Envelhecer: Velhice será classificada como doença pela OMS (MG2A)
A nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID 11) está prevista para entrar em vigor em 01/01/2022, nesta versão o código MG2A, que se refere à velhice, com prazo de três anos para ser implementada, será publicada.
A velhice então, será oficialmente, uma doença, para aqueles que ousam envelhecer. Ou seja, todos.
No Brasil, cerca de 3/4 das mortes ocorrem a partir dos 60 anos, por doenças cardiovasculares, oncológicas e neurológicas, entre outras. E se tudo for resumido à velhice, argumentam os especialistas, há riscos de se faltar informação e investimento específicos para o tratamento destas doenças.
O documento produzido pela OMS com o apoio de mais de 200 cientistas passará a classificar a velhice como um diagnóstico. O código MG2A, no capítulo 21, compreende os sinais, sintomas ou achados clínicos.
Sim, essa fase natural da nossa vida passará a ser considerada como algo não desejado. Exatamente no momento em que está claro o crescimento da população que envelhece em todo o mundo. E os avanços da medicina para proporcionar cada vez mais anos de vida a todos os moradores do planeta.
Todos esperamos poder ter a chance da morte. Portanto, viver será uma grande alegria, fruto de tantas pesquisas e da revolução da medicina em todos os aspectos.
Uma em cada duas pessoas em todo o mundo, atualmente, sofre discriminação quanto à idade: todas as idades são alvo de preconceito. A velhice passa a ter status discriminatório, o que é pior, por se transformar em doença, genérica. O que complica os avanços da medicina porque deixa de oferecer informações corretas sobre cada um dos problemas que pode nos afetar nesta idade.
Essa atitude preconceituosa, nos afeta ao longo da vida. E pode ser percebido nas instituições, em nossos relacionamentos e até mesmo em nosso comportamento quando confrontados com o processo de envelhecimento.
O ageísmo pode ocorrer associado ou exacerbado por outras formas de preconceito relacionado às diferenças, como: deficiência física, raça e sexo, além de outras tantas.
Entretanto, há muitas armadilhas, interesses privados e riscos de anteciparmos a vida de muitas pessoas que, mesmo não idosas, poderão morrer de velhice. E não ter tido as boas experiências que somente os muitos anos vividos nos proporcionam.
Existe uma parte das indústrias farmacêuticas e do ramo da estética que visa cada vez mais e precocemente alcançar um grupo de pessoas que veem como negativas e indesejáveis as mudanças decorrentes do envelhecimento, principalmente nos aspectos físicos.
Envelhecimento é uma conquista. Essa proposta é um reforço para velhos preconceitos.
No começo do século 19, alguém que passasse dos 35 anos já podia ser considerado um sortudo. Em apenas 150 anos, a expectativa de vida no mundo quase dobrou, marcando 62 anos em 1950. De lá para cá, o número cresce aceleradamente.
Agora um novo conjunto de descobertas e técnicas que começam a despontar em empresas, startups e universidades. Remédios que tratam apenas as células doentes, edição genética, robótica e inteligência artificial. Tudo isso nos levará a um capítulo inédito na história: até o final deste século.
Segundo dados da ONU divulgados recentemente, o mundo terá mais de 2,3 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais no final do deste século. O Brasil, tem hoje cerca de 37,7 milhões de maiores de 60 anos e ampliará em pelo menos 2x sua população de “idosos”. Ainda mais com expectativa de vida chegando a 82 anos neste mesmo período. Com as novas tecnologias, os bebês que nascem agora viverão cada vez mais e chegarão à velhice cada vez mais saudáveis.
Em pesquisa conduzida pela OMS, em 2016, 83 mil pessoas em 57 países, mostrou que 60% dos entrevistados possuíam visão negativa sobre o envelhecimento.
Podemos listar, dentre esses estereótipos, características negativas como, por exemplo, serem lentos, fracos, desatualizados e desinformados, entre outros aspectos. E essas falsas percepções geram prejuízos aos afetados.
Enfim, muito além dos estereótipos, o fato é que viveremos cada vez mais. E, por esta razão, um código como o MG2A poderá ser a base de várias ações em sociedade para barrar as pessoas sujeitas a ele. Por exemplo em planos de saúde, seguros, acesso a financiamento e outros. Quando senão a total impossibilidade de obter qualquer uma destes serviços.
As políticas públicas preconizadas para idosos, com ênfase na conquista do ser humano de envelhecer com dignidade, como está na nossa Constituição, ficarão em desuso. Assim como os direitos fundamentais com relação à vida, à liberdade, à igualdade e ao respeito. É uma verdadeira operação de desmonte do futuro. A inclusão deste código MG2A produz exclusão social.
As explicações científicas não trazem justificativas convincentes de que a velhice vem a ser sinônimo de doença. Principalmente agora em que se vivencia o crescimento plausível da longevidade. Sabendo-se que as gerações infantis de hoje ultrapassarão a faixa dos 100 anos, como resultado de inúmeras pesquisas científicas desenvolvidas com essa finalidade.
Se, de um lado, procura-se ampliar a proteção de saúde para o idoso a fim de que tenha melhores condições de vida, de outro, às avessas, reprime-se tal alargamento etário, rotulando-o como um doente. Assim sendo, a pessoa na faixa etária considerada a de um idoso, atualmente acima de 60, doravante, é portador de comorbidade, em razão da idade.
Não só contraria preceitos universais de saúde, como também resvala no princípio da beneficência disciplinado na Bioética. Isso porque todo o esforço deve ser concentrado para conferir à humanidade idosa tudo aquilo que for necessário, conveniente, adequado e ajustável à sua natureza humana, proporcionando a ela as melhores condições de uma vida saudável. É até incoerente considerá-la doente quando o sucesso da longevidade vem se alardeando e criando novas e esperançosas perspectivas de vida.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre a velhice e o novo código MG2A da OMS? Eu responderei com muito prazer.
Sandra Moraes
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