Ética no Mundo do Coaching: Por que ela é tão importante?
Segundo o dicionário Houaiss, Ética pode ser definida como:
- parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.
- conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.
Para falar de Ética, é preciso abordarmos alguns outros pontos importantes como valores, moral e o conceito do que é o bem comum.
Valores que nos acompanham desde nossa infância e outros que são arquetípicos. E, portanto, com raízes profundas em nossas famílias, os valores que metaforicamente adquirimos ainda no colo de nossas mães. Desde a infância, estamos sujeitos à influência de nosso meio social. Por intermédio de nossa família como já mencionado, da escola, dos amigos, da cultura local e um sem-número de outros fatores. Com isso vamos adquirindo, aos poucos, ideias morais. A moral, contudo, não se resume ao aspecto social. Isso porque, à medida que desenvolvemos nossa capacidade crítica, passamos a questionar os valores herdados. E então decidimos se aceitamos ou não as normas que nos são apresentadas em nossos vários papéis sociais.
Importante destacar que os princípios ou valores morais, como a Ética, são pontos-chave para que a chamada harmonização dos grupos ocorra. E por conta dessa harmonização haja um equilíbrio funcional possibilitando que ninguém saia prejudicado.
A Ética, não deve ser confundida com as leis, mas está fortemente relacionada com o sentimento maniqueísta do bem e do mal, do certo e do errado, e o que diferencia cada um tem a ver com a boa índole que por consequência se reflete na boa conduta frente à sociedade de forma geral ou de grupos específicos que são regidos por regras de bem viver que precisam ser respeitadas.
A Ética pode ser para alguns um conceito abstrato já que nela há muitos aspectos que tocam áreas cinzentas das variadas atividades do ser humano, portanto, de vital importância endereçar aos profissionais de Coaching um pouco do que é, do que pode implicar, para que possam decidir e escolher como se comportarem frente às diversas situações que lhes são apresentadas na prática de Coaching.
Portanto, a decisão de acatar determinada norma, é sempre fruto de uma reflexão pessoal consciente, que pode ser chamada de interiorização. A norma por sua vez, nos diz como devemos agir.
Para falar sobre um dos ramos da filosofia dedicado aos assuntos morais que norteiam um meio social, é necessário refletir sobre os dilemas da conduta dos indivíduos, na contemporaneidade, em todos os âmbitos sociais e em qualquer atividade que nos faça responsáveis por nossas ações e que da mesma forma nos incentivem a colocar em prática nosso respeito genuíno levando em conta o bem comum de todos à nossa volta.
Por bem comum entenda-se não a soma de bens individuais, mas o bem de todos e de cada um. De natureza indivisível que requer acima de tudo um esforço comum para sua realização e manutenção.
Ética no Coaching – um pouco de história
Para se tornar uma atividade reconhecida, o Coaching deve ter padrões profissionais, definições, diretrizes éticas, pesquisa contínua e credenciamento. A partir dessas premissas foi que desde o início da década de 1990, o fenômeno do Coaching no mundo, se intensificou com a criação de várias escolas que oferecem programas de formação em Coaching e duas grandes associações profissionais. Em 1996, uma delas a Associação Profissional de Coaches e Mentores (PCMA) fundiu-se com a Federação Internacional de Coaching (ICF)[1] que havia sido fundada em 1995, e a ICF liderou o caminho como a associação internacional mais reconhecida como representante da atividade de Coaching.
Em 2004, o comitê de regulamentação da ICF escreveu o seguinte modelo de governança:
“Os padrões e estruturas construídos pela ICF ao longo da última década, que apoiam o surgimento do Coaching como uma profissão valorizada, também fornecem uma base sólida para a autorregulamentação de nossa profissão, além de nossa rigorosa adesão como profissionais a estas normas e práticas, garantem que o público esteja protegido contra possíveis danos.”
O fundamento da autorregulamentação da ICF é compreendido e depende de cada uma das seguintes normas e práticas, apoiadas pelos esforços do Conselho da ICF, comitês, representantes globais, Coaches credenciados, associados e voluntários que tanto colaboram para o crescimento e desenvolvimento da instituição:
- Competências essenciais que definem o conjunto de habilidades necessárias de um Coach profissional e estabelecem a base para o exame de credenciamento profissional e acreditação para programas de treinamento de Coaches.
- Um Código de Ética[2] para o qual os membros da ICF[3] e os Coaches credenciados pela ICF, prometem compromisso e prestação de contas aos padrões de conduta profissional.
- Operação profissional por meio de um processo de Revisão da Conduta Ética para membros da ICF e Coaches credenciados pela ICF, permitindo ao público relatar preocupações e ter confiança na investigação objetiva, no acompanhamento e na ação disciplinar.
- Credenciamento do Coach profissional, exigindo um exame rigoroso e um processo de revisão através do qual os Coaches devem demonstrar suas habilidades, proficiência e experiência documentada na aplicação das onze (11) competências[4] essenciais do Coaching, que fazem parte integrante do código de Conduta.
