Uma das coisas que me deixam intrigada é o que acontece com as pessoas que têm medo dos conflitos e de enfrentá-los de forma direta. Elas ignoram o evento, as pessoas e tudo que está envolvido. As pessoas que temem o conflito tendem a abandoná-lo e se menosprezam no processo, não valorizando seus próprios interesses.
Já outras pessoas não têm medo do conflito e são agressivas ao extremo, podendo atropelar, no sentido figurado da palavra, machucar, ofender, podendo ser egocêntricas, valentonas e arrogantes.
Outro lado que percebo nos conflitos é que, às vezes, o lugar de vítima da situação é mais confortável do que o enfrentamento.
Existem diferenças entre todas as pessoas. Cada uma pensa, reage, sente, se emociona, tem sentimentos, percebe, imagina, tem experiências e conhecimentos próprios. Fazemos escolhas conforme todo esse arcabouço. Além disso, temos opiniões contrárias e incompatibilidades, o que faz com que nossa vida e nosso desenvolvimento estejam sempre em evolução.
Entra-se em conflito quando alguém vivencia as diferenças de modo a sentir-se impedido pela ação do outro, e assim não vive as próprias imaginações, sentimentos ou o que faz sentido para ele.
Quando se entra em conflito, surje uma barreira na capacidade de percepção e com isso as pessoas envolvidas criam diferentes imagens da realidade, levando à agressão e fazendo as diferenças aumentarem; como a coisa não para aí, o outro se inflama, tornando o problema e as agressões ainda maiores. As pessoas envolvidas no conflito não percebem as seguintes modificações na área:
- a atenção torna-se seletiva;
- incômodos sobre o outro se sobressaem;
- a percepção do tempo é prejudicada;
- acontecimentos são distorcidos e percebidos de maneira enviesada;
- situações e coisas complexas são percebidas de forma simplista;
- só se vê aquilo que se deseja ver, com base nas próprias crenças e modelos.
Nos conflitos as pessoas costumam ver tudo em branco e preto: generalizam, entram na polarização. A grande questão dos conflitos, além das percepções difusas, embaçadas e distorcidas, é que eles também se tornam fixos e se aprofundam cada vez mais, ficando difícil mudar. Conforme o conflito vai crescendo, as imagens que os envolvidos formaram um do outro vão desfocando cada vez mais, assim como a visão da pessoa real.
Conforme o conflito aumenta, cada vez mais cresce a armadura que os envolvidos se colocam e também a desconfiança; com isso o que era positivo no outro deixa de existir, e vice-versa.
Ter diferenças não é problema; a questão é como cada um lida e convive com elas.
O incômodo provocado pelo conflito é ruim, sim, e também é importante para aprendermos a regularizar nossas emoções e a lidar com as diferentes formas de pensar, sentir, agir, querer e viver.
A solução do conflito só poderá surgir quando ambos puderem abrir um espaço de permissão interna e aí baixar as barreiras. Mas baixar as barreiras não significa que haverá um vencedor ou perdedor, e, sim, que ambos poderão encontrar soluções que permitam com que voltem a conviver de forma harmoniosa.
O que muitos não sabem é que o não enfrentamento dos conflitos pela fuga ou pela reação agressiva fará com que as situações voltem para que sejam vivenciadas novamente até que a pessoa perceba a importância de lidar com elas.
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