Hoje este espaço começa se parecendo com aquele dedicado aos leitores de revistas ou jornais, com frequentes desabafos contra pessoas, governantes, empresas, fatos ou acontecimentos. É quando alguém quer trazer ao público sua indignação e se aproveita das oportunidades que a mídia oferece. Aqui, precisarei contextualizar uma situação para, depois, apresentar comentários afins ao ambiente profissional com o qual ora convivemos, no Brasil, quanto aos mais tardios da Geração Y e os primeiros nascidos da geração Z (anos 90).
Junto com minha família, fui passear em um cruzeiro de navio na semana de Carnaval. O roteiro sai de Santos, passa pelo Rio de Janeiro e chega a Salvador, quando começa o retorno, e dura uma semana. Em cada local, há um tempo para quem deseja descer do navio e passear na cidade. A embarcação da MSC é muito moderna e enorme, com 16 andares, e oferece muitos locais de entretenimento e gastronomia. É lícito pensar que, em uma semana de Carnaval, muita gente estará no barco para brincar e extravasar emoções. Porém, há também aqueles que esperam encontrar paz e momentos de convívio familiar intenso.
Agora, imagine-se uma população de quase 4 mil pessoas (como foi informado por tripulantes), composta em grande parte (cerca de 70%, estimo eu) por jovens (Y e Z), sem o devido controle e/ou limites de comportamento. Ainda que seja sempre um problema grave a generalização, ali havia um grupo eclético de “tribos”, convivendo com uma folia abusiva, em público, e uma folia totalmente desregrada, quando em locais mais privados. O que tornou a viagem um inferno foi o descompasso entre a alegria carnavalesca dessa turma e o respeito ao social coletivo.
Não restritos às áreas de festas, e com total beneplácito do comando do navio, carregavam caixas “estourando” músicas (!?) com letras impróprias, acordando as pessoas em plena madrugada (incluindo crianças pequenas e pessoas de idade) e deixando um rastro de sujeira, garrafas e, em algumas cabines, gerando estragos em mobiliário do navio. Tudo sem ação limitadora ou controladora das autoridades, implicando em funcionários estressados, impotentes e chocados com a barbárie frequente. As conversas e brincadeiras eram em voz alta e com um palavreado absolutamente pobre e inconsequente. Momentos tranquilos e de certa paz social só quando ocorria o desembarque das tribos, como em Salvador, por exemplo.
A esta altura o leitor poderia perguntar… e daí? O que eu tenho a ver com isso?
O que mais se debatia entre as pessoas “da minoria não ruidosa” era sobre o país que se está construindo. O que esses jovens de classe média e média alta fizeram, mostra que o egocentrismo, alinhado à falta de responsabilidade para com a sociedade à sua volta, tudo apontando para o oposto dos investimentos que tanto se cria e direciona para eles, como liderança, motivação, gestão de equipes, internacionalização etc. Muito provavelmente, boa parcela daquela turma ainda é “sócio dependente” de pai e/ou mãe, não estando nem um pouco preocupada com a construção de conhecimento, carreira profissional, novas aprendizagens e formação de famílias. Importante, e explorado ao máximo, era a exibição de corpos curvilíneos, esculpidos pelas horas de academia, e carregando tatuagens e piercings.
Como analista da vida e também profissional que se aplica na formação das pessoas, ver aquilo foi triste e chocante. Identificar centenas de jovens mostrando-se alienados e invasivos ao espaço das pessoas “comuns”, que não mereceram cortesia ou educação, ainda mais. E, enfim, concluir que aquelas tribos exerciam essas atitudes desvairadas sem a devida limitação pelas autoridades do navio, que possivelmente estavam mais interessadas no conceito capitalista do consumo final de bebidas e produtos pagos regiamente em dólares.
Triste, muito triste mesmo! O Brasil que precisa de educação e lideranças preparadas tem hoje muito jovens que são a antítese de tudo o que se espera. Talvez esse descompasso indescritível entre educação, preparo profissional e comportamento social explique o porquê de tantas operações como a Lava-jato, Calicute, Greenfield e tantas outras. Triste, triste mesmo!
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