovem, ouvia meus pais dizerem que para ser solidário, precisamos aprender a doar o que falta e não o que sobra. E isso sempre me chamou muita atenção. Anos mais tarde, fui entender o que eles queriam dizer. Porque não é muito fácil dividir com o outro o pouco que julgamos ter ou o que conseguimos amealhar a partir do nosso trabalho.
Aprendi também, que, se não temos coisas materiais ou recursos financeiros para compartilhar então podemos doar tempo. E, assim, fui construindo e solidificando meu espírito solidário até chegar à idade adulta.
Ao analisar a origem da palavra solidariedade, dois termos derivados do latim são encontrados, solidum (totalidade, segurança, total) e solidus (sólido, maciço, inteiro).
Pesquisando sobre as possíveis interpretações sobre a solidariedade e mais uma vez, me deparei com uma infinidade delas, fiz uma lista de oito (08):
- estado ou condição de duas ou mais pessoas que repartem entre si igualmente as responsabilidades de uma ação, empresa ou negócio; respondendo todas por uma e cada uma por todas;
- laço ou ligação mútua entre duas ou muitas coisas dependentes umas das outras;
- compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas outras e cada uma delas por todas;
- condição grupal resultante da comunhão de atitudes e sentimentos, de modo a constituir uma unidade sólida de grupo capaz de resistir às forças exteriores. E tornar-se ainda mais firme em face da oposição vinda de fora;
- dependência mútua entre as pessoas;
- sentimento que leva as pessoas a se auxiliarem mutuamente;
- relação mútua entre coisas dependentes;
- termo de origem jurídica que, na linguagem comum e na filosófica, significa:
- interrelação ou interdependência;
- assistência recíproca entre os membros de um mesmo grupo.
Solidariedade para mim, é como uma segunda pele para quem a vida ensina que não é possível ir muito adiante em voo solo. No contexto da pandemia de Covid-19, solidariedade tornou-se de fato a palavra de ordem para aqueles que já entenderam, e outros que aprenderam a duras penas, que ninguém se salvará sozinho.
Desde março de 2020, as redes de solidariedade espalharam-se pelo mundo. E no Brasil não foi diferente, as redes se estabeleceram em todos os cantos desse país com dimensões continentais. Em forma de cestas básicas, de marmitas para pessoas em situação de rua, de doação de alimentos, de itens de higiene pessoal. Além disso, equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde, que estão na linha de frente no combate ao Coronavírus.
Foi assim, que surgiu no Brasil, a Rede Pessoas Para Pessoas (Rede PPP) inspirada no movimento iniciado pela ICF Região Latino América como uma ação pontual de solidariedade para a Venezuela. Ação que se concretizou em 2017 com o objetivo de prestar apoio e assistência constante às pessoas em situação de crise e vulnerabilidade social.
Para isso, a Rede PPP conta com metodologia específica, com sólidas bases conceituais, construída para apoiar os assistidos na busca de possibilidades e na geração de ações que os levem à autonomia.
Com o tempo, o escopo do trabalho foi expandido e passou a atender outras pessoas que enfrentam situações de vulnerabilidade social em diversas partes do mundo.
Hoje a Rede PPP é formada por mais de 105 profissionais de coaching. Presentes em países como Venezuela, Argentina, Brasil, Chile, México, Colômbia, Porto Rico, República Dominicana, Equador, Canadá, Estados Unidos, Bélgica, Itália, França, Espanha e Hungria. Mas continuamos crescendo através do espírito de solidariedade que cada um dos seus membros na Rede desde quando levantam a mão dizendo aqui estou. E firmam um compromisso solidário, consciente, responsável, possível e realizável para continuar com os objetivos traçados pela Rede PPP.
Durante 2020, aproximadamente 1.000 pessoas foram atendidas em diversos países da América Latina, nos Estados Unidos, e na Europa (Itália, Alemanha e Noruega).
No Brasil a Rede PPP foi formada por um grupo de coaches, a partir de um pedido de ajuda de uma Unidade Básica de Saúde em São Paulo, mais especificamente o SAMU. A partir deste pedido, o grupo percebeu que neste momento delicado de pandemia, poderíamos expandir as ações da rede para o Brasil e desde julho-2020, iniciamos os atendimentos no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e Goiás. O grupo de Coaches da Rede PPP busca através do cuidado, da compaixão e da escuta, apoiar essas pessoas ao atuarem diante de desafios, em um contexto de tanta adversidade.
Hoje, a Rede Pessoas para Pessoas Brasil está preparada para apoiar pessoas ligadas, direta ou indiretamente, às áreas da saúde e da educação que enfrentam os desafios do contexto de descontrole da pandemia provocada pelo Covid-19, oferecendo assim um ambiente acolhedor e seguro.
