ETARISMO: Pessoas com mais de 40 anos não devem frequentar uma universidade?
No mês de março que marca as comemorações e manifestações pelo direito das mulheres uma polêmica ganhou proporções nas redes sociais. Três jovens universitárias (com aproximadamente 20 anos de idade cada) fizeram um vídeo “debochando e ridicularizando” uma colega do curso de Biomedicina por ter mais de 40 anos. “Quiz do dia”, disse uma delas, “como faz para ‘desmatricular’ um colega de sala? Mano, ela tem 40 anos. Já era para estar aposentada”.
Na mesma semana, a vencedora do Oscar de melhor atriz foi Michelle Yeoh, que recebeu a primeira estatueta aos 60 anos, afirmou no seu discurso:
“Nunca deixem que digam que vocês já passaram do auge”.
Influenciadoras e pessoas comuns se manifestaram nas redes sociais. A grande maioria condenando as jovens por suas falas etaristas, ou seja, recheadas de preconceito contra pessoas acima de uma certa idade. No caso, uma mulher de 44 anos que relatou posteriormente não ter tido oportunidade de estudar mais cedo e está realizando um grande sonho. Será que existe idade para frequentar uma faculdade ou começar uma nova profissão ou realizar sonhos?
Esse episódio me leva a refletir sobre algumas questões importantes como o fato de que falta informação de qualidade sobre a luta das mulheres por direitos ao longo de séculos. Direitos como: estudo, salário igual aos dos homens que exercem a mesma função, jornada dupla e tripla de trabalho, falta de creches e escolas integrais para os filhos, entre tantos outros.
Alguns jovens parecem viver uma bolha que lhes impedem de conhecer outras realidades e desenvolver o mínimo de empatia e compaixão.
Ao mesmo tempo, muitos pais têm se sacrificado para dar aos filhos uma “educação” e “luxos” que não tiveram, mas isso tem tornado-os pessoas egocêntricas. E, como diz o especialista em estudo de gerações, Shaw Anchor, “entitled”, ou seja, se acham merecedoras de certos privilégios que não querem abrir mão.
O etarismo (ou ageismo ou idadismo) tem sido um fenômeno comum na sociedade e nas empresas que vêm nas pessoas mais velhas um peso para a sociedade como se aqueles(as) com mais de 40, 50, 60, 70, 80 e até 90 anos fossem seres improdutivos que nada tivessem a contribuir.
Bem sabemos que em algumas culturas, as pessoas mais velhas são muito mais respeitadas e valorizadas por terem mais maturidade emocional. Mais vivências e experiências que muito têm a agregar tanto para a sociedade quanto para as corporações. Vários estudos apontam os resultados altamente positivos que revelam o quanto a performance das equipes aumenta proporcionalmente ao tamanho da diversidade de idade, cultura, gênero, raça, etnia dentro das mesmas.
Dizer que uma mulher de 44 anos deveria estar aposentada é, além de um terrível preconceito, uma total alienação até do que seja o sistema previdenciário e do que, segundo a ONU, seria a classificação de uma pessoa idosa. Cada vez mais, precisaremos incluir pessoas de mais idade no mercado de trabalho. Do outro lado do Atlântico, países europeus, por exemplo, estão sofrendo com a falta de profissionais. A situação na Inglaterra está tão grave que estão incentivando pessoas já aposentadas a voltarem ao mercado de trabalho e facilitando a emissão de vistos de trabalho.
Por outro lado, acredito que precisamos fazer nossa “mea culpa” no que diz respeito à formação destes jovens.
E, mais ainda, precisamos rever a forma como estamos lidando com episódios como destas três universitárias. É natural que sejamos mais empáticos com a estudante que foi criticada e hostilizada. Mas fico me perguntando se, ao julgar e atacar essas jovens, não estamos também exercendo uma espécie de etarismo reverso.
Quantos de nós não ouviu ou alguma vez não se pegou falando com jovens e até crianças coisas do tipo: “você precisa se comportar, já está muito velho(a) para fazer tal coisa”? Quantos de nós não ouvimos dos adultos que determinado tipo de conversa não era para a nossa idade? E quantos de nós não fomos ridicularizados, criticados por apresentar uma ideia ou opinião porque os adultos acharam que não poderia partir de um(a) jovem?
Minha sugestão é que, enquanto pessoas maduras, líderes, pais e educadores, façamos um trabalho de acolhimento e educação. Trazendo informação de qualidade e promovendo debates inclusivos e transgeracionais nas nossas casas, comunidades e empresas. Acredito que etarismo é uma forma perversa, como todo tipo de preconceito, mas erradica-lo passa necessariamente por eliminarmos a ignorância e desinformação através de diálogos abertos e não violentos.
Gostou do artigo? Quer saber mais sobre etarismo e como essa forma de preconceito é danosa para a sociedade? Então, entre em contato comigo. Terei o maior prazer em ajudar.
Cris Ferreira
https://soucrisferreira.com.br/
Confira também: Você trabalharia “de graça”?
Participe da Conversa