O prompter, a IA e o seu comportamento
Olá.
Ultimamente as novidades de tecnologia estão me deixando mais nostálgico. Não querido leitor, isso não é um paradoxo, é um fato! Desde garoto, tenho fascinação por literatura de ficção científica, particularmente sobre Isaac Asimov e suas leis da robótica.
Se você não teve contato ainda com este escritor, recomendo fortemente uma visita. Seus contos são espetaculares. Mas, esta não é uma coluna sobre ficção científica e sim sobre comportamentos.
Desde o estabelecimento do uso comercial da Internet, vivemos uma verdadeira revolução de costumes, muito baseado em nossa crença de que “se existe na Internet, existe de fato!”. Contudo, em setembro de 1998, as coisas mudaram definitivamente. Até então, para se obter determinado conteúdo era preciso antes, conhecer o seu originador.
As páginas e portais da WEB estavam em endereços específicos nos famosos www alguma coisa. Para localizar, era preciso conhecer o criador e, mais que isso, conhecer onde ele havia hospedado seu site.
Em setembro de 1998 nascia a Google como um buscador que concorria com os demais para agilizar o acesso as informações. Como em todos os produtos que são gratuitos, o produto na verdade é o usuário, essa gigante rapidamente abocanhou o mercado tornando-se um padrão.
Até aí tudo bem. Ótimo que temos um buscador padrão. Do ponto de vista comportamental o problema veio depois, muito depois. Cerca de dez anos depois quando as respostas do buscador passaram a ser comparadas com a verdade e posteriormente, se sobrepuseram à verdade.
Pare e pense um pouco: Quantas pessoas você conhece, talvez você mesmo, que se consultaram com o Dr. Google para obter um diagnóstico de uma doença, partindo de sintomas percebidos ou mesmo partindo de resultados de exames de laboratório. E destas quantas questionaram seus médicos pois haviam visto que…
Somos muito propícios a acreditar naquilo que queremos acreditar. Novidade? Não.
Já fazíamos isso a muito tempo com a televisão e antes disso com o rádio. Em outubro de 1938 na noite de halloween, Orson Welles utilizou o rádio para transmitir uma suposta invasão de marcianos.
O que era uma chacota de época tomou enormes proporções, causando pânico e correria, dando um exemplo de que como, do ponto de vista comportamental. temos a inclinação a acreditar no que os mecanismos de informação em massa nos transmite.
Pois bem. Chegamos aos dias atuais e diferentemente do Google e demais buscadores que localizam e distribuem, de acordo com seus interesses comerciais, conteúdos produzidos por pessoas – aqui não vou questionar a índole destes – nos deparamos com elementos de construção de conteúdo a partir de algoritmos, o que estamos denominando genericamente de IAs (inteligências artificiais).
A mais badalada do momento é o ChatGpt do inglês: Chat Generative Pre-Trained Transformer, empresa criada em 2018 por anda menos que Sam Altman e Elon Musk (que deixou a empresa em 2020) e lançado em 2022 de maneira ampla para aumentar seu aprendizado.
Pois bem, como o próprio nome diz, estas ferramentas são treinadas previamente, ou seja, elas aprendem com o que existe ao seu redor e conseguem elaborar respostas estruturadas, criando conteúdo a partir do que já existe.
Embora não seja um especialista no uso destas novas ferramentas, já me aventurei em algumas consultas e realmente a forma como os dados são apresentados são assustadoramente bem elaborados e convincentes.
Contudo, seu comportamento, assim como todo “organismo” em desenvolvimento é bastante literal fazendo aquilo que se pede dele, sem a interpretação de contexto. Uma ótima ferramenta. Mas, somente isso, uma única ferramenta.
Sua existência em si não oferece nenhum risco. O risco que estamos presenciando cabe unicamente ao comportamento dos humanos envolvidos no processo, destacando-se para duas vertentes e uma nova função.
A primeira vertente está na aceitação de tudo o que a tal “inteligência” nos apresenta. Fazemos uma pergunta e recebemos uma resposta. Sem pensar, sem questionar, sem pesquisar.
O algoritmo passa a ser nosso novo oráculo, promovendo replicação de suas respostas, retroalimentando o sistema até que elas sejam tratadas como verdades. A segunda vertente está no comodismo.
Pessoas que capturam as respostas da IA e inserem com alterações ou não, em documentos, artigos e pesquisas como se fossem de sua autoria, levando outros humanos a acreditarem nisso. Esta segunda vertente é um problemão.
Já temos notícias até de códigos de programação desenvolvidos pelas IAs, implantados em sistemas corporativos. – Lembro aqui que as IAs possuem donos e donos possuem interesses.
Por fim, a nova função, o prompter. Iniciei esta coluna falando de saudosismo. Antigamente prompter era uma entrada de dados em um sistema nos PCs ele era identificado pela aparição de um C:> onde você digitava um comando e o computador respondia.
Como as IAs são literais, saber perguntar tornou-se uma habilidade que poucas pessoas dominam – Digitar de maneira correta no prompt da ferramenta – faz toda a diferença na hora de obter respostas, voltando assim ao mesmo ponto da origem da Internet. É preciso saber o que se quer para poder se obter a resposta mais adequada. Assim como na vida, assim como nos comportamentos.
Pensar antes, estruturar sua pergunta e fundamentalmente, verificar o nível de acurácia da resposta. Caso contrário, nosso comodismo nos levará a replicar o que uma IA replica ao ouvir o que falamos.
Pense nisso!
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Edson Carli
https://inteligenciacomportamental.com
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