Falar com ou falar para?
Uma pergunta: Você já se deu conta de como é sua comunicação usual com as pessoas?
– Você fala COM ou PARA as pessoas?
– Como assim? Eu simplesmente falo, expresso meus pensamentos, minhas emoções, compartilho minhas ideias. Se não entenderem o problema é delas, não meu.
– A exemplo daquele pensamento que diz que há mais mistérios entre o céu e a terra, do que possa conceber a nossa vã filosofia, existem mais sutilezas no processo da comunicação humana do que podemos conceber na nossa imensa ignorância.
– Como assim? Um professor fala e seus alunos aprendem, um político fala e defende um projeto ou conquista os seus eleitores, um jornalista tira do entrevistado informações e esclarece sua audiência. Em uma conversa, um fala e outro ouve, depois outro fala e você ouve. No nosso caso agora, um está falando e o outro respondendo.
– Entendo sim seu argumento, você está certo se tratando de um processo genérico no âmbito da comunicação, mas estou me referindo às sutilezas que citei agora há pouco.
– Que sutilezas? Como assim?
– Vamos lá: Você já se deu conta de que há pessoas que você não consegue ouvir? Fica impaciente, ansioso, não consegue acompanhar o pensamento dela, por mais que se esforce?
– Já aconteceu comigo.
– Sem dúvida, com você e com todo mundo. Por essa razão, se estiver interessado, vou abordar alguns pontos, extraído das minhas experiências no convívio com pessoas, em sala de aula ou em trabalhos de mentoria, estudando e procurando entender detalhes, nem sempre evidentes no processo da comunicação. Topa?
– Sim, claro.
– Vamos lá, então.
O primeiro conceito já nos abre um campo de reflexão bastante amplo. É o seguinte:
“Comunicação não é o que falamos, mas o que é recebido pelo interlocutor”. Quantas vezes imaginando ter transmitido algo, mas ao aferir o que foi decodificado, notamos uma grande diferença da nossa intenção daquilo que foi absorvido. Curiosamente isso é tão comum em todos os níveis de liderança, relacionamento entre casais e situações do dia a dia que não nos damos conta da importância da atenção e da qualidade daquilo que falamos.
Uma curiosidade: Qual é a pergunta que eu posso fazer para ter a certeza de que a outra pessoa entendeu exatamente aquilo que eu queria dizer?
– Não sei, mas talvez: Você entendeu o que eu disse?
– Se a resposta for sim ou não, será que eu tenho certeza de que o que foi compreendido foi exatamente o que eu disse?
– Não, não tenho essa certeza.
– Mais uma chance então. Quer tentar?
– Que tal perguntar: O que você entendeu daquilo que eu disse? E aí esperar a pessoa repetir o que você disse?
– Perfeito, é isso mesmo. Essa é a melhor evidência para saber se a sua mensagem chegou do jeito que você tinha a intenção de dizer.
– Mas pode ser diferente a compreensão?
– Claro, por exemplo pode ser que você tenha dito uma palavra e a pessoa não entendeu seu significado, prejudicando o conteúdo. Também pode ocorrer de você ter dito em um tom agressivo ou irônico e a compreensão ficou prejudicada. Além disso, você sabe qual é o principal elemento relacionado ao falar com ou falar para?
– Não.
– O olhar. Se você fala com, você olha nos olhos, mantém sua atenção conectada com a pessoa ou grupo de pessoas com as quais está falando. Ao ouvir, preste atenção e dê alguns sinais de “hã, hã”, fale algumas palavras no contexto, por exemplo, “entendo”. Utilize, também, alguma exclamação como “nossa!” ou faça perguntas de acompanhamento como “E daí?” ou “O que aconteceu na sequência?”.
Desse modo, mostrando respeito e conexão com sua audiência, sinaliza sua intenção de falar com.
Há outros detalhes no processo. Ainda interessado?
– Sim, por favor, isso tem a ver com meu trabalho, com meu sucesso, com minhas relações.
Um detalhe interessante é conhecer o público-alvo. Isso significa pesquisar antes, no caso de falar com um grupo de pessoas. É importante saber informações sobre elas, como a faixa etária; se é um grupo homogêneo ou heterogêneo; quantidade de homens e mulheres; tendências e crenças, além de valores (no geral). É certo que nem sempre é possível obter antes todos esses detalhes, mas quanto mais dados tiver do grupo, melhor para você se preparar para falar COM elas.
Destaco, também, o seu preparo em relação ao tipo de apresentação, podendo ser uma palestra ou exposição persuasiva, motivacional, informativa ou uma apresentação para homenagear alguém. Outro ponto importante é ter clareza do objetivo que você tem. Quantas pessoas há, que não tem clareza do que pretendem e falam, e acabam promovendo discursos prolixos e sem nexo com o ambiente, com as pessoas, obrigando-as a ouvirem seus discursos vazios e sonolentos.
Há um outro aspecto que sinaliza seu preparo em falar COM: a coerência na linha de raciocínio, apresentando, passo a passo o que tem para falar, utilizando exemplos, contando histórias pertinentes, deixando espaços durante a apresentação para solver algumas eventuais dúvidas que as pessoas tiveram durante a sua fala.
Não tenha dúvidas sobre isso: Preparação é tudo e quanto maior for a sua intenção de fazer uma apresentação com qualidade, maior será o prazer das pessoas em te ouvir.
A simpatia presente, ser agradável, ter uma postura de acolhimento, sorriso presente, humildade sem subserviência, transparência, a intenção de servir ou ser útil cria uma atmosfera agradável e facilita o contato e os relacionamentos.
Por último, quero considerar a importância de falar com entusiasmo, com vigor, com assertividade, expressando de modo congruente as suas emoções, fazendo pausas de propósito para facilitar a compreensão e embelezar a fala, além de ter um vocabulário fluente e gramática correta.
– E então, gostou dessa abordagem?
– Gostei muito e foi muito útil. A partir de agora minhas falas e apresentações serão totalmente diferentes. Muito obrigado.
Reinaldo Passadori
https://www.passadori.com.br/
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