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Fale menos do que o necessário

O bom senso, a coerência e o discernimento devem nortear as falas. Veja dicas imprescindíveis para evitar excessos e, mais importante, não falar quando não deve.

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Falar menos do que o necessário? Como assim?

Parece um paradoxo, uma recomendação dessa natureza, ainda mais de quem desenvolve treinamentos e prepara pessoas para conseguirem fazer valer o seu potencial por meio da comunicação verbal, quer seja em palestras, aulas, vendas, negociações, atendimento a clientes e demais situações nas quais a comunicação é o recurso principal.

Se observarmos bem, o bom senso, a coerência e o discernimento devem nortear as falas. Notadamente para aquelas pessoas que não têm um “falômetro”, ou seja, um medidor do limite da fala. Conforme Robert Greene e Joost Elffers, no livro As 48 Leis do Poder, afirmam que:

“Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira”.

Nesse contexto, Leonardo da Vinci nos apresentou uma reflexão quando disse:

“A ostra se abre totalmente na lua cheia. Quando o caranguejo a vê, joga uma pedrinha ou alga marinha, ela não pode mais se fechar e serve de alimento para ele. Tal é o destino de quem abre demais a boca e se coloca, portanto, à mercê do seu ouvinte”.

Tornar uma fala interessante por meio de exemplos, histórias, metáforas, ilustrações de todo o tipo é o que mais fazem os profissionais que usam da fala como o seu instrumento de trabalho, tais como líderes, negociadores, vendedores, professores, advogados, políticos e profissionais afim. Além disso, o capricho na forma, gerando uma estética atraente e encantadora, além de conteúdo organizado e claro, só que quando são exageradas se peca por excesso.

Como dizia um antigo professor de português, Paulo Palumbo, em tom brincalhão: “Tudo que abunda prejudica”.

Mais do que nunca a utilização das mídias digitais ganha corpo e vigor, substituindo o contato físico, transformando o mundo virtual na principal ferramenta de relacionamento profissional, desde trabalhos home office, por meio de vídeo conferências, lives, mensagens via Facebook, Instagram, treinamentos utilizando plataformas para cursos à distância e até congressos e seminários que passam a ser realizados via web, exigindo de todos nós uma linguagem cada vez mais clara, objetiva, assertiva e organizada.

Vale observar que, além de falar demais, melhor seria se antes de falar, pensasse um pouco mais, ainda mais quando envolvidas emocionalmente e sob a pressão de seu temperamento, nem sempre calmo e ponderado. Acontece com frequência em entrevistas, quando repórteres mal-intencionados, fazem perguntas provocativas ou maliciosas aos seus entrevistados. E, que por sua vez, reagindo emocionalmente respondem sem o crivo da razão, falando asneiras, ofendendo, gerando para si mesmos as consequências de suas palavras ou de suas ações.

As consequências de falar demais ou falar sem pensar geram muitos prejuízos na vida pessoal e no mundo dos negócios. Quantos relacionamentos, brigas e desentendimentos poderiam ser evitados se houvesse menos interpretações e mais clareza, se o tom de voz fosse mais baixo, se antes de responder as pessoas fizessem aquele antigo e sábio exercício de contar até dez.

Houve uma situação, em que a negociação com uma empresa que tive a oportunidade de participar, em uma reunião, ouvindo, entendendo suas necessidades e expectativas, conversando, apresentando sugestões, falando sobre nossas possibilidades, entendendo o tipo de público e os benefícios que o trabalho geraria às pessoas e, consequentemente à empresa. Tudo certo, tudo acordado, iniciaríamos o trabalho em uma certa data, valores ajustados, felizes pelo acordo firmado e na hora da despedida, lembrei de uma conversa anterior na qual o contratante havia sugerido que levasse uma gravação de alunos para aferir a diferença de performance antes e depois do curso em uma outra empresa e resolvi falar sobre isso. Por causa disso, quase perdi o negócio, pois tudo já estava certo e ajustado e levantei um tópico desnecessário em que nada acrescentaria no negócio.

O gerente que nos atendia pediu então mais um tempo para ver a gravação e depois confirmaria ou não o contrato e por sorte tudo correu bem, deu tudo certo e eu aprendi uma lição que conhecia na teoria e não na prática: O excesso de fala pode prejudicar uma venda, uma imagem, uma reputação, um bom acordo, a lucratividade de uma empresa ou até um acordo internacional.

Apresento algumas sugestões para evitar os excessos e, mais importante, não falar quando não deve:

  • Não falar quando estiver emocionalmente afetado, quer seja em uma negociação, em uma venda ou em uma apresentação qualquer, pois sua irritação ou destempero emocional pode trazer mais prejuízos do que os benefícios esperados. Se não tiver jeito, tiver que fazer uma palestra programada e estiver nervoso, aprenda e use algum recurso para se acalmar, para ter novamente o controle emocional e faça o melhor que puder, mas se puder adiar, melhor.
  • Ao ser provocado em um debate ou em uma situação de relacionamento, não reaja sem antes respirar, ponderar e manter a calma. Especialmente quando a outra parte estiver fora do seu equilíbrio emocional. Sabemos muito bem, conforme a sabedoria popular apregoa, se um não quer, dois não brigam.
  • Controle suas falas, em especial se tende a falar muito, programando-se para utilizar um tempo curto. Se tende a falar dez minutos, programe-se para falar dois, três no máximo.
  • A objetividade exige preparo, por isso o planejamento é fundamental. Ter a clareza do seu objetivo de fala, evitar repetir o que já foi dito e detalhamentos desnecessários.

  • Conhecer o público ou seu interlocutor é importante. Reconheço que nem sempre é possível, mas ao conhecer com quem fala, faz com que se prepare em relação ao tema, ao vocabulário, aos exemplos que irá utilizar.
  • Saiba que, por melhor que faça, nunca irá agradar a todas as pessoas. Não deve sofrer por isso, nem tentar conquistar a atenção a qualquer custo. Melhor ser objetivo, dar o recado que tiver que dar, do que tentar conquistar a atenção e o interesse de todos. Ou você poderá desagradar até a quem estava gostando.
  • Faça como aconselhou José de Alencar, grande escritor brasileiro: “Todo discurso deve ser como o vestido das mulheres; não tão curto que não escandalizem, nem tão comprido que nos entristecem” (ressalvadas as condições de quando escreveu, em torno de 1.870).
  • As palavras são como flechas, depois de disparadas não tem como voltar atrás, por isso todo cuidado é pouco. Deve-se manter o controle sobre elas notadamente em situações nas quais podemos ser sarcásticos. E tendo um prazer momentâneo, que podem nos trazer prejuízos maiores do que essa satisfação.

Por fim, um pensamento bastante popular no contexto dos discursos:

“Um orador deve falar suficientemente alto para ser ouvido, falar claro para ser entendido e falar pouco para ser aplaudido”.

Reinaldo Passadori
https://www.passadori.com.br/

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Reinaldo Passadori é fundador, palestrante e CEO da Passadori – Comunicação, Liderança e Negociação, especialista em comunicação e mestre em neuromarketing pela FCU – Florida Christian University. É idealizador e apresentador do programa Comunicação Executiva, no qual promove entrevistas e debates do mundo corporativo. Com 39 anos de história formou mais de 130.000 pessoas na habilidade da comunicação verbal, não verbal e liderança. É Autor dos livros Comunicação Essencial, As 7 Dimensões da Comunicação Verbal, Media Training e Quem Não Comunica, Não Lidera.
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