Expectativas: como andam as suas?
Sem que eu escolhesse, todos os casos que vieram a mim nos últimos seis meses trouxeram questões afetivas de relacionamentos conjugais. Namoros e casamentos em crise, afetando os diferentes aspectos da vida. O trabalho, a saúde, outros relacionamentos.
Curiosamente, neste período de distanciamento social, tenho visto notícias de separações de diversos casais de famosos, e especulações sobre o aumento de casos de casais comuns que também estão enfrentando desafios nesta intensa convivência forçada.
Mas afinal, qual a razão para esse suposto aumento de casos de conflitos conjugais?
Primeiramente, quero destacar que não me sinto confortável em afirmar que houve um verdadeiro aumento de casos. Pois não existe nenhuma pesquisa formal em andamento computando cuidadosamente as informações para que pudéssemos confiar nestes números. Também não sabemos se o atual momento está gerando as crises ou apenas está revelando-as.
Independentemente dos números, esta discussão me levou a pensar sobre o que acontece entre os pares para que a crise abale as relações de maneira tão intensa. De todas as ideias que fui capaz de imaginar, a mais sensível diz respeito a expectativas.
Já falei algo parecido em outro momento aqui neste espaço, quando trouxe uma discussão sobre escolha. Mas agora pretendo aprofundar o assunto.
Muitas pessoas se encantam com as possibilidades que enxergam nos outros, sem se preocuparem em avaliar o quanto o outro estará disponível ou disposto a lhe entregar o que esperam. Ou ainda, ignoram características pessoais e comportamentos desconfortáveis e conflitantes, contando com a possibilidade de mudança, mais uma vez ignorando a realidade em favor de uma expectativa.
Nestes casos, existe uma imaturidade do indivíduo em alimentar aquilo que chamamos de pensamento mágico. Esta forma de pensar e agir é típica da infância. Período em que a pessoa age a partir dos seus sonhos e desejos, desconsiderando fatores externos que podem interferir e até impedir a realização do que procura fazer acontecer.
De alguma forma, tenho observado adultos ainda alimentando este tipo de pensamento frente às circunstâncias do dia a dia, especialmente no que diz respeito a relacionamentos pessoais. Se considerarmos o quão natural é surgirem divergências no convívio íntimo entre duas pessoas, independentemente do quanto elas se amem e queiram estar juntas, facilmente entenderemos a importância de ajustarmos expectativas para garantir a harmonia na intimidade.
Eu insisto em afirmar que não existe a pessoa certa para nenhum de nós, mas a pessoa a qual estejamos dispostos a conviver.
Por isso é tão importante que deixemos de idealizar o homem ou a mulher ideal para cada um de nós, e passemos então a avaliar quais seriam os defeitos e comportamentos divergentes que eu estaria disposto a aguentar em prol de uma boa relação conjugal.
Preocupa-me perceber que existem pessoas que encaram este exercício como submissão ou, pior, como abrir mão de si mesmo. Eu entendo que seja maturidade e alinhamento de expectativas. Aceitar que o outro jamais corresponderá 100% aos meus próprios desejos, e tudo bem. Não se trata de melhor e pior, ou de certo e errado. Apenas somos diferentes e quanto mais consciência tivermos destas diferenças, maior a chance de sucesso na nossa convivência.
Eu recomendo que todos os casais façam um ajuste em suas percepções de tempos em tempos. Este é um exercício saudável. Não espere que as dificuldades invadam a sua privacidade para se movimentar. Refina expectativas recorrentemente.
Afinal, como andam as suas?!
Sheila Berna
https://www.sheilaberna.com.br/
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