Recentemente, me deparei com um post com este titulo e fiquei pensando o que exatamente poderia estar por trás de tal afirmação. O que tenho observado é que estamos vivendo em meio a uma enxurrada de informações e modismos. Uma palavra começa a ser falada e banalizada de tal maneira que muitas pessoas parecem repeti-la como papagaio sem saber exatamente do que se trata e seu verdadeiro significado.
Na mesma direção, aparecem aqueles que repetem a palavra, mas tentam desvalorizá-la criando uma nova onda ao redor daquele vocábulo. Aconteceu com as palavras empoderamento, mindset, networking, ressignificação e, é claro, com PROPÓSITO. É bom deixar claro que os “modismos” são muito ricos e inevitáveis, uma vez que a língua é muito dinâmica e tem vida própria. Palavras nascem e morrem, ficam mais populares em determinadas épocas e caem em desuso em outras. Se ela vai sobreviver por um longo período ou não, vai depender do quanto os nativos a utilizarão.
A palavra DITADURA é uma das que voltou com tudo nos últimos anos e está associada a questões politicas e à forma de governar de alguns líderes, sejam eles de esquerda ou direita, não importa. Ditadura pressupõe a imposição autoritária de um individuo ou grupo sobre os outros, suprimindo ou restringindo os direitos individuais. Num regime de ditadura, há um total cerceamento da liberdade de escolha e de expressão, de pensar criticamente, de ir e vir. O modelo deve ser rigorosamente seguido e jamais questionado.
Já a palavra PROPÓSITO vem do latim, proposĭtu, e significa intenção. Diz-se daquele que tem a intenção de realizar algo, que tem objetivos, metas e uma missão. Seja na filosofia ou nas religiões, o propósito de vida do ser humano é a FELICIDADE. A grande questão e que vai diferenciar as religiões e os pensamentos filosóficos é exatamente sobre o que é felicidade.
Para os budistas, por exemplo, a felicidade está em propiciar a própria felicidade e do outro buscando a paz no mundo. Para os católicos e cristãos, a felicidade está na cessante busca do encontro com um único Deus e na salvação da alma. Já para os pensadores politeístas, ou seja, aqueles que acreditam em mais de um deus, como Epicuro, que acreditava que os deuses eram seres vivos e felizes porque eram incorruptíveis.
Em grego, a palavra felicidade é EUDAMONIA que significa, “eu” bom, e “damonia” demônio. Ou seja, o demônio bom. Thales de Mileto que viveu entre os séculos VII e VI a.c. dizia que feliz é aquele que “tem o corpo forte e saudável, boa sorte e alma bem formada”. E para ele, boa sorte era daquele que tinha um demônio bom. Interessante é que, neste período, entre os séculos X e V a.C. houve uma onda de pessimismo e os filósofos acreditavam que a maioria das pessoas carregava um demônio mal. Tanto que foi aí que surgiu a famosa tragédia grega.
Sócrates acreditava que só seria possível atingir a felicidade por meio de uma vida, cuja conduta fosse virtuosa e justa. Para ele, a alma era mais importante que o corpo e deveríamos almejar termos o bem da alma. Discípulos de Sócrates, como Antístenes, acrescentou a ideia de autossuficiência e Aristóteles, a ideia da ética, trazendo para o campo politico o ideal de felicidade dos cidadãos qual sejam a liberdade, a boa saúde e boas condições sociais e econômicas. Para muitos filósofos, a felicidade estava diretamente ligada à sensação de prazer. E os neurocientistas ja detectaram que ativamos um gatilho de recompensa que está diretamente ligado à motivação e prazer. O que consequentemente, cria a sensação de felicidade.
Diante de toda essa reflexão, me proponho a responder à pergunta título deste artigo com algumas perguntas. Você acredita mesmo que PROPÓSITO é mais um modismo ou que todo ser humano tem pelo menos um grande propósito na vida? Se o propósito de todo ser humano é ser feliz, seus propósitos podem ser diferentes dependendo das influências religiosas, filosóficas, ambientais e do seu momento de vida? Será que falar em DITADURA do propósito não é forte ou exagerado demais? Você sente como se alguém estivesse lhe oprimindo ou colocando uma arma na sua cabeça e lhe obrigando a ter um propósito? Ou você faz suas próprias escolhas e busca aquilo que verdadeiramente lhe dê prazer e faça sentido na sua vida? Aliás, qual o seu verdadeiro propósito e o que você tem feito para atingi-lo? Você diria que no fundo, no fundo, também busca a felicidade e que este é o seu propósito de vida?
“Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está passando inutilmente.”
(Érico Veríssimo)
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