Em tempos de Educação 4.0, onde a criatividade é mais importante que a habilidade de seguir regras, como formar indivíduos Conscientes e Consistentes?
A consolidação da Revolução Industrial e todas as suas mudanças para o mundo moderno, desenvolveu a necessidade de mão de obra qualificada em favor de uma maior e melhor produção nas fábricas que necessitavam destas qualificações. O objetivo desta escola era formar e capacitar pessoas para uma determinada área, habilitá-la a um ofício. O ensino, não considerava o conhecimento humano integral. O modelo básico sempre foi a do professor mestre e o aluno aprendiz. Este modelo ainda é o que temos implantado.
A partir da Revolução 4.0, o estudante não é apenas preparado para um futuro emprego. É acima de tudo preparado para a compreensão do mundo em que está inserido. A escola não é mais o lugar para aprender a trabalhar, mas o ambiente em que o desenvolvimento das habilidades técnicas, do desenvolvimento emocional e da responsabilidade social, o ajudam a interagir de forma consciente e consistente, na sociedade em que vive. A Educação 4.0 estimula pessoas para serem cidadãos capazes de inovar e solucionar problemas, em qualquer campo de conhecimento. Dessa forma, preparam os futuros profissionais para profissões que ainda estão surgindo. São multidisciplinares e, acima de tudo, criativos. Pela primeira vez na história recente da humanidade, a criatividade é mais importante que a habilidade de seguir regras.
Quais são os desafios da Educação 4.0? Então como formar indivíduos Conscientes e Consistentes?
O grande desafio da escola neste cenário é de desenvolver capacidades que ainda não são conhecidas. E, ainda assim, capacitar o indivíduo para usar a tecnologia de forma saudável e produtiva, criando soluções relevantes para a comunidade e transformando realidades. Antes mesmo da absorção deste conceito, ingressamos no mundo 5.0, onde buscamos entender o impacto da tecnologia no cérebro humano e, por conseqüência, a forma como aprendemos.
Tudo isso, segundo o estudo, Navigating the Future of Learning: Forecast 5.0 (“Navegando pelo futuro da aprendizagem: uma previsão 5.0”) – realizado pela Knowledge Works, abre as portas para novos modelos de educação, por meio dos quais o aluno ocupa o centro do ensino-aprendizagem e lidera o processo, enquanto o educador ocupa a posição de mentoria e curadoria de conteúdo, e a escola faz parte de um ecossistema que inclui comunidade, centros de pesquisa, empresas, equipamentos culturais, dentre outros.
Educar jovens para se tornarem protagonistas de sua vida, capazes de unir a tecnologia à inteligência social e emocional. Dessa maneira, criando soluções impactantes para a sociedade ou as comunidades em que estão inseridos é exatamente o objetivo da Educação 5.0. Fica claro que tanto a revolução 4.0 como a 5.0 ressignificam a importância das competências socioemocionais para o século XXI.
As competências Socioemocionais
Estamos em busca de pessoas que saibam se comportar diante de situações complexas que envolvem equilíbrio e saúde emocional. Para preparar as crianças para o mundo do trabalho do futuro, é importante desenvolver competências como:
1. Teoria dos Big Five
Abertura a novas experiências (tendência a ser aberto a novas experiências estéticas, culturais e intelectuais); consciência (inclinação a ser organizado, esforçado e responsável); extroversão (orientação de interesses e energia em direção ao mundo externo, pessoas e coisas); amabilidade (tendência a agir de modo cooperativo e não egoísta); estabilidade emocional (previsibilidade e consistência de reações emocionais, sem mudanças bruscas de humor);
Big Five começou a ser estruturado no início da década de 1930, quando McDougall sugeriu analisar a personalidade a partir de cinco fatores independentes
2. Partners for 21st Century Skills (Parceiros para Habilidades do Século 21):
Coalizão, surgida nos Estados Unidos, relaciona uma série de competências e entre elas as competências socioemocionais, como as habilidades para o aprendizado e para a inovação (criatividade e inovação, pensamento crítico e resolução de problemas, comunicação e colaboração) e as habilidades para a vida e a carreira (flexibilidade e adaptabilidade, iniciativa e autonomia, habilidades sociais e interculturais, produtividade e capacidade de assumir compromissos, liderança e responsabilidade).
Partners for 21st Century Skills: Fundada nos EUA como uma organização sem fins lucrativos por uma coalizão que inclui membros da comunidade empresarial nacional, líderes educacionais e formuladores de políticas. Promove uma conversa nacional sobre “a importância das habilidades do século XXI para todos os alunos” e “posiciona a prontidão do século 21 no centro da educação de ensino fundamental e médio dos EUA.
3. O Centro de Referências em Educação Integral
Lista competências relacionadas ao desenvolvimento emocional (autoconhecimento, estabilidade emocional, resiliência, coerência, sociabilidade, abertura ao novo e responsabilidade) e ao desenvolvimento social (sustentabilidade econômica, sustentabilidade ambiental e sustentabilidade política).
Centro de Referências em Educação Integral promove, desde 2013, pesquisa, desenvolvimento metodológico, aprimoramento e estratégias e que contribuam para a agenda de Educação Integral no Brasil, apoiada por vários representantes da sociedade brasileira. Conta com a chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco).
4. Relação Prioritária de Competências e de Valores
Por fim, os participantes da Série de Diálogos realizada pelo Inspirare, Porvir e Instituto Ayrton Senna, apresentaram relação prioritária de competências (autoconhecimento, amabilidade, autoconfiança, autocontrole, autonomia, comunicação interpessoal e intrapessoal, cooperação, engajamento, interesse por aprender, motivação) e de valores (amor, gratidão, gentileza, humildade, senso de justiça, respeito, solidariedade).
Apesar dos avanços nas últimas décadas, o Brasil ainda precisa trilhar uma longa trajetória para atingir a aprendizagem desejada. Trilhar sem deixar de lado a necessidade de investir nas novas aprendizagens e nas novas maneiras de aprender e se relacionar com o conhecimento requeridas pelo mundo contemporâneo. O desafio é, portanto, olhar para o futuro sem descuidar dos déficits do passado. Procurar caminhos para encurtar a distância que nos separa dos melhores sistemas educacionais do mundo.
Um dos caminhos que vem se provando mais eficaz para fechar essas lacunas é o investimento nos aspectos e competências socioemocionais para alavancar a aprendizagem. Pesquisas realizadas em diversas áreas do conhecimento – como educação, psicologia, neurociências e economia – revelam que o desempenho cognitivo dos alunos é beneficiado quando esse grupo decisivo de competências é acionado e desenvolvido de forma intencional.
Valorizar e desenvolver essas habilidades não significa rejeitar a relevância dos conteúdos curriculares tradicionais, mas oferecer mais um canal de apoio para que todos os envolvidos no processo educacional possam planejar, executar e avaliar ações mais equitativas e eficientes. O desenvolvimento consciente e estruturado dessas competências na escola surge, portanto, como uma oportunidade valiosa para acelerar a melhoria da qualidade da educação no Brasil e assim formar mais e mais indivíduos conscientes e consistentes.
Fonte: Global Education Leaders’ Program Brasil
Sandra Moraes
https:// www.linkedin.com/in/sandra-balbino-moraes
Confira também: Desenvolvimento de competências
Participe da Conversa