Para começar, Marshall Rosenberg criador da abordagem e do Centro de Comunicação Não Violenta, assim como, Roman Krznaric, filósofo, historiador da cultura e membro-fundador de The School of Life, em Londres, onde tive o prazer de conhecê-lo no ano passado, afirmam que todos somos Homo Empathicus. Em seu livro O poder da empatia, Krznaric diz que neurocientistas identificaram conjuntos de circuitos neurais de empatia em nosso cérebro. Estes podem ser danificados ou não desenvolvidos. Também temos o lado egoísta e ambos são muito fortes. Segundo Krznaric, o mundo atual está passando por um processo de transição em que não podemos pensar somente em nós mesmos, mas também no outro. Ele coloca a necessidade de transição da era cartesiana – “Penso, logo sou” – para uma era empática – “Você é, logo sou”.
Ser empático requer exercício diário; requer ativar a escuta ativa e fazer mudanças de mindset quando estamos numa interação de comunicação, seja ela com quem for. Fazer mudanças, às vezes, pode parecer algo fácil, mas não é. Segundo Robert Kegan, todos nós temos imunidade à mudança e investigar como isso se processa dentro de cada um de nós será importante para essa jornada. Neste momento não vou detalhar como somos imunes à mudança, já que o foco é a empatia, mas é importante que você saiba.
Praticar a empatia requer esforço para se colocar no lugar do outro, inclusive das pessoas de quem não se gosta, que são os inimigos, para poder reconhecer sua humanidade, individualidade e perspectivas.
Quando viajamos, entramos em contato com novas culturas e formas de viver. Estranhamos certas atitudes e comportamentos, mas depois percebemos que são comuns para as pessoas que vivem lá. Quando nos colocamos no lugar de quem vive nessa cultura, também estamos praticando a empatia.
Quantos de nós resistimos a conversar com estranhos, preferindo ficar sérios ou fingindo que nem estamos vendo? Saiba que quando agimos assim, perdemos a oportunidade de praticar a empatia, porque quando iniciamos uma conversa com alguém desconhecido, podemos aguçar nossa curiosidade. Eu adoro praticar a empatia conversando com pessoas desconhecidas. Costumo dizer que o outro não é um estranho, apenas alguém que ainda não conheço.
Outra forma de praticar a empatia é por intermédio dos livros, filmes, das redes sociais e da arte, buscando transportar-nos para a mente do outro.
Como seria se, ao invés de sentir pena do mendigo que dorme debaixo da ponte, você pudesse se transportar para o lugar dele? Sem teto, sem cama, sem comida, sem segurança… Isso me dá arrepios.
Em 2001, quando recebi um diagnóstico de câncer, eu acreditava que o que estava ouvindo das pessoas era empatia; não entendia por que ainda ficava zangada com essas falas. Foi depois de estudar Coaching – e uma das competências do coach é a empatia/escuta ativa – que percebi onde estava a questão. Por exemplo, quando eu dizia que estava com câncer, o que mais ouvia era: “Você é forte”; “Você vai dar conta”; “Você é guerreira e vai sair dessa logo”. Mas, na verdade, o que eu precisava era de um abraço, de alguém que apenas me ouvisse, alguém que dissesse: “Deve ser muito difícil lidar com essa doença”. Mas as pessoas não sabem dizer isso porque nunca passaram ou realmente não se colocaram no meu lugar. Lembro que quatro anos depois de ter tido câncer, uma colega do trabalho chegou de uma consulta médica em que o exame deu câncer de mama, estágio 3. Todas as pessoas que foram falar com ela disseram as mesmas coisas que eu ouvi e ela ficou muito triste. Depois que todos saíram, virei para ela e disse: “Eu sei o que você está sentindo; você perdeu o chão. É duro! E o que posso fazer é lhe dar um abraço e dizer que estou aqui para o que você precisar”. Essa pessoa caiu em prantos e ficamos abraçadas por um longo tempo.
Aí você me diz: “Hoje é diferente”. E eu lhe digo que não é, porque estou com uma amiga passando por essa situação e as falas de hoje são as mesmas de 2001. Isso vale para quem perde o emprego, descobre que o filho é dependente químico ou simplesmente está passando por um constrangimento na rua ou no trabalho.
Na maioria das vezes a empatia é confundida com simpatia. Brenne Brown, em um de seus vídeos, apresenta de forma bem descontraída a diferença entre os dois. (Compartilho o link do vídeo ao final desse artigo.)
Apesar de as redes sociais poderem ser um canal para exercitarmos a empatia, o que vemos mais são julgamentos, opiniões, críticas, agressões, avaliações do que já vimos em todos os tempos. A tolerância do ser humano está quase a zero e nem damos tempo para o outro se colocar, porque não escutamos e estamos mais preocupados em nos defender. Defender-nos do quê? No trânsito estamos chegando a ponto de uma pessoa poder ser agredida por pouco. Ontem, um jornal mostrou que uma pessoa foi morta porque bateu no carro de outra provocando pequenas avarias; e isso foi o suficiente para o motorista sacar uma arma e matá-la. As guerras, a fome e a miséria estão em toda parte e estamos mais preocupados com o quanto vamos ganhar de dinheiro, o quanto podemos ser mais esperto para dar a volta no outro – é a velha Lei de Gerson.
Saiba que a mudança começa em cada um de nós. Não precisamos agredir porque fomos agredidos. Podemos desenvolver a empatia, mesmo em relação a pessoas de quem discordamos, não gostamos ou desconfiamos. É fácil? Claro que não, mas podemos dar um passo de cada vez. Precisamos, antes de tudo, parar por alguns segundos.
Dr. Brené Brown: https://www.youtube.com/watch?v=_7BTwvVBrwE
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