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FERRAMENTAS E MÉTODOS: Armadilha, escravidão ou libertação?!

O que leva um COACH a se fixar nos métodos padrão e na utilização intensiva de ferramentas, como um remédio para todas as situações?

Participando da 2ª Jornada de Coaching, patrocinada pelo ICF – Capítulo Bahia, em 17 de novembro, tive a oportunidade de ouvir ótimos palestrantes e relatos de experiências diferenciados, que agregaram muito conhecimento. Em especial, da professora Eliana Dutra, autora do livro: “Coach, o que você precisa saber”, que palestrou sobre a sua trajetória como Coach e discorreu também sobre formatos de abordagem aos Coachees, durante o processo.

Durante sua explanação, chamou minha atenção, em especial, as tendências observadas no mercado de Coaching, hoje inundado de organizações de ensino, muita publicidade em mídias convencionais e redes sociais, oferta de jornadas intensivas e concentradas, com o objetivo de atrair, através de “novas abordagens”, soluções muitas vezes “mágicas”, mas na sua grande maioria, girando sobre a essência dos pressupostos básicos.

Atender aos nossos clientes tende a ser uma jornada única, visto que cada pessoa é uma “viagem”, uma percepção, uma vivência. No entanto, durante a nossa formação como Coach, desde os primórdios como profissional da área, somos levados, até com justa razão, a aprendermos um método, uma sequência, um caminho e uma rota, em detrimento do mapa. E na verdade, nos apegamos, muitas vezes, e temos dificuldades em sair de um caminho “seguro”, para nos aventurarmos no “deixar acontecer”, para ver que reações serão provocadas, através dos encorajamentos adequados.

O que leva a profissionais a se fixarem nos métodos padrão e na utilização intensiva de ferramentas, como um remédio de largo espectro, para todas as situações? A princípio, me parece, que é a justificativa de apresentar ao Coachee, um caminho lógico, como se quisesse preservar uma imagem do técnico que sabe para onde vai. Talvez, e/ou também, não queira aparecer como um guru que flutua sem uma metodologia. Então, torna-se mais fácil, ir por um caminho mais seguro.

Neste processo de Coaching, algumas situações ocorrem e necessitam ser entendidas e tratadas por nós, profissionais da área:

✔️ Medo do silêncio. Para alguns, este momento torna-se desesperador. Sentimos a obrigação de falar algo. É preciso entender que o silêncio, muitas vezes, já é a resposta. Trata-se de um momento necessário, possível, em muitos casos desejável e, não raro, provocado pelo Coach.

✔️ Perigo do tédio com a utilização de um mesmo método e ferramentas. A larga utilização de ferramentas previstas para cada sessão pode nos levar a um “cansaço” após dias, semanas ou em poucos meses, diante da repetição e da falta de treino por outras ferramentas e/ou métodos e por tentar se aventurar por dimensões não tão clássicas ou tradicionais.

✔️ Diminuir a importância do perguntar. O “vício” pode levar o Coach a desfocar de um dos pressupostos mais fundamentais da atividade, a formulação de Perguntas Poderosas, esclarecedoras, investigativas, provocativas e que dão asas à imaginação.

✔️ A obtenção do vício do uso. A frequência de trabalhar com fórmulas pré-definidas encurta o modelo mental do Coach, traz limitações ao deixá-lo na zona de conforto. Ao mesmo tempo que, para um Coachee, pouco experiente, torna-se um modelo de atendimento que, necessariamente, não leva ao sucesso e não explica o que verdadeiramente é um processo de Coaching.

✔️ Salvador da pátria. Nós, os Coaches, como todos os seres humanos, somos falíveis. Embora o estudo, o afastamento crítico, as horas de atendimento, a troca com nossos interlocutores, a prática do despego também de ideias muitas vezes gastas, cansadas, nos habilitam a atender pessoas, que igualmente a nós, anseiam por desenvolvimento. A questões reside na possibilidade do processo, quando vencedor, tornar-se referência, trazendo resultados com determinada rapidez e assertividade, que corremos o risco de sermos vistos não apenas com técnicos emocionalmente preparados, mas como gurus. O que obrigatoriamente devemos rechaçar, sobre o risco de enganos fatais.

✔️ Medo de deixar fluir. Uma das possibilidades do Coaching mais encantadoras e desafiantes é dar voz ao nosso cliente. Dentro dos limites do caminho da construção do objetivo, deixando que o mesmo encontre respostas dentro do seu discurso. Bastam pequenos e bem direcionados estímulos, e aí ocorre o “milagre” do encontro. Deixar que o outro se descubra torna o resultado do trabalho mais saboroso e efetivo, cabendo ao Coach o direcionamento, com baixa intervenção e utilização mínima de ferramentas pré-formatadas.

✔️ Coach do Coach. Logicamente que a simples observação do transcorrer da vida e dos acontecimentos, já é fonte de aprendizado, assim como e, principalmente, a nossa experiência na pratica do Coaching. Porém, torna-se preponderante a necessidade no processo de atualização e verificação de autopercepção, a interlocução frequente com outros profissionais capacitados, experientes, inovadores e com posicionamentos diferentes, se possível. Ainda, muito importante, a eleição de um Coach e a participação de um processo inteiro como Coachee, visando autodesenvolvimento/conhecimento, “colocar-se do outro lado da mesa”, reciclar e criar massa crítica.

Diante das tentativas de percepção das melhores práticas do Coaching, penso que devemos evitar que fórmula, metodologias e ferramentas aprisionem profissionais e clientes. São possibilidades que podem e devem ser utilizadas como facilitadoras, como guias, como trilhas que direcionam, e não como trilhos que limitam e não permitem a expansão ao autoconhecimento.

Creio que a pergunta e a reflexão a ser feita é: A utilização de métodos e ferramentas em larga escala é armadilha, escravidão e/ou libertação?

Ivan Quadros Author
Ivan Quadros é Administrador, Coach, Consultor e Treinador de processos de liderança. É formado em Coaching/Sênior pelo ICI – Integrated Coaching Institute, Coaching de Excelência pela Academia Emocional e Coaching de Grupo pelo IBC. Com mais de 2.500 horas de atendimento em Coaching é Administrador de Empresas, formado pela Universidade Católica do Salvador e Pós-graduado em Recursos Humanos pela Universidade Federal da Bahia. Dirigente de empresas de bebidas, química fina no Polo Petroquímico de Camaçari na Bahia, Superintendente de empresas de saúde, distribuição de medicamentos e área ambiental e Diretor da Sapiens Consultoria há 20 anos, especializado em empresas familiares nas áreas de gestão, comercial, RH e reconstrução empresarial.
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