E de repente você se vê mãe. Mais um papel em meio a tantos outros que você já busca maestria. Entretanto, este, não pode ser anulado ou deixado de lado como temporariamente fazemos com o papel de profissional, o de amiga e às vezes até com o papel de filha ou esposa (que meu esposo não me ouça, mas de fato acontece). Existe ali um serzinho indefeso totalmente dependente de você para cuidar. Que até pra respirar às vezes precisa de ajuda.
Quando minha filha nasceu, escolhi me dedicar 100% a ela e viver intensamente a maternidade. Deixei marido, familiares, amigos em segundo plano e o que eu mais amava fazer que era trabalhar com desenvolvimento vivencial, tive que abdicar temporariamente por ela. Eu queria aquela experiência da forma mais profunda possível. Os dias foram passando e percebi que essa escolha não foi totalmente voluntária. O momento me exigiria isso de qualquer forma.
Com ela, chegou junto um montão de novidades: as noites sem dormir, as cólicas, os choros que no começo não fazia ideia do que poderia ser, a amamentação, a clausura por conta das vacinas que ainda não haviam acontecido, o cabelo caindo, a pele feia, o corpo que ainda não havia se recuperado, a falta de tempo até pra ir ao banheiro, a indisposição. Deus! Ser mãe não é nada fácil, muito menos se aproxima das imagens naqueles anúncios lindos que vemos nas revistas onde aparece sempre uma mãe radiante, com um cabelo brilhante, super em forma e sorridente com seu bebezinho lindo que mama e dorme tranquilamente. Ser mãe de fato é um ato de total doação. Claro que todas essas “surpresas” são compensadas pelos sorrisos e olhares mais encantadores da terra. Mas essa fase de pós-parto é bem difícil.
Junto com todas essas novas atividades, me vi saudosa da vida que tinha antes. Da correria diária com os negócios, com meus clientes… eu me sentia incrivelmente útil e especial porque estava cumprindo ali a minha missão de vida: ativando identidades e clarificando propósitos! Mas quem foi que falou que ser mãe também não faz parte dessa missão?! Ninguém. Porém, até que eu enxergasse isso, foi um tempinho sofrendo por querer e não poder voltar à ativa.
Pensava o tempo todo. Como me reinventar profissionalmente vivendo nessa minha nova realidade com uma bebezinha tão pequena e dependente de mim? Conversando com o meu marido, decidimos organizar um quarto sem função na casa, como escritório para que eu voltasse a ativa, pelo menos com os atendimentos individuais. Ele se comprometeu chegar em casa todos os dias às quatro e meia da tarde, para que eu me organizasse e iniciasse os atendimentos das cinco da tarde até oito da noite. Com 27 dias do nascimento da minha filha, voltei à ativa.
Estava tão feliz e empolgada. Poderia finalmente voltar a viver um pouco daquilo que tive que abrir mão para viver a maternidade, ainda que fossem três horas por dia, sem sequer sair da minha casa. Aos clientes que me procuraram, sempre deixava claro essa minha condição para o atendimento em relação ao local e horário e pra maioria deles estava tudo bem. Em dias que não tinha clientes, poderia utilizar o tempo para estudar, me atualizar, enfim: aquelas poucas horas eram só minhas para que eu as utilizasse como eu definisse. Isso foi tão libertador, a ponto de me renovar, inclusive no papel de mãe, porque, por mais que, enquanto coach, estamos lidando com dores de outras pessoas, eu conseguia tirar meu foco por um tempo da árdua missão que recentemente iniciara. Uau, como isso faz diferença na vida de uma mãe.
Trabalhei assim por um ano e cinco meses, quando decidimos colocá-la na escolinha, já que víamos maturidade e segurança nela para isso. Sucesso absoluto. Nunca nos deu o menor trabalho que fosse, nem no período de adaptação. Sempre foi e voltou com alegria. Isso me deu ainda mais tempo para atuar e também para cuidar de mim. Abri novos horários de atendimento, voltei a malhar e também a estudar de forma mais sistematizada, como sempre fiz.
Hoje ela tem dois anos e dois meses de vida, ainda estuda meio período e continuo nessa jornada corrida, me dividindo nos vários papeis que me cabe. Minhas tardes são com ela de forma plena. E, além de compartilhar um pouco dessa rotina tão comum do mundo materno, esse era o assunto principal que eu gostaria de abordar e que é tão importante para uma execução com maestria, seja qual o for o papel ou atividade desempenhada: a atenção plena!
Não é novidade para ninguém que a tecnologia facilitou e muito a nossa vida em todos os sentidos. Porém, também não é nenhuma notícia nova, que o seu mau uso tem gerado problemas imensos nos relacionamentos, nas entregas e prazos profissionais e até mesmo na execução de atividades simples. E as redes sociais vêm sendo coroadas como as grandes vilãs e responsáveis por isso. Isto posto, enquanto executo esse meu papel tão importante (talvez o maior que já desempenhei) que é ser mãe, sempre procurei vivenciá-lo de forma intensa e inteira. Confesso que me vi muitas vezes cansada e buscando “fugir dali” por alguns instantes viajando virtualmente pelo facebook ou instagram. Mas logo, meu estado consciente alerta me sinalizava que havia alguém ali querendo atenção de verdade e isso me fazia me desconectar da rede para me reconectar a ela.
Quantas histórias de crianças que se feriram seriamente e algumas foram até a óbito (vi dezenas de caso de afogamentos) por negligência dos pais ou cuidadores que se distraíram por segundos no celular?! Que tristeza. E tudo por pura falta de priorização e autorresponsabilidade. Dá pra fazer tudo o que queremos. A questão é: o que é de fato prioridade pra você naquele momento?
