Um assunto recorrente e que causa bastante divisão de opiniões é a amplitude e efetividade das cotas.
Algumas pessoas se colocam contra, pois consideram cotas privilégio de determinados grupos.
Numa análise mais superficial tal afirmação poderia ser verdadeira, mas ao analisar um contexto mais amplo percebe-se que, se há algum privilégio, não é para estes grupos beneficiados pelas cotas.
Primeiro é importante compreender que cota é uma proposta temporária, que visa promover a equidade com a finalidade da meritocracia ser aplicada de forma mais justa, ou seja, elas são complementares e não antagônicas e excludentes.
Acredito que todos podemos ter opiniões, mas baseá-las em números oficiais é imprescindível para fortalecê-las e dar credibilidade.
As cotas para pessoas com deficiência no mercado de trabalho definem que empresas com mais de 100 funcionários contratem uma porcentagem de pessoas com deficiência em seu quadro de funcionários, da seguinte forma:
- 100 a 200 empregados – 2%;
- 201 a 500 empregados – 3%;
- 501 a 1.000 empregados – 4%;
- Acima de 1.000 empregados – 5%.
Segundo o IBGE, há no Brasil 45 milhões de pessoas com deficiência, sendo 27 milhões em idade economicamente ativa.
Se a lei de cotas fosse integralmente cumprida teríamos 1,3 milhão de pessoas com deficiência contratadas, mas na realidade são apenas 450.000, ou seja, 1% do total.
Em relação aos negros, dados do IBGE e Instituto Ethos, demonstram que apenas 5% ocupam cargos de liderança.
Em 2005, um ano após a implementação de ações afirmativas, como as cotas, apenas 5,5% dos jovens pretos ou pardos na classificação do IBGE e em idade universitária frequentavam uma faculdade. Em 2015, 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior.
Outro grupo que sofre discriminação são os LGBTs. Um estudo feito pela consultoria Santo Caos, 43% dos entrevistados relataram que sofreram algum tipo de discriminação por sua orientação ou identidade de gênero em 2015.
Outro estudo mais alarmante, elaborado pela empresa Elancers em 2015, demonstrou que 38% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBTs para cargos de chefia e 7% em hipótese alguma.
Quando tais características (raça, gênero, orientação, identidade, deficiência) se sobrepõem o grau de exclusão se multiplica.
Tais números, remetem à conclusão de que um dos maiores obstáculos para determinados grupos é a exclusão do mercado de trabalho proporcionado direta ou indiretamente, consciente ou inconsciente pelo preconceito.
Os números comprovam que ainda temos um caminho longo a percorrer pela dificuldade das pessoas lidarem com diferenças.
Certamente que a equidade é um processo demorado, mas não é possível deixar de fora pessoas que têm direitos como qualquer outra enquanto a equidade não acontece e como caráter temporário as cotas ainda são o caminho mais curto para atingi-la.
Então, em vez de acreditar em privilégios, que tenhamos a sabedoria para compartilhar oportunidades, pois a construção de uma sociedade mais justa é responsabilidade de todos.
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