Meu primeiro contato formal, profissionalmente, com a palavra frustração, foi ao preencher a primeira autoavaliação de desempenho, quando atuava numa grande empresa da área de bebidas, nos idos dos anos 80: “de 0 a 10, como se autoavalia com relação a resistência à frustração”? Até então, nunca havia refletido com maior profundidade sobre o tema ou percebido a importância e a força desta palavra, nem o quanto ela era determinante para a sobrevivência nas organizações, para a qualidade de vida e das nossas relações sociais.
Neste primeiro encontro formal fui obrigado a pesquisar e entender seu verdadeiro significado e extensão: Frustração – substantivo feminino. Tendo a origem na palavra em Latim frustrari, que significa “enganar, fazer errar”, que vem de frustra, que significa “erro, ato feito em vão” – relacionado também com o termo fraus, que significa “mentira”.
Então, Frustração é o ato ou efeito de se frustrar, é o sentimento que acomete uma pessoa quando esta não conseguiu realizar um desejo, uma vontade. Para deixar mais claro, frustração é a reação de uma expectativa que não é correspondida.
Após este entendimento, comecei a perceber o quanto este sentimento permeia nossas vidas e o quanto pode influenciar na forma que vivemos, nos relacionamos, fazemos nossas opções e o quanto este sentimento dá respostas.
Neste nosso mundo materialista e tecnológico, em que, na maioria das vezes, não sabemos a origem das coisas, bem como, apesar dos avançados processos de comunicação, nos afastamos das outras pessoas e, consequentemente dos melhores sentimentos, estamos criando seres com baixíssima resistência à frustração. Nossas crianças, de um modo geral, têm seus desejos atendidos quase que prontamente, com pouca ou nenhuma negociação, muitas vezes para conforto dos pais, uma vez que o juízo crítico não é ensinado.
Muitos pais, como disse anteriormente, para acalmar crianças ou não aborrecê-las, para cumprir um mandato pessoal de dar aos filhos tudo o que não tiveram, ou pensando na “autoestima” das crianças, quando comparadas aos colegas, atendem a todos os desejos declarados e até mesmo àqueles que são desejos dos próprios pais, gerando futuros adultos com alta propensão à frustração.
O que se percebe é a importantíssima necessidade de vivenciar e aprender com a frustação, com a possibilidade de perceber que não se trata de sofrimento, mas de fortalecimento, gerando autoestima, respeito ao próximo, entendimento à hierarquia, atendimento às ordens, desenvolvimento da capacidade de esperar e do adiamento da satisfação por conta de alcançar um objetivo maior. Hoje, a psicanálise, a neurologia, a endocrinologia e ciências associadas entendem a frustração como um bem, uma possibilidade de aprendizado e crescimento.
Mas o fato é que muitas pessoas com baixa resiliência, por conta de poucas vivências com frustrações no decorrer da vida, são lançadas no mercado de trabalho. De um modo geral, pessoas bem formadas, tecnologicamente atualizadas, e que encontram severas dificuldades de convivência e adaptação à cultura organizacional.
Neste momento, mesmo os com baixa resistência à frustração, deparam-se com um mundo corporativo cada vez mais exigente, com demandas de bons colaboradores tecnicamente, mas adaptados ao fit cultural (valores e modelo de gestão próprios) apresentado pelas organizações. Neste ambiente, onde as relações interpessoais e os comportamentos precisam estar alinhados, sem espaço para os “mimimis”, perdem-se potenciais executivos por falta de sintonia e maturidade.
Do outro lado, existe uma pessoa que sofre, sem entender o porquê, e que sente a falta de algo importante, por não ter sua expectativa atendida, podendo tornar-se paciente de diversos problemas físicos e psicológicos. A falta de autoestima e confiança talvez sejam fatores internos gerados pela falta de experiência com a frustração. Mas a possibilidade de reversão deste quadro existe e precisa ser praticada com exercícios diários de fortalecimento, como em uma academia.
Autoconhecimento e autogerenciamento são um bom início. Reconhecer sentir-se frustrado, nos coloca como um juiz atento de nós mesmos, nos chamando à reflexão e ao entendimento do que nos ocorre. Trabalhar a resiliência faz com que retornemos à consciência, de forma otimista e flexível. Aprender com todo evento que se apresenta, como uma oportunidade de mudança e uma chance para fazer diferente, nos auxilia neste passo a passo para transformar o sentimento de frustração em motivação.
Quando se sentir frustrado, lembre-se sempre que:
- O mundo não gira em torno dos nossos desejos;
- Sua vida não é um roteiro fechado, sempre existe espaço para mudança;
- Você tem força de ação para fazer diferente;
- Todo erro é uma oportunidade de aprendizado;
- Nem tudo depende de você;
- Sempre é possível pedir ajuda;
- É importante determinar expectativas realistas;
- Pensar o tempo todo no pior cenário não te leva para frente;
- A frustração pode ser um propulsor de ações positivas.
Fonte: blog virtude.com
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