Estar com minha filha durante todas as tardes me ensina tantas coisas, que inclusive aplico no âmbito profissional. Aprendi que criatividade, concentração e foco são habilidades que só podem ser desenvolvidas a partir desse estado de atenção plena: estar inteiramente presente no que estiver fazendo. Afinal, de que adianta estar com ela, sentada no chão para um momento de brincadeiras, sendo que junto eu leve o celular e esteja resolvendo coisas de trabalho ou navegando na internet? De que adianta sair com um amigo para um café e bate papo se os dois estão com as cabeças baixas conectados com pessoas que não estão ali naquele momento? Como eu posso atender de forma presencial se, enquanto meu cliente preenche a ferramenta ou algum exercício, eu volte minha atenção para o que um conhecido postou numa rede social qualquer? Incongruência no mínimo, eu diria.
Como disse há alguns parágrafos atrás, a tecnologia veio para melhorar nossas vidas, quando bem utilizada. E enquanto coaches, nos é fundamental para a geração de valor e conteúdo. Porém o exagero no seu uso, além de causar um desgaste virtual, pode gerar problemas graves dentro de nossas casas, no meio da nossa família e até dentro de nós. Isso por conta da comparação com aqueles que seguimos, além da procrastinação latente que se torna hábito. Tudo isso, porque ao invés de cuidarmos de nossas vidas e nossos interesses, transferimos esse cuidado e atenção para gente que nem sabe quem somos, mas admiramos, idolatramos e desejamos ser como eles.
Dia desses ouvi uma expressão que antes, pra mim, soava de forma agressiva e deselegante, mas que hoje faz total sentido: “Vá cuidar da sua vida!” Pra mim ela se tornou relevante, porque quem toma conta da própria vida e de seus próprios interesses, não tem tempo para tomar conta da vida alheia! Afinal de contas, quais são os benefícios de seguir famosos para simplesmente saber quem casou, quem separou, quem emagreceu, quem engordou? O que isso adiciona positivamente em nossas vidas, especialmente nas vidas daqueles que precisam se virar nos trinta para dar conta de tudo como verdadeiros equilibristas girando vários pratinhos de uma só vez?
E a atenção plena é fundamental para focarmos em nossas prioridades. Então, lá vai um segredo aqui dessa mãe que vos fala e cuida de uma mocinha esperta e espoleta de dois aninhos, que tem diarista uma vez por semana, marido pra cuidar, pais vivos (graças a Deus), irmãos, amigos, clientes e que pretende engravidar mais breve do que vocês imaginam: Se você quer dar conta do recado, primeiro passo é sair do papel de vítima ou coadjuvante que às vezes você está e passar a ser de novo a protagonista da própria vida. Segundo, seja organizada planejando tudo, priorizando o que realmente é importante no dia, na semana, no mês e de preferência, antecipando possíveis crises ou problemas que possam ocorrer. E por fim, viva o total estado de presença, vivendo realmente o hoje e o agora.
Dessa maneira, é possível conciliar carreira, maternidade, relacionamento amoroso, amigos e todas as outras esferas da nossa vida com prazer, alegria e eficácia.
Por aqui, percebi que a maior sacada era adaptar aquilo que eu gostaria de viver à minha nova realidade! Então, como minha filha acorda às seis e vinte para ir à escola e tenho muitas coisas para fazer nas quatro horas que ela fica lá, eu acordo às quatro da manhã todos os dias. Acreditem, descobri que esse negócio de dormir de oito a dez horas por dia é mito. Fico super bem o dia todo com apenas seis horas (quando consigo dormir às dez da noite, porque geralmente pego no sono lá pelas onze). Ao despertar, faço minhas orações, meditações, visualizações, leituras, estudos, ativo minha linguagem corporal e tomo um belo banho frio (isso mesmo que você leu aqui: banho frio! Pesquise na internet os benefícios do banho frio e nunca mais você vai querer saber de ligar o chuveiro na posição verão ou inverno.). Pronto! Estou preparada pro melhor dia da minha vida.
Se mantivermos nosso foco e atenção plena no hoje e agora, cuidando da nossa vida e nos preocupando única e exclusivamente com nossos interesses, não tem como dar errado. Não existe a menor possibilidade de não dar certo, ainda que sua rotina seja exaustiva e às vezes até meio louca.
Ao final do dia, analisando tudo o que vivi, às vezes penso: “surreal a quantidade de coisas que fui capaz de fazer! Me sinto exausta, porém feliz e realizada por executar tudo o que planejei com excelência e consciência!”
Voltar ao trabalho depois da experiência materna, não foi fácil. Isso, porque sou empreendedora e pude me organizar previamente para passar seis meses exclusivamente como mãe (não consegui nenhum mês completo, como puderam ver). Imagino que, para aquelas que trabalham em algum órgão público ou na iniciativa privada, seja tão difícil quanto ou até mais sofrido.
Entendi que, para que isso ocorra e você não desanime por conta da rotina exaustiva na execução dos outros tantos papéis, é preciso ter clareza em seu propósito e missão de vida. Só a necessidade de se trabalhar pelas benesses financeiras, não serão capazes de sustentar tal “investimento” de tempo e energia.
Então mamães que também amam e se dedicam às suas carreiras profissionais, o negócio é simples, porém não é fácil: organizem-se, priorizem o que de fato é importante, tenha atenção plena durante a execução de cada atividade e cuidem de suas vidas, não perdendo tempo com a vida de mais ninguém que não agregue. O resultado disso é maestria, felicidade e aquela sensação de realização e prosperidade em todas as áreas da vida que ultrapassam todas as barreiras do cansaço.
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