Com bastante frequência, vemos matérias jornalísticas e até depoimentos públicos que tratam de uma situação muito presente em nosso cotidiano: a medicina tem contribuído para que as pessoas vivam mais tempo. Alguém é capaz de questionar essa afirmativa? Pois, se de um lado isso é uma verdade, por outro se pode perguntar: qual o custo e a qualidade de vida que esse ganho de tempo cobra de cada pessoa e de seus familiares? Pronto, está agora lançada a polêmica e quero explicar aos leitores meu ponto de vista.
Por razões pessoais, tenho estado muito próximo desse ambiente de idosos e acompanhado de perto o que acontece com as famílias para o devido cuidado e acompanhamento. Caso algum leitor fique em dúvida sobre o que eu estarei afirmando, convido a que visite uma clínica de repouso e/ou de reabilitação do chamado pessoal de terceira (ou até quarta) idade.
Hoje em dia, muitas pessoas ultrapassam os 80 anos com facilidade e, em muitos casos, entram pelos 90 anos. Não é incomum se encontrar alguém na faixa dos 95 anos o que, sem grande esforço de aritmética, significa ter filhos na faixa dos 60 anos e netos na faixa de 30 a 40 anos. Tudo se transformaria em uma grande festa se não fosse um detalhe: qual o grau de saúde que esses idosos têm e como estão enfrentando esses anos longevos (e aí estou incluindo os filhos, na faixa dos 60 a 70 anos).
Certamente, um aspecto fundamental e que não será aqui detalhado (acho que nem é necessário) está no nível de atendimento médico que essa pessoa recebe no Brasil, seja por um órgão público ou por uma entidade privada (para quem tem plano de saúde e que funciona bem). Isso irá influenciar diretamente na qualidade de vida dessa pessoa. Mas o meu foco vai para as características genéticas que serão mandatórias e que, na estrada da vida, levam a uma bifurcação: (a) a pessoa que envelhece com o físico em condições aceitáveis, mas com um processo de degeneração mental e cognitiva grave, tornando-a dependente de terceiros; (b) a pessoa que não sofre de problemas mentais ou cognitivos, tem a mente sadia, mas o corpo sofre as sequelas dos anos e a transforma dependente de apoio de terceiros para ter mobilidade. Poucos são os casos em que alguém escapa dessa cilada do destino.
Portanto, a tendência é que a família, incluindo filhos e netos, acabe sendo levada a assumir a responsabilidade de cuidar dessa pessoa e, com os outros compromissos que a dinâmica social exige, como trabalho e afazeres domésticos, está instalado um clima de estresse complexo e que gera conflitos indesejáveis. O ambiente doméstico em si fica “doente”, pois as pessoas convivem dia e noite com a situação de dor, limitações, brigas e, em grande parte das vezes, depressão e perdas. E eu deixo então a pergunta: como trabalhar adequadamente essa situação, a partir dos processos de Coaching?
Certamente, qualquer que seja o processo de acompanhamento para a pessoa que vive essa situação, o Coach deve tirá-la do foco no problema (leiam meu artigo de 12/7, no Espaço do Coach – http://www.cloudcoaching.com.br/seu-cliente-tem-foco-no-problema-ou-nos-resultados/post) e abrir sua mente para pensar em soluções. Isso não significa fugir do problema, mas ter a competência de administrar as dificuldades que ele gera. Lembrando, outra vez, que os anos a mais que a medicina nos tem gerado estão cobrando um alto preço para a família.
O Coach que quiser trabalhar nesse nicho deve ter em conta essa realidade ou, ao invés de ajudar as pessoas, contribuirá negativamente para piorar um quadro social já, em si, complexo.
Participe da Conversa