Olá!
O último feriado foi um daqueles períodos convidativos à preguiça em família. Minha família é pequena em comparação às famílias brasileiras. Somos dez pessoas ao todo e destes, cinco decidiram passar o feriado juntos. Estávamos eu, minha esposa, minha sogra e meu casal de filhos que cursam universidade fora de São Paulo, o que tornam estas oportunidades de reunião cada vez mais especiais.
Temos nossa casa nas imediações de São Paulo, mas também, mantemos um refúgio no interior, em uma bela cidadezinha, bem interiorana e tradicional que comemora o feriado de Corpus Christi com os tapetes coloridos, procissões e muita festa, assim decidimos passar estes dias por lá.
O dia amanheceu cinza, friozinho com cara de quero cama, mas mesmo assim, meu relógio biológico acostumado com os horários da cidade, trânsito, às vezes aeroporto e muita correria não me deixou passar de 07:30 na cama.
Levantei na ponta dos pés, deixei a esposa dormindo um pouco mais, ela merece, sai pé ante pé pelo corredor pude ver meus filhos enrolados nas cobertas e confortáveis em seus quartos, sem se preocuparem com horários e nada que acontecia do lado de fora.
A casa estava bastante fria, pois é uma casa de campo com muitas árvores no entorno, então resolvi acender a lareira para “quebrar” a friagem enquanto esquentava uma chaleira ainda sem decidir se faria chá, café ou um belo chimarrão. Acabei decidindo pelo chá.
Na varanda já estava como sempre pontual o jornal do dia entregue pelos mensageiros. Gente boa este pessoal que madruga para que possamos ter informações de ontem no primeiro momento de hoje. Curioso isto.
Em tempos de Internet, tablets, tweets e coisas imediatas, ainda têm gente que faz um esforço danado para entregar em nossa casa um objeto com notícias impressas, cuja vida durará menos de meia hora a um custo de pouco mais de um dólar.
Tem coisas que desafiam a relação custo-benefício. Mas, o jornal está ali, a lareira está ali, o chá está ali, o mundo está quieto. Decido curtir o momento de paz e ver o que acontece no mundo quando vejo uma manchete falando sobre os sobreviventes da crise e dentre os comentários havia algo que se destacava:
“Aqueles que sobreviverem, terão sucesso! ”
A mente começa a viajar e relembro as tantas palestras que ministrei sobre carreira e sucesso onde sempre pergunto para as pessoas o que significa “ter sucesso” e todas as respostas diferenciadas que recebia. Dinheiro, poder, mulher bonita, noite bem dormida, paz. Aí penso em todas as pessoas que em suas carreiras hoje em dia estão tentando sobreviver aos tempos revoltos. Não somente pensando em ter sucesso, mas também pensando em sobreviver.
Obviamente não estamos discutindo a sobrevivência física, mas sim a sobrevivência profissional. A capacidade de desenvolver-se em sua área de especialidade, trabalhando com satisfação pessoal e sendo reconhecido por isso, o que no meu modo de ver também significa sucesso.
Viro mais duas páginas e me deparo com as notícias sobre tendências mundiais e que o stress derivado da rotina profissional já é de longe a principal causa de doenças crônicas em países desenvolvidos. Gente tentando sobreviver à crise, empresas buscando fazer mais com menos, metas cada vez mais arrojadas o stress aumentando e as pessoas adoecendo. Este é o cenário que estamos vendo no momento e na minha cabeça fica a pergunta martelando. E para você Edson, o que é o sucesso?
Em breve fará cinquenta anos que habito este planeta sob esta forma física. Desde de muito pequeno, ouvia meus pais dizerem coisas do tipo:
É preciso trabalhar duro para ter sucesso;
É preciso estudar duro para ter sucesso;
É preciso inteligência para ter sucesso;
Veja fulano como é bem-sucedido.
Este tal de sucesso, eu não sabia exatamente o que era, mas sabia que não tínhamos e que era uma coisa difícil de conseguir, pois tudo que precisava fazer para conseguir, sempre era muito duro. Outra coisa que eu não sabia era como reconhecer o sucesso. Como saberia que ele chegou?
Ter sucesso era um cargo executivo? Tipo assim, diretor? Hummm, não. Estive lá e ainda achava que o sucesso estava por vir.
Talvez, se fosse diretor, mas de multinacional? Destes que viajam bastante de classe executiva e fazem vídeo conferências em cinco línguas diferentes? Também não. Já estive lá também e continuava trabalhando duro para ter sucesso.
Então o negócio era ter o próprio negócio. É isso, ser empresário. Poder definir o próprio caminho, conquistar clientes e mercado. Isso sim é sucesso. Só que não. Empresários são guerreiros que buscam seu lugar ao sol todos os dias e lutam em busca do sucesso.
Talvez, se eu fosse famoso? Um pouco famoso pelo menos? Tivesse um livro? Mais de um e virasse palestrante? Este seria um bom caminho. Também não. Já estive lá e continuo buscando ser bem-sucedido.
As lembranças foram passando na minha cabeça e nem me dei conta do tempo, o barulho da lareira a caneca de chá, tudo isso me prendeu em um mundo de lembranças que quando me dei conta a casa havia acordado e todos estavam à mesa para o café da manhã, com cheiro de pão fresco, café de bule e aquelas coisas que só fazemos quando estamos com tempo e na casa de campo. Minha esposa me chamou e sentei como de costume à cabeceira da nossa mesa da sala de jantar olhando a família à mesa, todos brincando, rindo e comendo. Acredito que foi neste momento que entendi o que meus pais quiseram me ensinar quando falavam do trabalho duro e do estudo para para ter sucesso.
O sucesso não é algo que está lá fora. Ele está dentro de nós. Nossa atividade profissional é um caminho, a forma para conquistar dias de paz, com o coração tranquilo, com aqueles que amamos à nossa volta.
Simples assim.
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