- Iniciativas de Supervisão para rastrear as necessidades e as preocupações de clientes individuais e organizacionais em uma base internacional, o que demonstra um compromisso com a governança da atividade.
Ética e Cultura
A relevância dos aspectos culturais, não podem ser ignorados quando Ética é discutida. A Ética e a cultura estão ligadas com tanta força que é quase impossível discutir uma sem a outra. Na verdade, pode-se dizer que a Ética é uma reflexão direta dos valores fundamentais de uma cultura.
Além do recurso a essas três ordens de fatores (individual, organizacional e cultural), considerados em geral estáveis, para explicar os comportamentos moralmente qualificáveis no contexto empresarial, alguns autores defendem ainda o caráter situacional das decisões éticas. Segundo esses autores, a decisão de um mesmo indivíduo pode ser diferente, consoante o contexto específico que envolva essa decisão[5], variando, por exemplo, de acordo com a posição que o indivíduo ocupa na empresa ou com a antecipação subjetiva que ele faça da reação pública à sua decisão. E claro no ambiente de Coaching os fenômenos não ocorrem de forma diferente.
Atualidade
Além das diretrizes éticas, competências profissionais e certificação, a profissão de Coaching vem testemunhando mais recentemente um tremendo aumento de interesse em pesquisa acadêmica e estudos de pós-graduação. Essa atenção é um passo crítico na evolução futura da profissão. E tais pesquisas e treinamentos são necessários para desenvolver um campo de conhecimento. Orientações teóricas e estudos sobre a eficácia do Coaching.
A perspectiva histórica previamente delineada revela que o Coaching profissional surgiu de outras profissões importantes como a psicologia, o aconselhamento e a consultoria.
Essas profissões têm códigos escritos. E além disso, são normalmente regulamentadas por autarquias, órgãos governamentais federais e estaduais e eventualmente por outras entidades autônomas de supervisão. Esses regulamentos geralmente determinam os requisitos para treinamento, manutenção de licença e/ou credenciais e prática de leis.
No momento, o Coaching no Brasil, e na maioria dos países onde a prática é bem disseminada de forma madura e com pesquisa cada vez mais robusta, não é regulamentado ou monitorado por uma agência ou órgão regulador do governo, cabendo à ICF este papel.
Perguntas
Como uma das premissas do Coaching é formular perguntas, segue uma lista com o propósito precípuo de apoiar os leitores a refletirem sobre algumas situações associadas a casos éticos que possam surgir:
- Em que medida, tal situação interfere com os seus valores pessoais e profissionais?
- Qual foi a sua primeira reação ao ter contato com uma dada situação?
- O que esta situação fala sobre você?
- Que decisão tomou a partir desta situação?
- O que gostaria de ter feito diferente?
- Com quem você gostaria de contar para conduzir esta situação?
- O que você aprendeu sobre você?
Conclusão
Os princípios éticos estão incorporados nos padrões de conduta ética para Coaching e nas normas aplicáveis aos Coaches. Felizmente, a natureza do Coaching e a adoção antecipada da profissão bem como a promoção de competências de Coaching e padrões de conduta ética servirão para minimizar reclamações legais e possíveis litígios.
Apesar da ausência de lei interpretativa que é diretamente aplicável às práticas de Coaching, os conceitos jurídicos podem fornecer orientações importantes. Essa orientação jurídica inclui requisitos estabelecidos para contratos válidos e exequíveis, diretrizes para proteção da privacidade. E a interpretação contínua de padrões profissionais e exemplos de procedimentos a seguir.
A marca de uma grande profissão é a competência de seus membros. Os Coaches comprometidos com a profissão via de regra, demonstram esse compromisso ao longo de suas carreiras como Coaches. Desde a formação inicial, a educação contínua até a disposição de serem julgados por seus pares em um processo de credenciamento. Coaches profissionais usam medidas de competência, os chamados marcadores, para garantir que estejam atendendo clientes nos mais altos níveis possíveis.
Esse compromisso combinado com ética, padrões e honra cria valor tanto para o público usuário dos serviços de Coaching como para a comunidade de Coaches em geral.
Pense nisso, e se desejar compartilhar suas opiniões, deixe um comentário, e eu terei imenso prazer em interagir.
João Luiz Pasqual, PCC, CMC & ACS
PCC – Professional Certified Coach
CMC – Certified Mentor Coaching
ACS – Accredited Coaching Supervisor
https://www.intervisionclub.com.br/
[1] www.icfbrasil.org – www.coachingfederation.org
[2] www.icfbrasil.org/icf/codigo-de-etica
[3] www.icfbrasil.org/junte-se-a-icf/torne-se-membro
[4] www.icfbrasil.org/icf/competencias-principais
[5] Hoffman, Couch, & Lamont, 1998; Robertson et al., 2002
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