Essa semana eu tive o prazer de assistir à palestra da Nutricionista e autora do best-seller O Peso das Dietas, a franco-brasileira Sophie Deram que acredita que o prazer de comer sem culpa e sem medo é fundamental para uma vida saudável. Ela desenvolve pesquisas em nutrigenômica e neurociência do comportamento alimentar e traz uma abordagem inovadora relacionada à nutrição, declarando guerra ao “terrorismo nutricional”, que separa alimentos entre heróis e vilões. Tem doutorado em Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e é pesquisadora no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Ela defende que o comportamento é tão importante quanto à ingestão dos nutrientes. O ser humano se nutre de alimento e também de sentimentos e, todo esse bombardeio de informação que presenciamos hoje, onde nunca se falou tanto de nutrição, nunca se falou tanto de dieta e ao mesmo tempo, nunca se teve tantos problemas de peso e tanto mal-estar em relação à comida. Precisamos rever nossos conceitos. Você come bem? Como é comer perfeitamente?
Não podemos negar que temos presenciado o terrorismo nutricional a nossa volta. São muitos mitos, ideologias e crenças em torno dos alimentos e sem comprovação. Muita coisa do que se fala e se dissemina nas redes sociais e mídia não está comprovado, tem controvérsias e às vezes o que se diz é exatamente o contrário do que realmente é… Podemos chamar isto de Nutricionismo, um termo que não significa o mesmo que Nutrição. O sufixo “ismo” sugere algo não científico. E toda essa pressão e julgamento entre alimentos bons e ruins contribuem para aumentar ainda mais a ansiedade e piorar o nosso comportamento alimentar. A maioria dos transtornos alimentares inicia após uma dieta restritiva. Não existem alimentos que por si só farão emagrecer ou engordar, ou ainda, que irão trazer a cura do câncer. Sophie deixa dito: Não existe comer perfeito! Comer bem é comer de tudo, sem culpa e sem restrição, com prazer e escutando suas emoções, sua fome.
Duas novidades que Sophie traz como sendo as maiores são: A primeira é a descoberta da ciência da Nutrigenômica – como os alimentos conversam com os nossos genes. Ela destaca que não podemos considerar como sendo igual um prato de salada com 150 calorias em relação a um copo de refrigerante com as mesmas 150 calorias. É importante não apenas controlar calorias, mas sim aumentar a qualidade do alimento que você está comendo e sentir as suas sensações, emoções, saciedade, fome e vontade de comer e assim emagrecer. Nosso DNA não é nosso destino. Ele vai se expressar diferente devido ao seu estilo de vida e o ambiente que você vive. Temos o poder muito forte de mudar. É como se os genes carregassem a arma, mas quem puxa o gatilho é o ambiente em que se vive.
Em segundo lugar ela afirma que o cérebro controla tudo. Ele controla a fome e o nosso peso. Ele é o maestro do nosso corpo. A regulação do peso corporal é um processo altamente complexo e é regulado centralmente pelo cérebro. Como antigamente as pessoas que tinham mais gordura eram as que sobreviviam, até hoje, nosso cérebro associa a gordura como proteção do meio ambiente estressante que vivemos. É preciso se nutrir bem e ter cuidado com o que comemos. Um dos maiores stress do cérebro é fazer uma dieta restritiva. Uma dieta restritiva é uma dieta que tira grupos alimentares, ou diminui a quantidade até ficar com fome, esse estresse traz uma mudança para o cérebro que para poder se adaptar, ele vai fazer de tudo para aumentar o seu apetite e aumentar a procura por alimentos. Uma dieta restritiva pode até funcionar em curto prazo, porém depois de certo tempo o corpo faz de tudo para aumentar a fome. E destaca que o cuidado com os jovens, que estão em crescimento, o stress é ainda maior.
Será que fazer dieta engorda? Em sua palestra Sophie cita uma pesquisa realizada em 2011 que mostrou que sim. Em resumo, ela foi realizada com gêmeos idênticos, que possuem a mesma genética, e fizeram a pergunta se eles haviam feito dieta. Comparando a resposta de ambos, o gêmeo que fez dieta estava mais acima do peso do que o que não tinha feito dieta. Foi então que o autor concluiu que a dieta pode ser em parte, responsável pela atual epidemia de obesidade.
E então, qual o segredo das pessoas francesas que estão sempre magras? Sophie fala que se for resumir em uma palavra seria: Prazer! Em 2010 a gastronomia francesa entrou para o patrimônio mundial imaterial da UNESCO, e pasmem… Não foi pelos famosos pratos franceses chiques e cheios de requinte, mas sim pelo hábito francês de sentar à mesa e compartilhar os alimentos, de celebrar a comida, respeitar a fome e a saciedade de todos, sem terrorismo, sem tirar gordura, sem ter medo do açúcar. Vamos pensar nisso, vamos tentar evitar e proteger nossos filhos dessa vida muito difícil de luta contra a balança que sempre está em guerra contra a comida e vamos ensiná-los a celebrar a vida e ter confiança no seu corpo para poder avaliar outras coisas além de proteína e carboidrato.
Vamos celebrar a comida e Bon Appetit!
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