Particularmente atendi ao chamado do grupo PPP, por ter como inspiração, além dos ensinamentos de meus pais, uma frase de Eduardo Hughes Galeano, jornalista e escritor uruguaio, que dizia:
“Eu não acredito em caridade, eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e propicia aprendermos com o outro.”
Essa forma de voluntariado me dá a satisfação de contribuir para um mundo melhor, e por vezes me pego a pensar que isso é um grão de areia, mas é a minha contribuição para que todos nós que formamos a sociedade contemporânea, vivamos uma vida mais plena e feliz.
Sinto que, ao longo dos tempos e de nossa era, fomos levados pelo materialismo e nos desviamos daquilo que viemos fazer neste mundo, e infelizmente, muitos de nós perdemos nossa essência de fluir e desfrutar enquanto suprimos nossas necessidades, desde as mais básicas até as de autorrealização. Em vez disso, vivemos uma vida sem sentido, sem um propósito claro, sempre preocupados e estressados em ter cada vez mais (um carro melhor, uma casa maior, um salário mais alto, mais reconhecimento dos outros) para citar algumas. E foi assim que o “ter” ganhou destaque e o “ser” foi ficando esquecido.
O propósito dos grupos de Coaching Solidário que conheço, é cuidar de quem cuida e de quem educa, e também o bem-estar de pessoas em situação de vulnerabilidade social. É prazeroso testemunhar o crescimento e desenvolvimento destes grupos de Coaching Solidário ao redor do mundo.
Importante lembrar que Coaching não tem nada a ver com terapia e nestes casos, trabalha pelo progresso das pessoas e grupos mais desfavorecidos, excluídos ou em risco de exclusão social, pelo empoderamento pessoal e liderança, para que possam sair sozinhos das situações de marginalização e discriminação social.
Como coaches, nosso compromisso com o desenvolvimento social e humano procura abrir espaço para todos que realmente desejam trilhar um caminho de autodesenvolvimento. E esta é mais uma razão para praticarmos o coaching solidário!
Neste período de reviravolta de hábitos, novos projetos e incertezas, não fique sozinho com suas dúvidas e preocupações, procure apoio através de um processo de coaching. Coaching é um instrumento de autoconhecimento sem igual que explora o contexto presente e futuro. É um processo criativo que instiga a reflexão e visa inspirar as pessoas a organizarem suas prioridades e maximizarem suas competências, diante das complexidades, incertezas e medos, inclusive aqueles, provocados pela Covid-19.
Curiosamente nestes últimos meses, tenho testemunhado que, para recuperarmos a noção da convivência em sociedade e em família, esta pandemia nos isolou em nossos próprios mundos. O mundo do qual fugíamos logo cedo, dirigindo um veículo com mais de quatro assentos vazios, em direção ao trabalho. O momento também nos convida a lembrarmos de que somos seres humanos e vivemos em comunidades uns com os outros. Como cidadãos devemos ter uma preocupação pelo bem comum. Com muita frequência, pensamos nos cuidados de saúde como se fossem qualquer outro produto de consumo que compramos, quando, ao contrário, os cuidados de saúde estão construídos sobre um modelo de conhecimento sustentado pela infraestrutura pública, que pretende atender a imensa e esmagadora maioria da população, mas que padece com a falta de conhecimento de gestão e não raro é acometido pelo mal da corrupção.
Como saúde e educação caminham juntos, precisamos de muito investimento e de muita infraestrutura para alcançarmos um nível de qualidade pelo menos aceitável para a educação, alimentação e saúde, a meu ver a única saída para nossa sociedade. E se nos colocarmos dependentes das políticas públicas de nosso país, correremos o risco de sucumbirmos, daí a importância das ações solidárias, sejam elas quais forem. Como apaixonado pela prática do coaching, defendo que os coaches no Brasil, apresentem-se e engajem-se mais em ações solidárias.
Para mim, coaching é um ato de solidariedade, e considero uma pena que pessoas com menos possibilidades econômicas não possam se beneficiar do coaching. É por essa razão que parte de minhas horas de trabalho são gratuitas (pró-bono). Às vezes, eles precisam tanto ou mais do que as pessoas que podem pagar pelos processos.
Faço ainda, um alerta para as leitoras e leitores; além de fazer parte de causas sociais e ajudar pessoas que não conhece e que estão em necessidade, lembrem-se também de olhar ao seu redor, para os seus entes mais queridos, pois a solidariedade também os inclui.
Esteja atento para perceber quando um(a) amigo(a), familiar ou vizinho(a) estiver precisando de apoio, estenda a sua mão, ouça o que eles dizem com atenção.
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João Luiz Pasqual
Coach MCC/ICF, Coach Mentor Certificado e
Accredited Coaching Supervisor
joaoluiz@cw4u.com.br
Referência:
Rede Pessoas para Pessoas Brasil
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