Um dos elementos da CNV (Comunicação Não Violenta) é a observação e como separá-la da avaliação.
De acordo com a Wikipédia, observar consiste em perceber, ver e não interpretar. A observação é relatada como foi visualizada, sem que ideias interpretativas sejam desenvolvidas. Ela também pode ser entendida como verificação ou constatação de um fato, podendo ser tanto espontânea ou casual, quanto metódica ou planejada. […] Uma das regras do método científico é a da não interferência do observador no ambiente ou nos processos observados. (WIKIPEDIA).
Dentro da CNV, a observação segue a mesma linha, ou seja, observar sem acrescentar nenhuma avaliação ou interpretação. Na medida em que incluímos uma avaliação ou interpretação do que nos está sendo dito, diminuímos a possibilidade de as pessoas escutarem nossa mensagem, pois elas poderão entender como crítica e deixar de escutar.
A proposta da CNV não é eliminar completamente a avaliação, mas, sim, separar nossas observações e nossas avaliações. A proposta da CNV é que deixemos de estimular as generalizações, porque as avaliações devem basear-se sempre em observações específicas de cada momento e contexto.
Wendell Johnson, proponente da semântica geral, observou que somos os responsáveis por nossos problemas, pois utilizamos uma linguagem estática para expressar ou captar uma realidade que está sempre em mutação. Em Comunicação Não Violenta, de Marshall Rosenberg (2006), Johnson diz que:
Nossa linguagem é um instrumento imperfeito, criado por homens antigos e ignorantes. É uma linguagem animista, que nos convida a falar a respeito de estabilidade e constâncias, de semelhanças, normalidades e tipos, de transformações mágicas, curas rápidas, problemas simples e soluções definitivas. No entanto, o mundo que tentamos simbolizar com essa linguagem é um mundo de processos, mudanças, diferenças, dimensões, funções, relações, crescimentos, interações, desenvolvimento, aprendizado, abordagem, complexidade. E o desencontro entre este nosso mundo sempre em mutação e as formas relativamente estáticas de nossa linguagem é parte de nosso problema. (JOHNSON apud ROSENBERG, 2006, p.50).
Não podemos prestar atenção apenas nos rótulos negativos (como preguiçoso, burro ou egoísta), mesmo sendo eles mais evidentes, porque um rótulo positivo ou aparentemente neutro também limita nossa percepção da pessoa como um todo.
Uma das coisas mais difíceis é observar sem avaliar, porque fazemos isso constantemente, a cada minuto, em cada situação que se nos apresenta. Estar em constante vigilância e alerta, tomando verdadeiro cuidado com nossas colocações e permitindo-nos olhar sob outra perspectiva, contribui para sair desse lugar.
Vamos supor que você tenha na sua área, no seu grupo de relacionamento, uma pessoa que incomoda o grupo. Normalmente a tendência é fazer comentários de caráter avaliador, em vez de em colocar especificamente o comportamento que incomoda. Então, como exercício, podemos fazer o seguinte:
- pergunte ao grupo o que a gestão ou a pessoa está fazendo que entra em conflito com as necessidades de vocês (grupo, equipe, time);
- preste atenção se as colocações expressas estão totalmente isentas de avalição;
- crie uma lista específica que identifique os comportamentos da pessoa que incomoda o grupo, lembrando que ela deve ser isenta de avaliações ou interpretações;
- lembre-se que ser sincero não é dizer que o outro está errado, por exemplo, quando você tem um amigo que fala muito e você diz para ele: “Você fala mais do que a boca”. Nesse caso, você estará fazendo uma observação aliada a uma avaliação, e é bem provável que seu amigo receba isso como crítica.
É muito difícil mudar nossa forma de nos expressar e é preciso muita persistência e vontade para mudar.
No Quadro 1 abaixo, veja alguns exemplos comparativos de observações e avaliações, para exercitar.
Quadro 1 – Exemplos de observações avaliativas e observações isentas de avaliação
Comunicação | Exemplo de observação com avaliação associada | Exemplo de observação isenta de avaliação |
Utilizar verbos com conotação de avaliação. | Solange está sempre deixando as coisas para depois. | Solange estuda apenas na véspera das provas. |
Confundir previsão com certeza. | Se você não comer, ficará doente. | Se você não comer, temo que sua saúde seja prejudicada. |
Não ser específico a respeito das pessoas a quem se refere. | Meu filho é bagunceiro. | Não vejo meu filho buscando se organizar. |
Usar palavras que denotem habilidade sem indicar que se está fazendo uma avaliação. | João é péssimo jogador de futebol. | Nas últimas partidas, João não marcou nenhum gol. |
Fonte: Adaptado do Livro CNV-Comunicação Não Violenta, Marshall Rosenberg.
Vale lembrar que quando utilizamos os advérbios sempre, nunca ou jamais de forma exagerada, eles podem estar associados a avalições das observações feitas, e isso tende a provocar reações defensivas no outro.
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